PT e PSoL acertam em não participar da posse de Bolsonaro

Não ir a posse de Bolsonaro é um ato político que não traz consequência alguma ao jogo democrático. Ele não deixará de tomar posse por isso. Seus votos não serão roubados e queimados. Não haverá crise institucional.

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É impressionante como na escala de valores de certo colunismo às ações praticadas à esquerda soam sempre muito menos democráticas do que à direita. Se um candidato como Bolsonaro fala em eliminar a petralhada, trata-se de um piadista. Alguém que não deve ser levado à sério. Se Aécio Neves pede impugnação da chapa de Dilma Rousseff e recontagem de votos em 2014 e PSDB e DEM não vão a posse da ex-presidente, não pega nada. Mas bastou o PT e PSoL anunciarem que não participarão do convescote de Bolsonaro com um TSE que jogou contra a democracia no processo eleitoral, para que o colunismo que se diz limpinho saísse da toca gritando fogo, fogo, fogo.... Como se o grande problema desses tempos sombrios fosse respeitar formalidades. Não ir a posse de Bolsonaro é um ato político que não traz consequência alguma ao jogo democrático. Ele não deixará de tomar posse por isso. Seus votos não serão roubados e queimados. Não haverá crise institucional. É uma opção de uma oposição que se considerou tratada como inimiga e não como adversária na disputa eleitoral. Que foi ameaçada de morte, que foi considerada terrorista. E a quem foi sugerida tortura lá na “Ponta da Praia”. Não me venham com esse papo mole de que isso faz parte do jogo. Não faz. No processo democrático faz parte do jogo ganhar ou perder. Faz parte jogar duro. Mas ameaçar adversários com a eliminação física, não. A parte isso, mesmo que Bolsonaro não tivesse dito insanidades como essas, sua agenda é essencialmente uma ameaça aos valores democráticos. Atos políticos buscando denunciar isso não são agressões à democracia, ao contrário. São demarcações de campo. São negação de um caminho cujo prenuncio pode levar o país à barbárie. Aqueles que estão se negando a participar deste momento de posse estão sinalizando para o país que não acreditam que amanhã se dará apenas a substituição de um presidente por outro. É justo que o façam assim. O PT e o PSoL estão deixando claro de que lado estão em relação ao que se avizinha desde já. E estão fazendo isso com base em declarações e promessas de campanha do sujeito que assume amanhã. Isso não é desrespeitar o voto de 55 milhões de pessoas. Como também não é honrar o de 45 milhões. É tomar um posicionamento de oposição radical a uma agenda que pode levar o país à bárbarie. Política se faz com gestos e ações claras. O resto é conversa mole do mervalismo, que às vezes seduz gente mais séria. Mas que nem por isso deixa de jogar água no moinho de uma narrativa que busca igualar tudo o que Bolsonaro faz e diz a um outro lado que resiste ao seu projeto fascista.