A segunda-feira começou com o esporte me emocionando. Nada a ver com futebol, mas com finitude da vida, texto emocionante e um fã recriando um momento mágico de seu ídolo. Fabíola Andrade, Beatriz Casarini e Everaldo Marques mostraram que, muitas vezes, não é só futebol, não é só esporte, é a vida pulsando.
Comecemos pelo depoimento de Fabíola Andrade a Beatriz Casarini, do UOL. Ela conta como um câncer agressivo levou seu marido em oito meses. Desde a primeira desconfiança a partir de um prosaico pedido de comida japonesa até a meia hora final, de mãos dadas, passando pela triste descoberta, que superou a mais pessimista espera.
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O depoimento é lindo, mostrando a tristeza da partida, mas também a maravilha da convivência. Os cuidados de um para o outro, a atenção, a descoberta do vazio e, enfim, a certeza de que nada nunca é para sempre.
É possível também perceber a sensibilidade da Beatriz, que conseguiu tirar tanto de Fabíola em um assunto tão perigoso jornalisticamente falando. Poderia ser piegas, poderia ser uma tristeza a primeira letra ao último ponto final, mas é muito mais que isso. É um retrato fiel de um relacionamento feliz precocemente interrompido.
É jornalismo.
Recuperado - mais ou menos - da matéria, vejo na minha TL o Everaldo Marques narrando a vitória de Emerson Fittipaldi nas 500 milhas de Indianápolis em 1989. Narrando? Melhor dizer psicografando. De olhos fechados, ele repete palavra por palavra, entonação por entonação a épica narração de Luciano do Valle, que é um de seus ídolos.
Everaldo tinha onze anos e até hoje, 35 anos depois, se emociona com aquela narração, que pode se perder um dia com um incêndio, uma tromba dágua, um terremoto, mas que sempre estará guardada na sua memória, no seu coração. Para sempre incrustrada na ternura e na sinceridade do nosso cantinho da saudade, como dizia o gênio Fiori.
É uma prova - bela prova - da influência que um narrador pode ter em outras pessoas. Eu me lembro do meu amigo Gilmar Vilanova Rodrigues, de Aguaí. Um dia, me perguntou quem era meu narrador favorito.
José Silvério, respondi de pronto.
O meu é o Fiori
Ah, mas o Fiori narra um pouco atrasado. Silvério é em cima do lance.
Não me importa, eu não estou vendo o jogo mesmo. Pode ser um, dois, três segundos atrasado. O que eu quero é ouvir o Fiori falando aquelas coisas bonitas que ele fala.
Bem, o teeeeeemmmmmpo passa. Agora é hora de Everaldo influenciar outros jovens por aí.
É jornalismo.