SUPER HEROI EM PERIGO
O sol é terrível, senegalesco. O relógio aponta 40 graus, mas a sensação térmica é de muito mais. A areia da praia castiga e uma leve brisa ameniza o que somente pode ser enfrentado mesmo com mergulhos e água gelada.
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Caminhando pela praia, é possível ver dois super heróis juntos. Um dentro do outro. Um unido só outro, de forma umbilical
O que se vê tem um uniforme azul e vermelho, imitando teias de aranha. Sim, é ele, o sobrinho de tia May, Peter Parker, o Homem Aranha.
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O uniforme é velho, tem um buraco pequeno nos fundilhos e é complementado por uma finíssima (falo de espessura e não de qualidade) sandália.
O Super Herói distribui cáries para crianças, vendendo algodão doce de várias cores. De vez em quando, levanta a máscara. Insuficiente para ver o rosto verdadeiro, mas suficiente para tomar um ar.
O rosto verdadeiro do verdadeiro super herói. Um brasileiro como tantos, correndo, se arrastando em busca do sustento mensal para os filhos. Um homem aranha, um vendedor de coxinha, de mate, de penduricalhos. Um josé, um joão, um genivaldo qualquer. Ou seria anderson, jeferson ou riquelme? O nome do trabalhador não interessa, a situação é que aflige. E pode piorar.
O Congresso discute uma lei, patrocinada pela família Bolsonaro, que pode mudar o regime de concessão das praias brasileiras. Permitiria a construção desenfreada de resorts e hotéis. E, em consequência, impediria ou dificultaria muito a entrada de pessoas comuns nas praias.
Falo daquelas que ficam em cadeiras alugadas, tomando cerveja e comendo pastel
Imagine então os vendedores ambulantes, os homens aranhas que andam quilômetros e quilômetros em busca de um trocado?
É mais uma lei contra os pobres. O Congresso tem uma tara em votar contra os pobres. Tem nojo de pobre.
E Neymar, jogador de futebol nascido em um clube da cidade de Santos, apoia o projeto. Nenhuma solidariedade com os milhares de seus fãs. Como o futebol é caro e inacessível, quer tirar deles o único lazer restante. A única fonte minguada de renda.
Neymar é o anti herói.