A seleção brasileira, sob o comando de Dorival Jr, deixou para trás uma série de quatro jogos sem vitória - Fernando Diniz era o treinador - e empatou com a Espanha por 3 x 3, depois de vencer a Inglaterra por 1 x 0. Dois adversários europeus. Na casa deles. É possível perceber melhoras, claro, e, em consequência uma dose de otimismo que não se via há muito. Pode ser precipitado, mas me parece que as pessoas estão querendo gostar da seleção, estão querendo que dê certo. Está se formando uma conexão com os torcedores e que tem a ver com Dorival Jr e, principalmente, Endrick.
Comecemos por Dorival, o menos importante. Ele não é um treinador excepcional, não vai mudar o mundo do futebol, como Guardiola, não é um vencedor implacável como Ancelotti, um filósofo como Bielsa ou alguém com ideias admiráveis sobre o mundo - não apenas o mundo do futebol - como Jurgen Klopp. É apenas - e como isso é importante - alguém que sabe fazer o feijão com arroz, não é o rei do midia training como Tite e nem tem pretensão de imprimir sua marca à seleção, como Diniz. Não é autoral, não é messiânico, é apenas um tiozão que entende de futebol e que não deseja atrapalhar.
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A cada ciclo sem vitórias, o torcedor brasileiro se apega a um jovem jogador que poderá conduzir a seleção novamente ao caminho das vitórias. Foi assim com Ronaldo e Ronaldinho em 2002, Kaká em 2006 (para defender o título) e 2010, para recuperá-lo. Mas, em 2010, havia outra esperança, que não Kaká. Era Neymar, com 17 anos e começando a carreira. Muita gente via nele um novo caminho, muita gente pediu e torceu para que Dunga o convocasse. Ele não teve coragem, como Menotti não convocou Maradona em 1978, sem querer comparar o gênio com o craque.
Neymar não foi em 2010, mas foi em 2014. Uma entrada desleal o tirou da Copa, que terminou com um 7 x 1 no lombo. Em 2018, ele foi e envergonhou o futebol brasileiro, fingindo contusões, rolando no gramado, foi um clown e não um jogador. Um palhaço e não um atleta. Em 2022, fez o gol mais bonito da Copa, mas não esteve presente na cobrança de pênaltis contra a Croácia. Para todos, ficou a impressão que ele queria ser o último a cobrar, para garantir a vitória e ser um herói. Como fizera na Olimpíada de 2016 no Rio.
Por esses e outros motivos - vida de ostentação, atraso em reapresentação, síndrome de Peter Pan, sempre na barra da calça do pai e até por opção ideológica pela extrema direita - Neymar tornou-se uma pessoa pouco "gostável", muito pelo contrário. Muita gente se sentiu traída - o torcedor brasileiro é passional - pelo garoto que nos levaria a novos caminhos e que se tornou apenas um garoto que não cresceu, não amadureceu.
Neymar virou o dono da seleção. E o torcedor se sentiu usurpado. Se pelo menos ganhasse alguma coisa importante.
Agora, com Neymar vivendo as 1001 noites na Arábia, novamente contundido - um lance de azar e não de violência - o Brasil se viu em más condições, com derrotas seguidas para Uruguai, Colômbia e Argentina, após empate com Venezuela. E, em um momento assim, de crise e abandono, apareceu Endrick.
Foi convocado pela primeira vez por Diniz, mas os gols vieram com Dorival. Saiu do banco e fez o gol da vitória contra os ingleses. Saiu do banco e fez o gol de empate contra os espanhóis. E vejam como é iluminado. Fez um gol no estádio do Real Madrid, seu novo clube a partir do segundo semestre.
Não tem o drible e a técnica de Neymar, não quero comparar, tem apenas 17 anos, mas é o porta voz de novos tempos. Não cai, é até violento na disputa de bola - violento, não, violento é o Fagner, mas é voluntarioso - está se preparando para o estrelato, falando muito bem espanhol e inglês e, principalmente, ainda é um garoto. Combina com novos tempos.
Não há certeza de nada, ninguém pode apostar que o Brasil vá se recuperar de vez, Neymar ainda pode voltar, claro, mas o certo é que está voltando a conexão torcida com a seleção. E o amálgama é Endrick.