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O áudio da conversa entre Sérgio Machado e o presidente do Senado, Renan Calheiros, que foi anunciado como uma bomba que iria abalar a República, não passa de um track, aquelas bombinhas caseiras pra criança brincar em festa junina.
Diferente de Romero Jucá, Renan não disse nada que possa comprometê-lo. Apenas confirmou o que muito desconfiavam, que o Supremo Tribunal está agindo com o fígado e não com a razão e a Constituição no caso de Dilma. "Eles estão todos putos com ela."
E que Aécio Neves (ele de novo) estaria com medo das apurações da Lava Jato e em especial da delação de Delcídio.
Aliás, o vazamento da delação de Delcídio é algo que a Procuradoria Geral da República não apurou. Mas se o fizer, como já se disse neste blogue, provavelmente vai descobrir que havia uma intenção criminosa no ato.
Aliás, do áudio divulgado hoje pela Folha, há duas coisas relevantes e que mereceriam esclarecimento. Já no final da conversa, Sérgio Machado diz . "Renan, eu fui do PSDB 10 anos, não sobra ninguém".
Machado deveria ser instado a tratar disso independente do que vier a falar sobre o PMDB. Ele ficou 10 anos no PSDB e sabe de coisas, tem obrigação de abrir o jogo para que sua delação valha alguma coisa.
Outra coisa relevante e que necessitaria de uma resposta rápida de Dilma é sobre as conversas que a presidenta teria tido com Octávio Frias Filho e José Roberto Marinho. Como foram essas conversas, em que contexto e o que eles disseram? Por que Dilma lhes procurou e o que queria com isso?
Não vale fazer de conta que nada se tem a dizer a respeito.
Em relação ao que se vai dar destaque na mídia, Renan está corretíssimo. Ele defende no áudio que presos não deveriam ter o direito de delatar.
A hipocrisia e a baixa estatura moral de ampla maioria dos comentaristas políticos vai tratar o tema como uma intenção de acabar com a Lava Jato. Bobagem mal intencionada.
Delações em situações de prisão servem mais ao criminoso do que a Justiça. Porque permitem repassar a terceiros, por vezes até inocentes, a responsabilidade do que se fez.
Além disso, nessas situações elas são negociadas a partir de forte pressão psicológica. E os investigadores, pelo relato de advogados de presos, têm pressionado seus clientes para tratar de temas específicos. O que faz com que a delação seja seletiva e com alvo claro. O que é um absurdo jurídico e fere de morte princípios básicos do Direito.
Renan deveria aproveitar essa entrevista para colocar em pauta de forma clara e transparente esse debate, convocando juízes, advogados, especialistas no assunto, tanto do Brasil quanto do exterior, pra debater a questão.
Não se pode tratar a operação Lava Jato e alguns dos seus métodos como algo indiscutível.
Renan, vejam que coisa, sai maior dessa arapuca que lhe foi montada (provavelmente não apenas por Sérgio Machado) para incriminá-lo.
Deveria aproveitar e ira pra cima no debate. E já que foi alvo, tem a faca e o queijo na mão para buscar explicações da PGR sobre como foi negociada essa delação de Sérgio Machado.
O estado policial tem de ter limites.
Delcídio apareceu como um cafajeste ao ser gravado. Romero Jucá se mostrou um golpista. Renan pareceu ser muito mais esperto e não caiu na cilada. São três senadores gravados. E ainda falta a fita de Sarney.
Pode ser engraçado ver tudo isso divulgado, mas ao mesmo tempo é preciso refletir se é essa a democracia que o país quer ter. Onde quem manda são agentes do Estado que usam suas prerrogativas de investigadores para intimidar, gravar e grampear até uma presidenta e um ex-presidente da República.
Se for isso, estamos indo pelo pior caminho e não há como essa história terminar bem.
Renan ganhou a chance de ouro de enfrentar essa questão para além do moralismo barato e das saídas burlescas. Que valem para o diversionismo midiático e para perseguir alguns, protegendo outros.
PS 1: O que se está analisando é o que veio a público hoje pela manhã. É evidente que ainda pode surgir algo mais forte contra Renan. E não só contra ele...
PS 2: Renan poderia saber que estava sendo gravado. Tanto porque Sérgio Machado pode ter lhe dito antes ou mesmo porque estava ciente da provável delação do parceiro de partido. De qualquer forma, isso não invalida nada do que foi dito acima.