CHOQUE DE REALIDADE

David Luiz e a demissão pela Instagram: jogador, mesmo famoso, também é mercadoria

Jogador do Flamengo se magoou ao ser tratado como a grande maioria dos trabalhadores brasileiros, não é mais escravo, mas apenas um peão no jogo econômico

David Luiz deixa o Flamengo.Créditos: Reprodução Twitter
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David Luiz descobriu algo que muitos jogadores evitam aceitar: dentro das relações de trabalho no futebol, ele é uma mercadoria. Fora de campo, é um ser humano com qualidades, defeitos, sonhos e frustrações. Mas no universo corporativo do esporte, ele é tratado como um produto, descartável quando não é mais útil.

Não interessa se é famoso ou anônimo. Todo trabalhador, no futebol ou fora dele, é mercadoria.

A notícia chegou sem cerimônia. Para 2025, David Luiz não fazia mais parte dos planos do Flamengo. De forma crua, estava despedido. Milhões de torcedores souberam ao mesmo tempo que ele, mas sem qualquer conversa pessoal, sem explicações ou despedidas olho no olho. A frustração aumentou quando o jogador revelou que tomou ciência de sua demissão pelo Instagram.

"Se eu não tivesse uma conta, nem saberia que fui desligado", lamentou o zagueiro. Nada de até um dia, até talvez, até quem sabe do grande João Donato. Nada disso.

Essa prática fria, comum no futebol e em outras áreas corporativas, também é familiar para muitos trabalhadores que descobrem sua demissão ao perceberem que a senha do e-mail corporativo foi desativada.

A reflexão sobre o ocorrido leva ao passado. Antes da Lei Pelé, o "passe" dos jogadores era controlado pelos clubes. Eles decidiam o destino de seus atletas, podendo até mesmo impedir que seguissem carreira em outro lugar, caso não aceitassem as condições impostas. Era uma relação quase feudal, que limitava qualquer autonomia profissional.

Hoje, embora a legislação tenha evoluído, a falta de respeito e humanidade em situações como essa ainda persiste, sendo reflexo das relações capitalistas exacerbadas no Brasil. Desde a ascensão do golpista Temer, marcado por reformas trabalhistas que flexibilizaram direitos, a precarização é crescente. No caso de David Luiz, fica claro que, apesar das conquistas legais, o futebol ainda trata seus profissionais como peças de um tabuleiro econômico.

Enquanto ele busca um novo clube para 2025, talvez uma oração a Yemanjá ajude a encontrar um destino mais acolhedor. Se é que existe. Afinal, a falta de empatia nas relações de trabalho continua sendo uma das maiores fragilidades do esporte – e da sociedade como um todo.

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