Volodymyr Zelensky virou o novo herói da mídia ocidental. Talvez o primeiro herói universal que se constrói numa guerra sem a partir da lógica das dinâmicas de redes digitais, da força de um smartphone. Vladimir Putin virou o gênio do mal e Zelensky o homem de bem global, que está defendendo a sua pátria.
Com uma camiseta meio cinza e meio verde e uma cara de preocupado, Zelensky faz pequenos discursos em vídeos no seu Instagram com 14 milhões de seguidores que terminam com "Glória à Ucrânia", um slogan fascista. Como também o é "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos". Um nacionalismo de extrema-direita que visa transformar os que divergem do líder em voga em inimigos da pátria.
O fato concreto é que Zelensky, como herói da mídia ocidental, demonstra de alguma maneira a qualidade da mídia global, que está passando pano para todos os erros cometidos por esse irresponsável que jogou seu país numa guerra absurda. .
Ao invés de negociar, Zelensky apostou no conflito, achando que a Rússia ficaria assistindo de camarote seu país entrar na OTAN para poder se tornar uma base bélica dos EUA. Havia a possibilidade de a Ucrânia entrar na comunidade europeia, mas não na Otan. Acontece que as grandes economias europeias não queriam isso. Porque não desejam mais países com economias fracas na sua zona comum. Mas desejam territórios para transformar em base bélica.
O comediante Zelensky agora virou um herói, mesmo depois de todos os erros que cometeu, e é apresentado como um Davi que luta contra um Golias. Um Davi que transformou seu Iphone numa arma eficiente de guerra e que está equilibrando o conflito. Por um lado, é fato que agora fica difícil para Putin assassinar Zelensky, porque aí ele vai se tornar um mártir da liberdade, do Ocidente, de tudo. Mas a guerra não é uma disputa de narrativas. É preciso verificar o que de fato está em jogo. E nada aponta para uma derrota da Rússia de Putin, goste-se ou não dele. A heroificação de Zelensky que não tem nada a ver com jornalismo. É um "torcidismo" de quem acha que guerra é uma partida de futebol ou um game. Não é. Putin não é herói e Zelensky também não. A partir daí é possível se fazer análises mais realistas.