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[caption id="" align="alignnone" width="410" caption="Grupo “Revolução Tunisiana” convocou manifestação neste domingo contra governo provisório de Mohamed Ganouchi, ligado ao ex-ditador Ben Ali, “para corrigir o curso da revolução""][/caption]
Tunísia: em busca de um novo rumo
Viviane Vaz, de Jerusalém, na CartaCapital
A revolução na Tunísia ainda não terminou. Neste domingo, às 11h, o Teatro Municipal da capital Túnis foi o ponto de partida de mais uma marcha para exigir a renúncia do governo de transição do premiê Mohamed Ganouchi, vinculado ao regime do destituído presidente Zine El Abidine Ben Ali –que estaria em coma desde terça-feira. “Vamos nos manifestar porque o governo de transição está passando dos limites e fazendo o que bem entendem”, disse uma cidadã tunisiana à Carta Capital, via internet. Em francês e árabe, o grupo denominado “Revolução Tunisiana” convocou pelo facebook a presença de todos os cidadãos como “um dever nacional e sagrado para corrigir o curso da revolução”.
A marcha seguiu com cerca de 40 mil pessoas pela avenida Habib Bourguiba, umas das principais da capital, e se concentrou em frente ao gabinete de Ganouchi. A polícia disparou para o alto num intento fracassado de dispersar a multidão. “Não queremos amigos de Ben Ali”, gritaram os manifestantes. O país do norte da África está em estado de emergência desde a queda de Ben Ali em janeiro e o ministro do Interior recordou no sábado que os protestos públicos estavam proibidos e que os participantes poderiam ser presos.
Os manifestantes consideram o governo provisório “ilegítimo” e exigem a formação de uma assembléia constituinte que garanta a declaração de uma república parlamentar e secular. Eles repudiaram com outra marcha, no sábado, o assassinato do padre polonês Marek Rybinski, de 34 anos; os ataques verbais contra judeus no país; e a tentativa de um grupo de muçulmanos de incendiarem na sexta-feira a rua Abdallah Guech, local de trabalho de prostitutas.
Uma das exigências populares –a anistia geral para os presos políticos– foi atendida por Ganouchi. “O presidente interino assinou neste sábado um decreto lei relativo à anistia geral, que permitirá a todos aqueles que foram presos ou julgados por crimes de direito comum em função de suas atividades políticas ou sindicais beneficiarem-se da anistia”, afirmou o governo por meio de comunicado oficial. Outro gesto para se aproximar dos tunisianos partiu do Ministério de Relações Exteriores do país, que pediu ontem à Arábia Saudita a extradição de Ben Ali –acusado de “vários crimes graves”. As autoridades de Túnis também solicitaram ao governo de Riad informações sobre o estado de saúde ou “a eventual morte” do ex-ditador.
“O governo vai emitir resoluções, estabelecer diálogos e oferecer pacotes completos para ganhar a confiança das pessoas”, disse ontem com desconfiança Bilel Balbouli, um dos participantes do forum online da Revolução Tunisiana. Além da redação de uma nova Constituição e a dissolução do atual Congresso, demandas que ainda não foram atendidas, os revolucionários pleiteiam também uma reformulação da Lei de Imprensa, a revisão do sistema eleitoral e a separação dos Poderes na Tunísia.
Em janeiro, Ganouchi irritou a população e seus opositores políticos ao manter no governo de transição ministros do antigo regime de Ben Ali, que se manteve 23 anos no poder. O partido de oposição FDLT desistiu de participar do governo de união nacional de Ganouchi, assim como os ministros indicados pela central sindical tunisiana (UGTT). Ainda não há uma data certa para a realização das eleições, prevista julho ou agosto.