DIÁRIO DA CHINA

Literatura brasileira na China e literatura chinesa no Brasil

Pinceladas sobre o intercâmbio literário entre dois gigantes

Créditos: Reprodução internet - Paulo Coelho e o autor brasileiro mais vendido na China e tem 12 títulos publicados em mandarim.
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Durante meus passeios por Beijing, sempre que passo por uma livraria eu tenho o hábito de entrar para dar uma olhada. Apesar da barreira do idioma, os livros seguem sendo meus objetos favoritos e não perco a oportunidade de folheá-los, nem que seja para admirar as figuras e a diagramação. 

Afinal, os chineses leem livros brasileiros? Sim! Entre os nossos autores, o mais vendido é o Paulo Coelho, publicado aqui na China pela editora Thinkingdom Media Group. Ao todo, 12 livros do ex-parceiro de Raul Seixas estão traduzidos para o mandarim, entre eles O diário de um mago, O Aleph, O Alquimista, O demônio e A senhora Prim. Em abril deste ano, inclusive, Coelho esteve pela primeira vez na terra de Mao Zedong para divulgar suas obras.

O segundo escritor brasileiro mais popular entre os leitores chineses é o autor de livro infantil Ilan Brenman. Ele tem dois títulos em mandarim e, entre os autores infantis, é o melhor colocado. As obras do autor disponíveis na China - Papai é meu! e Pai, todos os animais soltam pum?) fazem parte do catálogo da Editora Moderna, da qual Brenman é autor exclusivo. A previsão é que mais três obras do autor (Mãe-Alto Falante, Famílias e Você não vem brincar?) desembarquem na China ainda esse ano.

Mas a presença brasileira nas estantes chinesas vai além e inclui, entre outros, Jorge Amado com Tenda dos milagres e A morte e a morte de Quincas Berro d’Água; Clarice Lispector com A hora da estrela; José Mauro Vasconcelos com Vamos Aquecer o sol; Doidão e Rosinha, minha canoa; Flávia Lins e Silva com Diário de Pilar na Amazônia; Diário de Pilar no Egito; Diário de Pilar na Grécia; e Caderno de Viagem de Pilar; e Adriana Lisboa, com Azul-corvo e Sinfonia em Branco.

Uma das formas de incentivar a exportação da literatura brasileira tanto para a China quanto para outros países é o Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior, que neste mês de agosto completou 31 anos de existência.

A iniciativa da Fundação Biblioteca Nacional, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores, vai contemplar dezessete projetos de tradução e publicação na primeira seleção de 2022. As editoras premiadas representam doze países de três continentes: China, Argentina, Áustria, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Hungria, Macedônia do Norte, Peru, Polônia, Portugal e Romênia.

A despeito da guerra contra a cultura perpetrada pelo atual mandatário do Brasil, para quem livro é supérfluo e deve ter mais ilustrações e menos conteúdo, é digno de celebração que uma iniciativa dessas não tenha sido encerrada. 

Para além de compartilhar as obras da literatura brasileira com os leitores chineses, é preciso considerar que a China é o segundo maior mercado editorial do mundo, fica atrás apenas dos EUA. Já o Brasil ocupa a 13a do ranking dos maiores mercados de livros do mundo. Esses dados são do projeto BookMap.org

A outra mão desse intercâmbio, livros de autores chineses em português, também é uma ótima forma de compreender melhor essa civilização milenar. A época clássica da literatura chinesa corresponde à época clássica da literatura grega e romana. A origem data do século VI ao IV a.C. no período da Dinastia Chou (c.1027-256 a.C.). Desta época, são as obras de Confúcio, Mêncio, Laozi (Lao-tsé), Zhuangzi e outros grandes filósofos chineses. Culminou com a recompilação dos chamados cinco clássicos, ou clássicos confucianos, além de outros tratados filosóficos.

Há vários autores chineses traduzidos para o português brasileiro. Como Gao Xingjian, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2000 em razão do "espírito de validade universal, insights amargos e engenhosidade linguística, que abriu novos caminhos para o romance e o drama chinês”. Uma das obras mais conhecidas dele é A montanha da alma, inspirada por uma viagem pela China moderna feita pelo escritor.

Outro ganhador do Nobel de Literatura, Mo Yan ficou conhecido pelo estilo realista que mescla contos populares, história e contemporaneidade. Recebeu o prêmio em 2012 pelo aclamado livro As Rãs, um romance sobre a política do filho único na China. A forma de escrever dele é constantemente comparada à do colombiano Gabriel Garcia Marquez.

Os brasileiros contam ainda com o livros de um dos grandes escritores chineses, Lao She que é conhecido pelo uso constante do dialeto tradicional de Beijing. Ele é autor do clássico O Garoto do Riquixá, publicado originalmente em 1937. A história é ambientada na capital chinesa dos anos 1920 e fala da utopia da cidade grande, que alimenta a esperança de uma vida melhor.

O escritor contemporâneo Ma Jian tem obras traduzidas para o português brasileiro e está entre os autores responsáveis pelo aumento da disseminação da literatura chinesa na sociedade ocidental. Autor de Pequim em coma, considerado uma obra-prima que retrata os protestos estudantis na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) e fala sobre uma China em transformação.