A pesquisa BTG/FSB divulgada hoje traz dados bastante negativos para Bolsonaro.
A pior notícia de todas, para Bolsonaro, é que o percentual de entrevistados que desaprova sua maneira de governar saltou de 55% para 57%, ao passo que sua aprovação caiu 2 pontos, para 38%.
A aprovação de um presidente, às vésperas de uma eleição, se aproxima muito de seu potencial de votos.
Entretanto, o que é ainda pior, para Bolsonaro, é o "timing". A aprovação do presidente cai justamente no momento em que o Auxílio Emergencial foi pago para todos os beneficiados, e a injeção de recursos na economia força uma estabilidade artificial do PIB e do emprego.
Se mesmo com o governo secando os cofres públicos para tentar se eleger, ainda assim perde popularidade, isso é um péssimo sinal.
Outro ponto ruim para Bolsonaro é que ele perdeu 2 pontos na estimulada. Na pesquisa feita em 29 de agosto, 36% dos entevistados diziam que votariam nele. Hoje são 34%. É uma oscilação dentro da margem de erro, mas que é confirmada pela deterioração na avaliação do governo e por outros números que iremos comentar a seguir.
Lula variou um ponto para baixo, o que também está na margem de erro. Mas como Bolsonaro caiu mais, a vantagem de Lula, que era de 7 pontos em 29 de agosto, agora é de 8 pontos.
Na espontânea, Lula e Bolsonaro se mantiveram firmes, com 40% e 33%, respectivamente.
A pesquisa também é ruim para Ciro Gomes, que oscilou para baixo na espontânea e na estimulada, distanciando-se de seu sonho de chegar ao segundo turno. Na verdade, a pesquisa é duplamente ruim para Ciro porque ele, além de perder votos, agora está prestes a ser ultrapassado por Simone Tebet.
Ciro perde um ponto na espontânea e agora tem 5%. Perdeu também 1 ponto na estimulada, e está com 8%, empatado tecnicamente com Tebet, que subiu dois pontos e chegou a 6%.
Tebet já ultrapassa Ciro Gomes em alguns estratos sociais importantes, como entre eleitores com mais de 60 anos, entre os quais Tebet agora tem 9%, contra 6% de Ciro. Na faixa etária logo abaixo, de eleitores com 41 a 59 anos, deu-se o mesmo movimento, com queda de Ciro e avanço de Tebet: a senadora pulou para 6% e Ciro caiu para os mesmos 6%.
Entretanto, a parte dessa pesquisa que deve ter caído como uma ducha de água fria sobre a campanha de Bolsonaro está na estratificação por religião.
Entre eleitores evangélicos, principal base de Bolsonaro, ele desidratou 11 pontos, caindo de 58% na pesquisa da semana passada (29 de agosto) para 47% hoje.
Lula, por sua vez, oscilou um ponto para cima entre evangélicos, para 30%.
Em todas as pesquisas, nota-se uma base evangélica lulista bastante firme, em torno de 30%, que o bolsonarismo não tem conseguido penetrar. Já temos notícia, inclusive, de ruídos e descontentamento crescentes, em setores evangélicos, contra o proselitismo eleitoral de lideranças religiosas pró-Bolsonaro. Essa queda de Bolsonaro entre os evangélicos pode significar a emergência de um (talvez ainda pequeno) levante evangélico contra a tentativa de algumas organizações e lideranças de manipular a fé das pessoas.
Bolsonaro também desabou entre eleitores mais pobres, com renda familiar até 1 salário.
Segundo a pesquisa BTG/FSB, Bolsonaro caiu de 17% para 13% entre eleitores com renda até 1 salário, ampliando o fosso que o separa de Lula nesse segmento para quase 50 pontos!
Lula se mantém firme nesse eleitorado mais pobre, com 60% dos votos totais.
Na conversão para válidos, Lula chega a 67% dos votos desse segmento, contra 14% de Bolsonaro.
Lula melhorou, ainda que modestamente, sua performance entre eleitores de classe média, com renda acima de 5 salários, entre os quais ele oscilou dois pontos para cima e Bolsonaro dois pontos para baixo. Com isso, a vantagem de Bolsonaro nesse estrato, que estava em 25 pontos, caiu para 20 pontos.
