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Por Patricia Faermann, do Jornal GGN
A lista de nomes de mais de 100 mil correntistas da filial do HSBC em Genebra, que construiu uma indústria de lavagem de dinheiro, intermediada por empresas offshore como forma de fugir da fiscalização dos países de origem, está correndo pelo mundo. Aos poucos, cada uma das pessoas e entidades estão sendo reveladas. França, Espanha, Suíça, Dinamarca, Índia, Angola, Bélgica, Chile, Argentina, e outros países, divulgam reportagens detalhadas a cada dia, com novas informações. Menos o Brasil.
O primeiro jornal a ter conhecimento foi o francês Le Monde. Ele teve acesso aos dados secretos de uma investigação iniciada em 2008, pelo governo da França, por meio de informações vazadas do ex-funcionário do HSBC, franco-italiano especialista em informática, Hervé Falciani.
Percebendo que o esquema envolvia mais de 200 países, o Le Monde decidiu compartilhar todo o material com o ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), uma rede que integra 185 jornalistas de mais de 65 países, que investigam casos em profundidade. Do Brasil, são cinco membros: Angelina Nunes, Amaury Ribeiro Jr., Fernando Rodrigues, Marcelo Soares e Claudio Tognolli.
Os cinco, portanto, teriam acesso à considerada maior base de investigações fiscais do mundo, até hoje, de posse inicial do Le Monde. Nesses arquivos estão os nomes, profissões e valores de ativos de todos os clientes da filial do HSBC na Suíça. O ponto fraco dos documentos é delimitar quando houve indícios de participação de ilegalidades, uma vez que não é proibido ter uma conta bancária na Suíça. Estão incluídos nomes da realeza, figuras públicas, políticos, celebridades, empresários.
O ICIJ formou um grupo menor de jornalistas para investigar os documentos do projeto denominado como Swiss Leaks. Participam todos os países do Consórcio. Do Brasil, Fernando Rodrigues, do Uol, é o único que tem em mãos as apurações dos clientes brasileiros.
Até o momento, as informações divulgadas pelo ex-repórter da Folha de S. Paulo são de que os dados do HSBC indicam 5.549 contas bancárias secretas de brasileiros, entre pessoas físicas e jurídicas, em um saldo total de US$ 7 bilhões. Nenhum nome. Fernando Rodrigues explica que entrou em contato com autoridades brasileiras, para saber se há ilegalidade nessas operações bancárias, ou se os valores foram declarados à Receita. E que estaria desde novembro aguardando a resposta.
Essa desculpa não bate com o histórico do jornalista. O fato de divulgar a existência da lista e segurar os nomes dá margem a toda sorte de interpretações.
Enquanto isso, o jornalista investigativo argentino, Daniel Santoro, também membro do ICIJ,publica nomes e sobrenomes: os empresários Juan Carlos Relats, Raúl Moneta, e pessoas próximas ao governo, como o grupo Werthein. Os chilenos Francisca Skoknic e Juan Andrés Guzmán, também jornalistas, divulgam os conhecidos de alto patrimônio local: Andrónico Luksic, José Yuraszeck, Ricardo Abumohor, Óscar Lería, Álvaro Saieh, José Miguel Gálmez e o clã Kreutzberger, com filhos e parentes do apresentador de televisão “Don Francisco”.
“O Instituto de Religiosas de San José de Gerona chegou a ter 2,7 milhões na Suíça”, foi aúltima manchete do jornal espanhol El Confidencial, que horas antes também publicou que a família de empresários Prado figuravam na lista. Nas reportagens, o jornal indica: “a lista Falciani foi descoberta”.
Da Bélgica, o Mondiaal Nieuws mancheta: “entre os 722 belgas da lista do HSBC, estão novamente um monte de diamantes industriais bem conhecidos e descendentes de famílias nobres”. A mesma linha segue o folhetim indiano The Indian Express: “77 dos 1.195 indianos na lista suíça do HSBC estão ligados à indústria de diamantes. O jornalista Appu Esthose Suresh viajou à Mumbai para descobrir como uma pequena empresa familiar controla a indústria”.
O Paraguai denunciou o próprio presidente Horacio Cartes, que tem uma conta na filial do banco na Suíça. Egito, Dinamarca, Rússia, os países não param. O que pode ser o maior esquema de rombo fiscal está paralisando o noticiário mundial.
No Brasil, o jornalista que poderia trazer as melhores investigações publicou quatro reportagens em sua página do blog. Três delas (aqui, aqui e aqui) são a tradução de artigos de outros jornalistas estrangeiros, sem nenhuma referência ao que ocorre aqui, e quem está envolvido.
Na quarta reportagem, enquanto aguarda a resposta das autoridades brasileiras, Fernando Rodrigues deu espaço a dados latino-americanos: “na América Latina, nacionais de vários países estão na lista do HSBC. (...) O saldo total máximo mantido nessas contas secretas de latino-americanos ultrapassa US$ 31 bilhões”.
O Brasil figura como o 9º no ranking de países com a maior remessa de dólares, de acordo com os arquivos vazados da Suíça. A quantia máxima de dinheiro associada a um cliente ligado ao Brasil foi de US$ 302 milhões. Foram abertas 5.549 contas de clientes brasileiros entre 1970 e 2006. Essas informações estão no site do ICIJ.
Os documentos ainda mostram que 8.667 clientes são vinculados ao Brasil. Destes, 55% tem um passaporte brasileiro ou a nacionalidade. No gráfico, é destacada a distribuição entre os tipos de contas: 70% numeradas, 10% contas vinculadas a companhias Offshore, e 20% vinculadas a uma pessoa.
As investigações, partindo de jornalistas pelo mundo, está permitindo recuperar centenas de milhões de dólares em impostos não pagos.
Como bem frisaram os jornalistas chilenos Francisca Skoknic e Juan Andrés Guzmán, “o interesse em divulgar o conteúdo destas contas não é baseado na curiosidade em conhecer os segredos dos milionários. Este projeto de jornalismo internacional – que participam mais de 140 jornalistas de 45 países – busca trazer luz sobre o dinheiro depositado na Suíça, uma jurisdição utilizada pelo alto sigilo sobre os ativos, que os protege e, em particular, sobre os clientes do HSBC, o banco que já foi objeto de uma investigação do Senado dos EUA que revelou que tem sido usado para proteger os fundos de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas, entre outras irregularidades. Além disso, um grande número de contas – incluindo as de muitos chilenos – estão ligados ao uso de empresas sediadas em paraísos fiscais, uma das maneiras mais comuns de esconder quem são os verdadeiros donos”.