Temos que salvar Neymar de nós mesmos, jornalistas

Por Paulo Nogueira: Nós, jornalistas, estamos destruindo Neymar. Claramente o superestimamos, e ele parece acreditar nas pataquadas superlativas que dizemos dele. Neymar é um grande talento, mas não é um fenômeno. Se a máscara tomar nele o lugar que deveria ser da dedicação humilde, e com nossa adulação bovina nós contribuímos para isso, Neymar terminará como Ronaldinho Gaúcho antes dos 25 anos.

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Por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo Nós, jornalistas, estamos destruindo Neymar. Claramente o superestimamos, e ele parece acreditar nas pataquadas superlativas que dizemos dele. Neymar é um grande talento, mas não é um fenômeno. Se a máscara tomar nele o lugar que deveria ser da dedicação humilde, e com nossa adulação bovina nós contribuímos para isso, Neymar terminará como Ronaldinho Gaúcho antes dos 25 anos. Será um Neymarzinho Santista. Jogadores extraordinários têm desempenhos extraordinários em situações extraordinárias. Essa é a lei básica dos craques. Nas decisões, nos grandes jogos, ele simplesmente irrompe. É como Bolt no atletismo: ele apanhou de seu compatriota Yohan Blake em provas secundárias, neste ano. Mas em Londres, nas Olimpíadas, transformou Blake num aprendiz. Neymar contra o Barcelona, Neymar contra o Corinthians na Libertadores, Neymar hoje contra o México: em todos esses casos, Neymar foi um a mais. “Ele tem que provar muito ainda”, disse um comentarista da BBC. É verdade. Mas nós o colocamos, muito antes do devido, na condição de quem já provou tudo. Oscar não corre este risco porque vai jogar no Chelsea. Fizemos de Oscar o que ele jamais foi, uma espécie de novo Sócrates. Mas Oscar, pelo menos por enquanto, nem sequer é Raí, o irmão menos brilhante de Sócrates. Não define como Sócrates, não lidera como Sócrates, não arma como Sócrates. Em comum, a perna direita, o porte ereto e a posição. Se ele jogar no Chelsea o que jogou nas Olimpíadas, vai ser reserva. A imprensa inglesa é bem menos indulgente com os jogadores que nós, jornalistas brasileiros. Também somos míopes. Não percebemos ainda que o caso de sucesso esportivo do Brasil passou, já há anos, do futebol para o vôlei. Temos, sistematicamente, bons resultados no vôlei em competições internacionais – homens e mulheres, quadras ou areia. Temos dois anos, antes da Copa de 2014, para tentar aprender com o vôlei. Uma das diferenças é clara: os jogadores e as jogadoras de vôlei não são estragados, como filhos mimados, por nós, jornalistas, e nossa mania de endeusar quem, como Neymar, não merece ser endeusado.