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por Felipe Carrilho
A decisão da CBF de unificar os títulos nacionais, considerando os disputados no período entre 1959 e 1970 é, sem dúvida, anacrônica. E não estamos empregando aqui o termo com o seu sentido cotidiano, como sinônimo de retrocesso ou de atraso. Anacronismo é, resumidamente, o movimento de transportar valores, ideias ou instituições do presente para tempos passados.
É justamente o que fez a CBF ao equiparar os títulos da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa com os do Campeonato Brasileiro, organizado a partir de 1971. Ora, dizer que o Palmeiras e o Santos conquistaram oito títulos brasileiros é o mesmo que proclamar, oficialmente, Dom Pedro o primeiro presidente da República do Brasil.
Uma coisa é discutir a história do futebol no País, valorizando os torneios do passado em correspondência com o período histórico em que foram disputados, outra é inventar um discurso histórico oficialesco com uma canetada. A memória futebolística brasileira não precisava disso.
Ademais, se fôssemos aprofundar o argumento anacrônico da entidade que rege o futebol nacional, teríamos de colocar na pauta do dia a oficialização dos vencedores do antigo Torneio Rio-São Paulo como campeões brasileiros, o que seria um absurdo ainda maior, claro, embora absolutamente coerente com a medida adotada.
Esta coluna tem procurado enfatizar as profundas relações entre futebol, sociedade, cultura e política. Mas nesse caso parece que estamos a tratar de mera politicagem. Os grandes clubes do Brasil não precisam de artifícios como esse para ver as suas glórias reconhecidas. Muito menos Pelé, depois de tantas vitórias esportivas legítimas e de todas as homenagens aos seus 70 anos de vida, precisava estampar o peito com 8 medalhas postiças, que nada mais fazem do que arranhar a sua imagem fora das quatro linhas.
Felipe Carrilho é historiador e autor do livro “Futebol, uma janela para o Brasil – As relações entre o futebol e a sociedade brasileira”.