A vantagem de Bolsonaro na classe média, nessa pesquisa, ainda é alta, porém, e esse constitui o ponto mais vulnerável da campanha de Lula. É preciso desenvolver uma estratégia voltada para uma recuperação mais rápida da classe média. Esse é o estrato mais vulnerável às denúncias de corrupção. É possível que Bolsonaro esteja perdendo votos nesse segmento por causa das crescentes denúncias contra sua família.
Outro trecho da pesquisa que traz más notícias para Bolsonaro (e consequentemente, boas para Lula) levanta o percentual de brasileiros que assistiram ou não o horário eleitoral, segundo o seu voto no primeiro turno. Entre aqueles que ainda não assistiram, Lula tem 37%, mas sobe para 45% entre os que já assistiram. Já Bolsonaro não cresce nenhum ponto entre os que assistiram o horário eleitoral. Isso é ruim para Bolsonaro, porque já temos um mês de propaganda política na TV e Bolsonaro não conseguiu, pelo jeito, convencer nenhum eleitor.
Conclusão
Bolsonaro parou de crescer e começa a perder densidade. Os sinais disso estão por toda a parte. Bolsonaro oscilou dois pontos para baixo entre homens e um para baixo entre mulheres. Lula manteve sua votação entre homens em 39% e perdeu apenas 1 ponto entre mulheres (entre as quais, todavia, ainda mantém uma forte vantagem sobre Bolsonaro, de 44% X 29%).
O presidente está perdendo a vantagem relativa que tem ou tinha em alguns segmentos estratégicos. Bolsonaro ganhava de Lula entre eleitores homens, não ganha mais. Ampliou sua desvantagem entre mulheres. Perdeu voto evangélico. Continua afundando entre os mais pobres, mesmo após o pagamento do Auxílio Emergencial. E vem reduzindo sua vantagem na classe média.
No caso da terceira via, apesar das pequenas variações para cima e para baixo de seus candidatos, ela ainda opera num universo inteiramente paralelo, como se jogasse um outro campeonato. A única novidade que pode vir dessa segunda divisão é Tebet ultrapassar Ciro Gomes, o que pode ser vantajoso para Lula, pois ajudaria a convencer o eleitor cirista de que as chances de seu candidato esvaziaram-se completamente, e que será melhor fazer um voto estratégico em Lula ainda no primeiro turno. Segundo a mesma pesquisa, 53% dos eleitores de Ciro afirmam que ainda podem mudar de voto: ou seja, Ciro ainda pode transferir cerca de quatro pontos para Lula, garantindo uma vitória do petista no primeiro turno.
Na simulação de segundo turno, os números da BTG/FSB são excelentes para Lula, porque ele mantém uma vantagem confortável de 13 pontos sobre Bolsonaro: 53% X 40%. É sempre importante lembrar do fator tempo: conforme a eleição se aproxima, e Lula mantém sua vantagem, isso significa que ele tem maior poder gravitacional, e portanto está mais forte que antes. Para Bolsonaro, vale o oposto. A cada dia que passa, e as pesquisas confirmam que ele perde no segundo turno, o seu poder gravitacional diminui, e sua capacidade de atrair novos eleitores também declina.
Bolsonaro já queimou seu principal cartucho, o pagamento do Auxílio Emergencial. Segundo a pesquisa BTG/FSB, Bolsonaro continua desidratando entre os beneficiários do Auxílio, e agora tem apenas 23%, ao passo que Lula se mantém firme nesse estrato, com 58%. O tiro saiu pela culatra, pois aparentemente os eleitores mais pobres não reagiram bem à tentativa do governo federal de capitalizar eleitoralmente o pagamento do beneficío.
Por fim, a pesquisa traz uma boa notícia para o processo democrático, que é o aparente declínio das fake news no debate, possivelmente como resultado dos esforços do TSE para coibi-las. Segundo a BTG/FSB, caiu de 48% para 33% o percentual de eleitores que disseram ter recebido notícias suspeitas de fake news relativas às eleições, ao passo que agora 65% afirmam não estar mais recebendo notícias falsas.
A FSB entrevistou 2.000 pessoas por telefone, e custou R$ 128.957,83, pagos pelo banco BTG Pactual S/A. As entrevistas foram realizadas entre os dias 2 e 4 de setembro e o número de registro é BR 01786/2022.
A íntegra da pesquisa pode ser baixada nos links abaixo:
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