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Por Rodrigo Vianna
A prisão arbitrária de Lula, da maneira como ocorreu (sob comando simbólico do ex-presidente e não do juiz Moro), agravou a situação para os gestores do Golpe.
Há vários sinais disso:
- na guerra de símbolos, a principal imagem da prisão foi Lula cercado pela multidão, e não Lula algemado;
- na batalha das redes, relatórios indicam que as tags a favor de Lula ganharam de lavada, numa proporção de 3 x 1;
- nas ruas, especialmente nas periferias dos grandes centros e no Nordeste, espalha-se como rastilho de pólvora ideia de que Lula é vítima de uma injustiça;
- a Bolsa caiu e o dólar disparou após a prisão.
Diante desse quadro, os golpistas já dão como certo que terão de entregar algumas cabeças "do lado de lá": o primeiro da fila é Temer; mas depois dele devem vir Aécio (e talvez até Alckmin, que pode ser abatido em pleno voo de sua amênica pré-candidatura).
Desde o ano passado, escrevi aqui que havia uma divisão tática entre os golpistas: de um lado o campo político (PSDB/PMDB), de outro o Partido da Justiça (Lava-Jato e Globo, agora reforçados pela pressão militar).
O Partido da Justiça não conseguiu derrubar Temer ano passado após o caso JBS, o que permitiria "limpar" o golpe - como escrevi um ano atrás (clique aqui para ler o texto do ano passado).
Agora, o roteiro é retomado e deve seguir o seguinte script...
A terceira denúncia para derrubar Temer já está pronta. Ele deve ser rifado (para que se amenize discurso de que só Lula é perseguido), agora que deputados já não parecem dispostos a oferecer seu pescoço para proteger um presidente desmoralizado.
Na sequencia, teríamos eleição indireta indireta - com escolha de alguém do Judiciário pra presidência (Rodrigo Maia acha que ele seria o nome, mas a Globo e o "mercado" querem Cármen Lúcia ou alguém com a marca da "antipolítica" - não é à toa que Carmen tenha seguido tão à risca as determinações da família Marinho durante o julgamento do HC de Lula).
Essa operação permitiria "limpar" o golpe. Esse novo presidente mais "limpo" teria mais moral (?) para apoiar a PEC que permitiria adiar eleição pra 2020. Não é possível adiar eleição sob a batuta do desmoralizado presidente atual.
Tudo isso serie feito em nome da "pacificação" do país. Mas o motivo verdadeiro é outro: mantida a polarização atual, Bolsonaro e um candidato da esquerda se enfrentariam no segundo turno.
Esse presidente "limpo" teria também a tarefa de aprofundar a agenda liberal na economia, mantendo o discurso de "ordem e Justiça".
Esse é o plano que parece se delinear do lado de lá.
Com isso, o país vai explodir (ou implodir?).
Nas ruas, ouço muita gente a dizer que o "troco" viria nas eleições (esse "troco" significa apoio a Bolsonaro ou a quem Lula apoiar). Sem o "troco" institucional, resta o que? Caos,desordem, anomia.
O STF tem mais uma vez a chance de botar freio de arrumação no Partido da Justiça (sim, há 5 ou talvez 6, ministros do STF propensos a impedir o caos de uma ditadura da toga). Mas a pressão midiática e militar joga a favor do aprofundamento do golpe.
É um quadro já grave, mas o fundo do poço parece não ter sido atingido ainda.
Aos setores populares, se o golpe se aprofundar com adiamento das eleições, restaria jogar fora da institucionalidade. Ninguém está falando aqui de guerrilha, mas de um Congresso do Povo - uma dualidade de poderes, diante da falência múltipla dos órgãos democráticos. Haveria força pra isso?
Mais uma vez, espero estar errado. Mas parece um quadro sem precedentes de desordem e caos político.
Só há uma liderança capaz de pacificar o país. Mas essa liderança está agora trancada na jaula do juiz das camisas negras, em Curitiba.
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P.S. - Há também a possibilidade de o plano golpista ficar pela metade: Temer derrubado, mas com eleição mantida; isso seria possível se a direita conseguir viabilizar um candidato ou então (quadro mais terrível) domar Bolsonaro e apresentar o militar como "candidato do mercado". A ver...
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