Como muitos leitores, muito provavelmente, sou de uma geração intermediária que viveu a ditadura quando criança. E que teve a juventude regada a um processo de abertura e redemocratização. Mas certamente há leitores aqui que lutaram contra a ditadura militar dos anos 1960 e 1970. E outros que só ouviram falar dela pelas histórias de pais, mães, avós e avôs. Afinal, o golpe de 1964 faz 60 anos neste 1º de abril. Mas a tentativa de golpe de 8 de janeiro, não. Este fará no mesmo 1º de abril menos de um ano e três meses. E mais do que sempre é importante lembrar de um para não esquecer o risco que passamos de viver tudo de novo.
Os 21 anos de ditadura militar foram terríveis para o Brasil em todos os aspectos. As liberdades foram tolhidas, a educação foi destruída, a cultura foi perseguida, a saúde só veio a ter um projeto depois da Constituição cidadã em 1988, com a criação do SUS, opositores foram mortos e torturados, o salário mínimo era indigente e não havia esperança. Quando derrotados com a eleição de Tancredo Neves em 1984, os militares guardaram as armas, mas não deixaram de ter muita influência e força no Brasil. E em 2018 conseguiram voltar ao poder por meio do voto com seu tenente que virou capitão ao ser expulso do Exército, o abjeto Jair Bolsonaro.
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De alguma maneira foi o Partido Militar que elegeu Bolsonaro. E seu governo, se não foi uma ditadura militar, foi um governo militarizado. Essa gente tinha influência em todas as áreas do país e nos legaram, entre outras coisas, a imensa mortandade da pandemia da covid, as 700 mil vítimas, que poderiam ter sido 200 mil ou no máximo 300 mil. Foram o que sempre foram. Inábeis e incompetentes. E para nossa sorte e pela luta de muitos não conseguiram derrotar Lula na eleição de 2022. Se isso tivesse acontecido, teríamos nos tornado uma Hungria, onde Viktor Orbán governa como um déspota há 14 anos. Mas mesmo sendo derrotados, parte deles tentou um golpe. E, por um triz, escapamos. Este 1º de abril é dia de “descelebrar” a ditadura. De lembrar das vítimas que ela fez. E de contar a história do que ela foi. Para que nunca mais se repita. Porque andamos como um equilibrista no limite do abismo há pouquíssimo tempo e poderíamos estar vivendo um novo 64 de novo.
Afasta de mim esse cálice, pai.
*Este editorial faz parte da Revista Fórum digital semanal nº104, uma edição histórica sobre os 60 anos do golpe de 1964. Baixe grátis aqui e clique para apoiar e receber todas as sextas-feiras.