Depois de bravatas tresloucadas enquanto estava na ativa, Mourão (agora na reserva), decidiu ser um senhor sutil, mas afiado como um bisturi. Hoje cedo (03), declarou, quando questionado sobre a posição do governo nas eleições americanas:
“Neutra, lógico. Não temos nada a ver com as questões internas americanas. Isso é princípio constitucional nosso. A gente não admite ingerência nos nossos assuntos internos e também não fazemos nos assuntos internos dos outros"
Reparem no “princípio constitucional”. Só que nosso “pacato” general não parou por aí e encaçapou a bola com uma tacada ainda mais precisa, ao responder sobre a torcida do presidente Jair Bolsonaro por Trump:
"Isso é bobagem. Opinião pessoal dele. Se bem que, quando o presidente fala, ele fala por todos do governo”.
Agora vamos para a lei 1.079, no seu Art. 5º, que diz:
São crimes de responsabilidade contra a existência política da União:
- Cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade.
Vale lembrar que, neste ponto, ele transgrediu agrediu a referida lei, uma penca de vezes, como quando proferiu ofensas à Alemanha e à Noruega, e também quando foi aos EUA discutir a situação da Venezuela e uma eventual ação militar no país.
Inclusive a violação da neutralidade é um dos motivos dos diversos pedidos de impeachment protocolados contra o presidente. Um deles, de Paulo Roberto Iotti Vecchiatti, protocolado em março deste ano, diz:
“Apresenta denúncia contra o Presidente da República, Sr. Jair Messias Bolsonaro, pela prática de crimes de responsabilidade, requerendo seja decretada a perda de seu cargo e a consequente inabilitação para o exercício de função pública pelo prazo legal. As dezessete áreas listadas como o acometimento de crimes de responsabilidade seriam a Constituição, a Lei, a separação de Poderes, a Federação, a oposição democrática, a capacidade estatal, a fiscalização, a liturgia Presidencial, a verdade factual e científica, a impessoalidade, a liberdade de informação e transparência, a liberdade de imprensa, a liberdade intelectual, a liberdade religiosa, a igualdade e discriminação, a proteção ambiental e a neutralidade em eleições estrangeiras.”
É... Pelo visto, Mourão não está para brincadeira! Isso tudo depois de “brincar de cabo de força” com Bolsonaro na questão da vacina contra covid-19 desenvolvida no Instituto Butantã, quando o vice afirmou que “quem decide é o presidente”. Assim, Mourão também o abandona e deixa o desgaste 100% no coloco de Jair Bolsonaro, no que diz respeito à futura confusão que envolverá a vacinação contra o novo coronavírus.
Pelo visto, Hamilton Mourão prestou bem atenção às palavras de Paulo Guedes, mas em vez de colocar uma granada no bolso do trabalhador, colocou no bolso do próprio presidente.
Agora, só nos resta aguardar as cenas dos próximos capítulos desse embate que já dura quase dois anos.