Escrito en
BLOGS
el
Não gosto de escrachos públicos. Considero que eles ferem um princípio básico da democracia, que é o do respeito ao contraditório.
Se alguém pensa diferente de mim, deve merecer meu respeito. Mesmo que o que ele pense seja exatamente o oposto de tudo que acredito.
Não me parece legítimo, por exemplo, fazer protestos na frente da casa de um prefeito, governador, deputado etc. só porque discordo de suas posições.
Esse tipo de constrangimento é autoritário.
E, cá entre nós, vários movimentos abusam deste tipo de ação.
Ao mesmo tempo, mesmo não gostando de escrachos, acho que eles devem ser entendidos de forma diferente quando os atingidos são aqueles que atentam contra os direitos humanos e a democracia.
Os torturadores, por exemplo.
Eles foram autores dos piores atos de barbárie e depois da redemocratização muitos se disfarçaram de bons velhinhos e passaram a ter uma vida tranquila.
Desmascará-los e mostrar que se isso vier a ser feito de novo terá algum custo para os seus autores não me parece uma agressão.
De certa forma pode ser até um ato educativo do ponto de vista público.
Mas o que se está discutindo hoje não é se fazer escrachos públicos contra torturadores é ou não legítimo, mas se fazê-lo contra os que estão na linha de frente do impeachment (ou do golpe) é?
E há gente séria e com boa argumentação nos dois lados desse debate.
A questão que me parece definidora sobre a legitimidade dessa ação é: O Brasil está ou não vivendo um golpe?
Se de fato é isso que está acontecendo, algo precisa ser feito.
E entre essas ações, a de constranger aqueles que estão tentando quebrar a institucionalidade democrática, uma que me parece legítima é o escracho.
Desde que tratado no limite da ação política.
Porque se há um golpe está em curso, é preciso lutar para que ele não legitime. E lutar não é só fazer a defesa da inocência de Dilma no Senado.
Lutar é sempre algo que implica algum tipo de confronto, mesmo que apenas os dos argumentos.
De qualquer maneira, mesmo achando isso, quero dizer que não estou disposto a participar de escrachos. Não gosto de escrachos e por isso não estaria neles.
Mas ao mesmo tempo não se pode fazer de conta que está tudo normal por aqui.
E que constranger alguém a quem se atribui o papel de golpista é o mesmo que fazê-lo com um governante ou parlamentar que tem opinião diferente.
Ou então é melhor deixar o discurso de golpe pra lá.