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Um juiz de primeira instância é subitamente alçado ao estrelato nacional e se vê envolvido numa trama infinta de vaidades e arbítrios, a ponto de destruir visceralmente a economia de um país inteiro, atiçar a matilha fascista e, gran finale, posar ao lado da quadrilha que ajudou a colocar no Palácio do Planalto.
Leandro Fortes
A promiscuidade do Judiciário brasileiro com a mídia, essa mídia, jogou o País em um cenário tão bizarro que dizê-lo surreal pode parecer puro, quiçá acadêmico, demais.
Um juiz de primeira instância, até então afeito a demandas provincianas e serviços comezinhos, é subitamente alçado ao estrelato nacional e se vê envolvido numa trama infinta de vaidades e arbítrios, a ponto de destruir visceralmente a economia de um país inteiro, minar suas instituições, atiçar a matilha fascista e, gran finale, posar ao lado da quadrilha que ajudou a colocar no Palácio do Planalto, sob o argumento de combater a corrupção.
Não é só um roteiro pronto de uma tragicomédia do absurdo, é a própria desfiguração da realidade em uma outra, distópica, onde os atores sociais se submetem aos vícios e loucuras daqueles que deveriam representá-los.
Sergio Moro no prêmio IstoÉ, como já havia sido no faz-a-diferença do Grupo Globo, tornou-se uma alegoria desses tempos terríveis em que vivemos (nestes, em que escrevo, o reitor, a vice-reitora e professores da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais estão sendo arrastados pela Polícia Federal), mais ou menos dentro do espírito doentio de "Saló ou os 120 Dias de Sodoma", do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini - por sua vez, uma alegoria da demência fascista construída a partir da brutalidade da exploração sexual.
Moro entre Michel Temer, Moreira Franco, Eliseu Padilha e ACM Neto é mais do que uma revelação daquilo em que a sociedade brasileira, apodrecida, se tornou.
É - tem que ser - o gatilho de uma revolução.
Foto: Fotos Públicas