Foi a primeira pesquisa Quaest realizada após as manifestações em favor de Jair Bolsonaro no 7 de setembro, além do pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600, a queda no preço da gasolina e início do horário eleitoral.
E... nada.
Bolsonaro tinha 34% no 7 de setembro, e agora tem os mesmos 34%.
Lula oscilou 2 pontos para baixo. Tinha 44% e agora tem 42%, uma variação dentro da margem de erro.
Tudo permanece como antes no quartel de abrantes.
A diferença entre Lula e Bolsonaro diminuiu. Nas três edições anteriores oscilou entre 10 e 12 pontos.
Agora é 8.
Oito pontos ainda é uma boa diferença. Os especialistas afirmam que Lula precisa passar para o segundo turno com uma diferença de pelo menos cinco pontos, para garantir uma vitória folgada.
No segundo turno, a diferença também caiu para 8 pontos. A razão é uma quantidade maior de tebetistas aderindo a Bolsonaro.
Entre os eleitores de Ciro, a maioria (51%) vai de Lula, e apenas 19% diz que votará em Bolsonaro.
De maneira geral, porém, a pesquisa não é ruim para Lula, porque não é boa para Bolsonaro. Bolsonaro oscilou dois pontos para baixo no Sudeste e perdeu 1 ponto no Sudeste.
Ou seja, a Quaest não capta nenhum movimento de mudança estrutural nos números.
Quanto ao possível voto útil, ele também está perdendo espaço. Segundo a pesquisa, 66% de Ciro estão determinados, contra 33% que dizem poder mudar o voto para Lula, se acreditarem na possibilidade de uma vitória em primeiro turno.
Há um debate acalorado nas redes sociais sobre a diferença entre as pesquisas. A Ipec de segunda-feira trouxe Lula com 46%, Bolsonaro 31%, Ciro 7%, Simone 4%. Essa aí traz Lula com 42%, Bolsonaro 34%, Ciro 7% e Simone 4%.
A diferença não é tão grande assim.
A explicação, segundo analistas vem apontando, seria a proporção de eleitores com renda familiar até 2 salários, que seria mais baixa na Quaest. Não entrarei nessa polêmica.
A Quaest mostrou o aumento de sua rejeição para 47%. Mesmo assim, ela ainda menor que a de Bolsonaro (52%), e até Ciro (50%) tem mais rejeição que Lula.
Na estratificação por religião, Bolsonaro parece ter batido num teto entre os evangélicos, e está hoje com 51%, dois pontos a menos que na pesquisa anterior. Mas Lula vem caindo, e perdeu mais um ponto na pesquisa de hoje, indo para 25%. Bolsonaro, por outro lado, não consegue avançar entre católicos, está parado entre 27 e 28 pontos há meses, enquanto Lula se mantém próximo a 50%.
O Auxílio Brasil realmente parece não ter surtido o efeito que Bolsonaro esperava. Ele oscilou novamente para baixo entre os entrevistados que declararam ter recebido o benefício, para 27%, enquanto Lula sem mantém estável, com 54%.
Outra notícia boa para Lula é sua estabilidade entre mulheres. O petista vem pontuando 45% há meses, enquanto Bolsonaro tem dificuldade em passar de 30%.
Quando se olha por idade, chama atenção que Lula voltou a ampliar sua vantagem entre os mais jovens, até 34 anos, abrindo 13 pontos nesse segmento, 45% X 32%. Esse estrato representa 34% do eleitorado, segundo a Quaest.
Um outro estrato importante no qual Lula vem mantendo uma ótima pontuação é o de eleitores com mais de 60 anos, junto aos quais ele tem 45%, com os mesmos 13 pontos à frente de Bolsonaro. Estes eleitores correspondem a 21% dos brasileiros aptos a votar.
Por fim, olhemos para duas estratificações sempre muito importantes para entender tendências.
Lula subiu 4 pontos entre eleitores com renda acima de 5 salários, atingindo sua melhor pontuação nesse segmento em meses. Isso tem um significado emblemático, porque afasta a hipótese de que temos uma "onda antipetista" se iniciando. Como esse antipetista é essencialmente um fenômeno de classe média (embora com capacidade de contaminar os estratos mais baixo), o crescimento de Lula entre os eleitores de maior renda indica que vem acontecendo exatamente o oposto: Lula está recuperando o eleitorado de classe média.
Além disso, a Quaest mostra que Bolsonaro não avançou nenhum ponto entre o eleitorado mais pobre, com renda familiar até 2 salários. Está estagnado aí desde o início de agosto, oscilando entre 25% e 27%. Hoje tem 6%. Lula, por sua vez, tem 51% das intenções de voto nesse eleitorado.
Toda a variação negativa de Lula, que vai refletir nos dados gerais da pesquisa, se concentrou na faixa de renda entre 2 e 5 salários, e se a gente cruzar com os dados de região, foi tudo no Sul, já que Bolsonaro oscilou para baixo no Sudeste e Nordeste.
Em suma, a pesquisa não mostra nenhum movimento generalizado em favor de Bolsonaro, nenhuma onda. Bolsonaro está estagnado entre mulheres, na classe média, no Sudeste, no Nordeste, e entre os mais pobres.
Numa interpretação mais otimista, a oscilação negativa de Lula parece, muito provavelmente, apenas um pequeno soluço estatístico, dentro da margem de erro, que talvez seja corrigido na próxima pesquisa. Numa outra, mais pessimista, houve um pequeno aumento da rejeição a Lula, sobretudo entre evangélicos de classe média, provavelmente em virtude de campanha negativa vinda do bolsonarismo. Como é um evento localizado, pode ser revertido através de estratégias igualmente localizadas de campanha.
A íntegra da pesquisa pode ser baixada aqui.