Eu poderia escrever sobre Botafogo x Fortaleza, o jogo de estreia de Tiago Nunes e que pode levar o Botafogo novamente à liderança, afastando - pelo menos temporariamente - a tese de que há coisas que só acontecem com o Botafogo....
Eu poderia escrever sobre a construção da narrativa de que Fernando Diniz é um humanista preocupado com pessoas, sim, o mesmo Diniz que não mexeu um músculo da face diante as agressões policiais aos torcedores argentinos, sim, o mesmo Diniz que assediou moralmente Tchê Tchê
Eu poderia escrever de mais uma derrota do São Paulo fora do Morumbi; agora só há mais duas chances, diante de Bahia e Galo, uma situação vergonhosa
Eu poderia falar sobre "Oração para desaparecer", novo livro de Socorro Acioly, de quem gostei muito de "Cabeça de Santo", ou de "Tudo Passará", a biografia de Nelson Ned, escrita por André Barcinski, os meus pedidos para o amigo secreto da família
Eu poderia escrever sobre o Majestoso feminino, que vai lotar o Neo Química Arena.
Ou, sobre a ansiedade para ouvir Erasmo Carlos e Gaby Amarantos, uma inédita que será lançada na sexta-feira, ponta de lança de um disco (sei, não se fala mais assim) de inéditas do Tremendão.
Poderia, mas sou impelido a dizer simplesmente que "Eu apoio a Palestina".
Apoio porque é proibido apoiar. Susan Sarandon foi demitida de sua agência por apoiar. Melissa Barrera foi demitida da franquia "Pânico" por apoiar. Jenny Ortega, a 'Wandinha", pediu demissão em solidariedade.
A censura se espalha. A Confederação Israelita do Brasil conseguiu proibir textos de Breno Altman, jornalista judeu que critica o sionismo. No caso, Breno, velho amigo do movimento estudantil, não é jornalista judeu, e judeu jornalista.
Apoio a Palestina porque não é possível se calar diante de bombardeios contra hospitais, ambulâncias e crianças. Ficar calado é dizer sim à velha tática israelita de ver um antissemita em cada pessoa indignada com atos que afrontam a humanidade.
Apoio a Palestina porque é o que estaria fazendo Antonio César Simão. Se ele não pode mais gritar, eu grito por ele.
Apoio a Palestina para que a Rosa de Hiroshima, de Vinícius na voz de Ney Matogrosso não seja tão atual.
Apoio porque o Botafogo, o Majestoso, o Erasmo, a Socorro Acioly, o Nelson Ned podem esperar, mas as crianças, as mulheres, o povo palestino não podem. Estão sob processo acelerado de limpeza étnica.
Gritar é preciso.
Viva a Palestina, livre do mar ao rio.