O que é mais irritante para um torcedor? Ver o jogador, após marcar um gol, correr em sua direção e de muitos outros e apontar o dedo em riste ou ver seu ídolo, após uma derrota muito dura, ir até o vestiário do adversário mandar um beijo para o treinador vitorioso? A resposta parece clara: o beijo é uma sinal de civilidade e o dedo esticado, uma ofensa sem par.
Não vejo assim. É preciso analisar o contexto dos atos. Breno Lopes, o atacante palmeirense, fez o gol da vitória contra o Goiás, nos acréscimos. E foi ofender a torcida. A mesma torcida que o havia ofendido há pouco tempo, quando perdeu o gol que daria vitória sobre o Corinthians, em Itaquera.
Pau que bate em Chico, bate em Francisco. Por que a turba pode vaiar um jogador, ofender, ir em suas redes sociais fazer ameaças e não pode receber o troco. A torcida é uma entidade religiosa, governamental ou algo assim, que não pode ser afrontada? Há um AI-5 redivivo? Ah, o torcedor estava sob pressão quando Breno Lopes errou e reagiu. Pois agora, era o atacante que estava em situação de estresse e reagiu contra seus algozes de outro dia..
Existem jogadores que estão se especializando em serem defensores de torcida. Luciano, do São Paulo, reclamou de uma comemoração normalíssima de Rony. Jogadores do Corinthians e até um gandula ficaram fora de si quando Luciano gritou para a torcida corintiana em Itaquera. E foram tomar satisfação com jogadores do Goiás que estavam comemorando perto de sua torcida. Parece uma cruzada religiosa. O futebolzinho que o Corinthians está jogando é mais ofensivo que qualquer comemoração rival.
E o caso de Gabigol?
Ora, se a atitude de Breno Lopes cheira desabafo, a de Gabriel fede a predeterminação. Ele, maior ídolo recente do Flamengo, tem jogado mal. Como todo o time. E ele, especificamente, está em rota de colisão com o cartola Marcos Bras, aquele do "Real Madrid, pode esperar, a sua hora vai chegar".. E após mais uma derrota, Gabigol vai até o local onde Dorival Júnior, seu treinador no ano passado, estava dando entrevista para mandar dois beijinhos.
Nada demais cumprimentar seu comandante do ano passado. Todos fazem isso. E ele também fez antes do jogo, à beira do gramado. Fazer depois do jogo em que foi derrotado, em que não jogou nada, em que deixou o campo vaiado, é muito mais do que boa educação. -E mandar um recado: "eu era feliz com você e não sabia.". Mais que isso, é deixar claro que considera errada a demissão de Dorival no ano passado, trocado por Vitor Pereira que deu lugar a Sampaoli.
Os torcedores de Flamengo e Palmeiras podem muito bem estar aborrecido com as atitudes de seus atacantes. Mas,a meu ver, Breno Lopes, se nao for inocente, tem muito mais atenuantes a apresentar.