Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som). Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Linguagem Audiovisual. Pesquisador e escritor, co-autor do "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho e autor dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose – a recorrência de elementos gnósticos na produção cinematográfica" pela Editora Livrus.
"Som do Ruído" dispara bombas musicais contra indústria do entretenimento

![Sound of Noise.avi_snapshot_00.04.15_[2011.06.26_00.00.29]](https://revistaforum.com.br/cinegnose/wp-content/uploads/2014/12/Sound-of-Noise.avi_snapshot_00.04.15_2011.06.26_00.00.29-300x127.jpg)

Um policial gnóstico
E perseguindo esses músicos anarquistas que pretendem detonar com o “bom gosto musical” da cidade está um investigador de polícia chamado Amadeus Warnenbring (Bengt Nilsson). Ironicamente, o único membro de uma família de maestros e músicos que não foi dotado de dom artístico: odeia música e se tornou a ovelha negra da família. Tudo começa com a descoberta de um metrônomo na van do início do filme, após a fuga do grupo de anarquistas musicais. A partir daí, a narrativa transforma-se em um jogo de gato e rato: Amadeus fica obcecado em prender os músicos, justamente pelo seu ódio à música que o fez se tornar o patinho feio de uma família de artistas famosos. E o Estrangeiro: Amadeus aparentemente odeia toda e qualquer música, músicos e instrumentos musicais. Ele se sente um Estrangeiro dentro da sua própria família e sociedade: a cidade é rodeada de música clássica e música de elevador (“muzak”) que toca nas caixas de som públicas. Mas aos poucos, Amadeus começa a se sentir estranhamente atraído pela música proibida daquele grupo anarquista cujos músicos foram expulsos do conservatório musical da cidade – não é que Amadeus não goste da música, mas sim daquela música clássica e comercial.
A gnose através do silêncio
Por tanto, o filme O Som do Ruído começa explorando dois temas gnósticos: o personagem Estrangeiro/Detetive e a construção de realidade ilusória através de uma paisagem sonora que, para os habitantes da cidade escandinava, é a única possível. Mas além disso, o espectador perceberá que o filme aborda um tema mais profundo: a gnose através do silêncio. Amadeus no fundo busca o silêncio. Sua disfunção o auditiva é um sintoma da recusa em aceitar um cotidiano preenchido por aquela espécie de música. O tema central do filme é a paradoxal atração de Amadeus pelo silêncio ao mesmo tempo em que admira a música rica em ritmos e percussão tirada de objetos não musicais da sinfonia vanguardista “Música para a Cidade e Seis Bateristas”. Desde que o compositor futurista Luigi Russolo lançou o manifesto “A Arte dos Ruídos” em 1913, a música foi inserida na explosão industrial do início do século XX. Em um novo ambiente urbano repleto de novos objetos os limites estabelecidos para a instrumentação, melodias, harmonias e ritmos deveriam ser quebrados. Então, Russolo concebeu instrumentações inéditas como o “órgão de ruídos” (“intonarumori”) feitos com caixas, funis e alavancas. >>>>>>>>>>Leia mais>>>>>
Comunicar erro
Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar