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Perdi um friend

Matthew Perry, depressivo e viciado em opioides, morre aos 54 anos e deixa vivo Chandler Bing, na casa dos 30, sarcástico, mas meio bobão, como os outros cinco.

Matthew Perry.Créditos: Warner/Divulgação
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A partida de Matthew Perry/Chandler Bing (muito difícil dissociá-los) deixa um vazio emocional em quem acompanhou a série Friends ao vivo e constantemente e depois ocasionalmente, buscando um episódio qualquer na caixa completa da sobrinha ou, no final da noite, em algum streaming.

Friends é uma série que não tira ninguém da zona de conforto. Ótima para ver no final de noite, para deixar a cabeça leve antes de dormir. Atualmente, é Jerry Seinfeld que faz este papel aqui em casa, mas se George Costanza, Cosmo Kramer, Jerry e Elaine Benes têm um pé na maldade, o friends Rachel, Phoebe, Monica, Joe, Ross e Chandler são apenas seis amigos de 30 anos meio bobões e infantilóides.

Quem não viveu uma experiência como as deles? Eu me lembro de uma. Na minha república em Lins, quando estudava Engenharia, moravam Frango, Embrião, Maceió e Kissinger, entre outros. Kissinger era um gordão daqueles de me achar um pouco magro. E Maceió era teimoso como o clichê que fazemos de nordestinos.

Estávamos todos em um quarto, traçando estratégias de como derrubar a Ditadura Militar, quando a cama de Maceió (aka Bodão), rangeu. Era o peso de Kissinger. Bodão pediu que ele saísse da cama e recebeu uma risada como resposta. Pediu então que Kissinger parasse de se mexer. A resposta não veio do amigo. Veio da cama, que não resistiu ao peso. Foi ao chão.

Maceió se levantou e foi até o outro quarto, onde ficava a cama de Kissinger. E saltou como um cabrito montês. Outra cama no chão.

É ou não é puro Friends? Saudades de meu amigo Kissinger, que depois virou Simão, e se foi em 2021. 

Não se compara a tristeza real, da vida nos avisando abruptamente - nem foi o caso - que ela é finita, que nosso último dia é igual a tantos outros, apenas menor, mas fica também um pouco de vazio com a morte de Chandler. Ou Perry, melhor dizendo.

Tinha 54 anos e foi corajoso ao assumir que era viciado em opióides e que sofria de depressão. Mostrou sua fragilidade e, como no caso de meu amigo Simão, mesmo assim a notícia surpreende.

Como ele não teve uma carreira marcante além da série com cinco amigos, fica a lembrança do sujeito sarcástico, mas, como os outros, um pouco bobo. E a tristeza de ver que apenas um dos dois sofás está sendo ocupado.

 

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