"Birdman", por Cecília Shamá

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[caption id="attachment_851" align="alignleft" width="300"](Foto: Divulgação) (Foto: Divulgação)[/caption] O mais novo longa do diretor. O plano-sequência final. A película se mostra de forma nova. Construção dos personagens. Contra plongée. Filme afetado. Bazin. Furo no roteiro. Divisão por atos. Motivação. Teatro filmado. Brecht. Eu não vou citar os trabalhos anteriores de Alejandro González Iñárritu, nem citar seus pontos em comum para dar uma de espertinha mostrando como conheço a filmografia do diretor e que ele não vai me surpreender. Não vou usar metáforas bonitas e mostrar como gastei tempo numa graduação audiovisual para entender os mecanismos da imagem cinematográfica. Nem falar da dificuldade que é sequer escrever algo que fique na tela por vinte minutos com alguma significação enquanto cineasta em formação. Quando me sentei já armada para não gostar do fatalismo recorrente do diretor, ele me vem com um filme que não sei definir muito bem. Só sei que gostei. Imagine como seria fácil apenas gostarmos das coisas. O filme é afetado, mas tem suas qualidades. Michael Keaton (que vive o protagonista Riggan Thomson) teve uma carreira medíocre, mas aqui está impecável na defesa da mediocridade e da maturidade de sua atuação, que também chegou com a idade e nasceu com o filme, no qual os bilhões arrecadados por seu personagem precisam ser suprimidos em uma peça em que ele atua, escreve, dirige e produz. Seria eu uma aluna de cinema condescendente ao pensar que crio desculpas para as falhas impossíveis de não notar em Birdman? Absurdo o Cinema não se fazer perfeito, não se encaixar em nossos dedos, não é? Deve haver algo de errado comigo. A bagunça de Birdman funciona como uma espécie de leveza. O teatro filmado e a Arte, com letra maiúscula, proporcionada por mortais a outros mortais torna a vida menos cáustica, e, portanto, mentirosa. Se o homem original, aquele que carrega a alcunha de ser super, maior, superior, à frente de nós comuns humanos pode voar, porque não nossas defesas cinematográficas? Birdman é uma comédia pelo simples fato de que a raça humana se leva tão a sério que nem precisamos de muito para sermos ridículos. E, para tentar provar seu talento para os críticos e se reinventar, é preciso sangue para ter crédito, literalmente. Portanto, assistir a filmes se tornou uma categoria submissa a tudo o que vem antes. Criticar arte virou uma literatura cética. E se você deseja criar, além de resenhar ou criticar cada peça de arte, de todas as espécies de artes, será apontado como um crítico que vende o filme, ou que vende a grande arte da escrita que domina. E, ao final de alguns textos, você pensa: vale a pena viver e praticar a crítica nas diferentes esferas artísticas, se funciono como o Google tradutor das resenhas de cinema, onde posso prever minhas palavras chaves lá no alto, redundantes, imparciais, técnicas, coerentes, que dissecam os filmes como cadáveres e retiram a alma deles?  Somos necrófilos textuais do Cinema com maiúsculas. Somos sérios. Leveza do caos. Birdman se constrói narrativamente assim. Se o filme por vezes suspende as falas dos atores para colocar uma música ambiente de elevador, em choque com o jazz da rua, o faz para dar o recado da suspensão do cinema. Do filme. Do teatro dentro do filme. Do antigo Batman vestido na fantasia de Homem Pássaro após vinte anos. Do fatalismo ridicularizado pelo próprio diretor, que riu de si mesmo, de nós e do Cinema. Da vida. E que dessa vez me fez rir com ele e acreditar que, ao contrário de Ícaro, que se atreveu a chegar perto do sol e teve suas asas cortadas, por querer ser mais do que humano, eu também acredito na capacidade dos filmes flutuarem através da minha consciência de crítica de cinema. Que Birdman não tenha suas asas podadas por se atrever a se aproximar do sol. *Cecília Shamá é estudante de Cinema da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)  

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