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Colômbia: Esquerda não se vê refletida em nenhum dos candidatos
por Clarissa Pont, do jornal Sul21
Para o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e representante do Comitê de Solidariedade ao Povo Colombiano no Brasil, Félix González, a oposição colombiana não votará por nenhum dos dois candidatos que vão ao segundo turno das eleições colombianas. Segundo ele, “em uma sociedade colombiana manipulada, com a informação limitada pelos poucos meios de comunicação que restam, todos uribistas, a postura de um presidente brigão, estilo Uribe, chega a ser orgulho ridículo de muitas pessoas. E dá munição para que essas pessoas estejam a favor da implantação de bases militares norte-americanas”, explica. Em entrevista Félix monta um interessante parecer sobre a situação do país frente as eleições.
Juan Manuel Santos está sendo acusado de fraudar as eleições no primeiro turno e existem rumores de que isso se repetirá no segundo turno. A informação se confirma? Esta prática pode ser considerada comum nas eleições no país?
Na Colômbia sempre existiu a prática do "caciquismo" (venda de votos), inicialmente com liberais e conservadores, que levam de cabresto os seus eleitores seja pela ameaça, seja pela chantagem de favores. Hoje, são os grupos paramilitares, muito fortalecidos durante o governo Uribe, os encarregados dessa prática. Muitas são as denúncias de fraudes que acabam engavetadas pelos organismos públicos.
Qual é a visão da esquerda colombiana em relação ao ex-prefeito de Bogotá Antanas Mockus, do Partido Verde? A administração da cidade durante sua gestão foi exitosa?
O professor Antanas Mockus veio de páraquedas para o Partido Verde sem nunca ter feito nenhum ação a favor de meio-ambiente. Um inexpressivo partido, que chegou a ser conhecido pelo seqüestro por parte das FARC da sua anterior candidata a presidente, Ingrid Betancurt. Mockus foi reitor da Universidade Nacional, a maior universidade pública colombiana e depois despontou como prefeito de Bogotá, eleito quando o povo cansou dos partidos tradicionais. Fez uma administração razoável, muito saturada de campanhas cidadãs, mas com uma carga neoliberal pesada, que se manifestou com as privatizações de empresas públicas.
Aliou-se com Sergio Fajardo, ex-prefeito de Medellin que teve uma administração similar à de Mockus, saindo com bastante popularidade. Entretanto, Mockus e Fajardo, apesar de não estarem contaminados com o paramilitarismo, não podem ser tratados nem de longe como de esquerda e nem sequer de oposição à política uribista. Depois do primeiro turno das eleições, o Pólo Democrático Alternativo, a oposição de esquerda unida, tentou um acordo programático de apoio a Mockus no segundo turno, mas não houve consenso em nenhum dos pontos propostos pelo Pólo, entre eles revisar o acordo da implantação das bases militares norte-americanas, a negociação com os grupos guerrilheiros, o acordo humanitário de troca de prisioneiros e a necessidade de uma reforma agrária radical e urgente. Enfim, as agendas dos dois atuais candidatos têm tudo em comum. Assim, o Pólo convocou a oposição a não votar por nenhum dos candidatos, apostando no voto em branco.
Como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia lidam com o pleito? Existem correntes que acreditam que as Farc deveriam participar do jogo político?
As Farc convocam à abstenção ativa, termo confuso que não leva a nenhuma mobilização. Na prática a abstenção não leva a nada, ainda mais que tradicionalmente os eleitores colombianos não gostam de participar nos processos eleitorais. O índice histórico de abstenção está entre 50 a 60%. O Pólo Democrático está chamando ao voto em branco. Quanto à guerrilha participar em política, depois da última tentativa, em 1984, quando da criação da União Patriótica e o posterior genocídio desse grupo, cinco mil assassinados em seis anos, não se cogita participar como oposição legal.
Qual a expectativa caso cada um dos candidatos ganhe?
Como está escrito em um muro de Bogotá, a oposição colombiana não votará por nenhum dos dois candidatos que vão ao segundo turno das eleições colombianas para presidente. Santos, favorito nas pesquisas, é fiel herdeiro da política de "sangue e fogo" de Uribe. Santos foi ministro de Defesa e aplicou golpes sérios às Farc, resgatou Ingrid Betancurt e aos americanos em poder das Farc há cinco anos. Mas impulsionou a política dos "falsos positivos" (jovens recrutados para trabalhar e depois assassinados e fantasiados de guerrilheiros para dar a entender que o exército os abatia em combates), bateu boca com os presidentes do Equador, da Nicarágua e da Venezuela.
Numa sociedade colombiana manipulada e com a informação limitada pelos poucos meios de comunicação que restam, a postura de um presidente brigão, estilo Uribe, chega a ser orgulho ridículo de muitas pessoas que acreditam que esses chefes de estados esquerdistas estão querendo agredir a Colômbia militarmente.E dá munição para que essas pessoas estejam a favor da implantação de bases militares norte-americanas, porque "defenderiam o país dos potenciais agressores comunistas".
Não se enxerga a miséria em que a Colômbia está submersa por conta da guerra. Os recursos públicos vão, na sua maioria, para alimentar a guerra contra a guerrilha. A classe média pode sair a passear nos feriados pelas estadas livres de guerrilheiros e adoram Uribe por causa disto. Dane-se a saúde e a educação públicas completamente privatizadas, danem-se os quatro milhões de camponeses deslocados, os sindicalistas assassinados, os comunistas assassinados pelos paramilitares e os milhões e milhões de colombianos ameaçados por expressar sua desaprovação contra a política uribista de guerra. Dane-se o congresso nacional com um terço dos congressistas provenientes de grupos paramilitares, danem-se os jornalistas que denunciam a corrupção. Uribe é visto como o deus que teve a coragem de fazer recuar os subversivos