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Felipe Carrilho
Ronaldo desenvolveu uma frieza, na hora de fechar contratos com clubes e patrocinadores, parecida com a que sempre demonstrou quando estava na cara do gol nos melhores momentos de sua vitoriosa carreira.
Sua trajetória esportiva é extraordinária, mas nada pode ser mais ordinário do que ficar retomando-a agora. Interessa-nos, assim, o Ronaldo para além das quatro linhas, exemplificado, como em poucas vezes, na coletiva que marcou o encerramento de sua vida de boleiro.
Mais do que um grande jogador, Ronaldo é um índice preciso do estado das coisas no futebol mundial, o jogador-empresa cristalizado. Ao encadear, com a voz embargada, lembranças de seus feitos futebolísticos e agradecimentos aos seus patrocinadores no anúncio de sua despedida, o jogador explicitou isso claramente. A emoção estava ali, natural ou provocada, mas a serviço do pragmatismo do empreendedor do futebol (ou embaixador do Corinthians) em que Ronaldo se transformou.
Compreender a figura histórica de Ronaldo passa, necessariamente, por analisar as transformações do esporte nas últimas décadas, com a gradual fusão da paixão do torcedor com o interesse do consumidor, o que no Brasil tem sido chamado de elitização do futebol.
No entanto, haverá aqueles que preferirão se perguntar se a torcida do Corinthians antecipou o fim de uma carreira fenomenal, se há ou não hipotireoidismo, ou coisa que o valha.
Felipe Carrilho é historiador e autor do livro "Futebol, uma janela para o Brasil - As relações entre o futebol e a sociedade brasileira"