Há 2031 dias, enquanto Vinicius Jr, ainda no Flamengo, fazia dois gols contra o Emelec em Guaiaquil, a vereadora carioca Marielle Franco era executada no Rio.
Há uma semana, quando os torcedores do São Paulo comemoravam o título da Copa do Brasil um torcedor morreu com um tiro vindo de arma da PM..
Há um dia o Brasil, comandado por Rebeca Andrade e Jade Barbosa, conquistava medalha de prata no Mundial de Ginástica, houve o assassinato de três médicos em um quiosque no Rio. O delegado geral de São Paulo, que está ajudando na investigação, o governador Cláudio Castro e a deputada Fernanda Melchiona falam em execução. Não houve roubo, apenas os tiros fatais. E o fato de a deputada Sâmia Bonfim haver denunciado há pouco tempo ameaças de morte a ela e parentes.
Eu escrevo sobre futebol há 35 anos.
Poderia escrever hoje sobre Fernando Diniz e o Fluminense na final da Libertadores.
Sobre o Palmeiras, que enfrenta o Boca em busca da segunda vaga na final.
`Poderia falar sobre a barca que, com certeza, atracará em Itaquera para a reforma necessária do elenco do Corinthians.
Ou como o São Paulo, com a volta de jogadores contundidos, precisará mudar pouco o seu elenco.
Assunto, não falta. Deixa para amanhã.
Hoje é mais um dia de luto para o Brasil. É um dia em que a elite branca e econômica vê quatro de seus componentes sofrendo o que os pretos pobres sofrem a todo momento. Não existe bala perdida. Toda bala sai do cano da arma com um endereço certo, a cabeça de alguém. Como os atiradores nem sempre são certeiros, as balas se alojam no cérebro de crianças. Ou de trabalhadores honestos.
Não existe inteligência nas PMs. Os policiais não são treinados para conviver com seres humanos. É tiro, é porrada, é cassetete. Ou tudo junto e misturado.
E há os milicianos tomando conta da mais bela cidade do Mundo. O irmão de Marcelo Freixo foi assassinado há 17 anos. Agora, o irmão de Sâmia Bonfim. Não se sabe o motivo, mas é claro que foi execução.
Eu sou do tempo em que a Esquerda, eu inclusive, se sentia mal ao ouvir a palavra "segurança". E deixamos que esta bandeira caísse em mãos de deputados que, se tivessem oportunidade, provavelmente apertariam o gatilho.
Se fomos usar uma metáfora esportiva, o jogo está no segundo tempo e estamos perdendo. É necessário reagir. Este luto constante e diário precisa terminar. O Brasil é maior que isso.
Minha solidariedade à Sâmia Bonfim, a deputada que enfrentou a CPI nascida para criminalizar MST.