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Por Igor Felippe Santos
Faz 20 anos que sou torcedor do Corinthians. Tenho muito orgulho da minha escolha. Ainda criança, assumo que tinha simpatia pelo São Paulo. Era naquela idade em que filho copia tudo do pai. Nesses tempos, eu era muito criança e não gostava muito de futebol. Nem do São Paulo.
Minha paixão pelo futebol, na verdade, começou quando me tornei torcedor do Corinthians. Foi em 1990, logo depois de nos transformarmos em campeões brasileiros, com o gol muito sofrido do Tupãzinho, de carrinho, contra o São Paulo.
A festa foi espetacular, porque o Corinthians demorou para ganhar o primeiro campeonato brasileiro, com 80 anos nas costas. A vida não é fácil para os torcedores do Timão. No fundo, as demoras fazem com que os títulos ganhem uma dimensão ainda maior, que engrandece a história do clube.
Foi marcante para mim a rivalidade com o Palmeiras na primeira metade da década de 90. Essa quente disputa transformou aquela geração de meninos de 10 anos em torcedores fanáticos, ainda mais com os clássicos espetaculares pelos títulos dos paulistas e brasileiros.
Para piorar, além da rivalidade, a nossa turma do colégio começou a jogar bola e meus amigos mais próximos eram corintianos. Aí não tem mais jeito: o futebol deixa de ser uma mera diversão e passa a ser a razão de vida. É jogar bola e ver os jogos do Timão.
Os porcos tinham um time muito forte, técnico, habilidoso e criativo, com Antônio Carlos, Cléber, Roberto Carlos, César Sampaio, Zinho, Edmundo e Evair, treinado por Vanderlei Luxemburgo. A equipe do Corinthians era raça, que encarnava especialmente em Ezequiel e, logo depois, em Zé Elias.
Na verdade, ao olhar pra trás e analisar as escalações, o time do Palmeiras era melhor. Muito superior. Mesmo assim, o Timão equilibrava com um esforço sobrenatural dos jogadores. Um exemplo é o gol do ídolo Viola, na final do Campeonato Paulista de 1993, que deu uma voadora no ar para alcançar a bola. Era a raça corintiana.
Magia
O primeiro jogo que assisti no estádio foi Corinthians e Flamengo, em 3 de setembro de 1994, no Pacaembu. Vitória do Timão, gol de Souza, com um chute colocado de fora da área, sem chances para o goleraço Gilmar. Abro parênteses: embora eu guarde o gol na memória, encontrei as imagens depois de uma busca no Youtube. Mais de 40 mil corintianos estavam no estádio. Foi marcante e inesquecível.
O futebol tinha uma magia naquela época que se perdeu. Talvez seja por conta de um olhar saudosista, a partir das lembranças construídas na cabeça de criança, mas tenho essa impressão. A maioria dos grandes ídolos jogavam no Brasil e o futebol não tinha passado por esse processo de mercantilização. É só lembrar que o Timão tinha apoio de grandes empresas transnacionais, com o patrocínio da papelaria da Vila Mariana Kalunga e fornecimento de materiais esportivo pela Finta...
De lá pra cá, o Corinthians passou pelo melhor período da sua história, ganhando os títulos mais importantes. A principal característica dos times também mudou. Marcado predominantemente pela raça, o Timão montou nos últimos tempo equipes técnicas, fortes e equilibradas. Sem abandonar a raça, claro.
Nessa trajetória, os títulos não vieram sem derrotas. E tristezas. Em 1997, depois da derrota para o Palmeiras na Libertadores, caí no sofá de casa e chorei compulsivamente. Não tenho registro de outro momento em que eu tenho derrubado tantas lágrimas.
Do mesmo sofá onde chorei essa derrota – e comemorei muitas vitórias -, escrevo sem ter medo de errar, com muito orgulho: o Corinthians é o clube mais brasileiro. Viva o Corinthians pelos seus 100 anos! Parabéns a todos os corintianos e amantes da magia do futebol.
Igor Felippe Santos é jornalista, editor da Página do MST, integrante da Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária e do Centro de Estudos Barão de Itararé.