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Atribui-se ao ex-governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, a frase: “política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Você olha de novo e ela já mudou”. No caso atual, poderia-se dizer que não basta que as nuvens mudem de lugar, mas precisariam também mudar de cor. Elas andavam pretas demais nas últimas semanas e foram anunciando tempestades que pareciam nunca acabar.
Há alguns dias o clima bélico parece ter dado lugar a uma tentativa de reposicionamento de forças. Como se muitos percebessem que já estava na hora de contar as perdas ou os avanços e esperar um pouco para ver o que pode acontecer lá na frente.
Entre mortos e feridos, o PT talvez tenha sido o ator político que mais perdeu neste processo. Mas o PMDB que estava se achando muito forte já podia passar de algoz para vítima. Ontem, por exemplo, o presidente da Câmara passou por enorme constrangimento ao visitar São Paulo. Seus compromissos contra a maioridade penal e os direitos LGBT podem levá-lo a ser tratado como alvo de muitos movimentos.
Ao mesmo tempo, o PSDB está para as ruas assim como o blogueiro está para uma pista de skate. Adoro ver o pessoal fazendo manobras, mas prefiro não me arriscar. Até agora o partido não sabe se vai e o que vai capitalizar com o movimento. E há quem, como Beto Richa, que acha que o melhor é que essa história de manifestações acabe logo.
Mas o que tudo isso tem a ver com a nomeação de Janine Ribeiro, Edinho Silva e Henrique Alves?
Comecemos pois por Henrique Alves que deve ser anunciado em breve. Ele foi presidente da Câmara até dia desses e disputou a eleição para governador do Rio Grande do Norte. E perdeu. Entre outros motivos responsabiliza Dilma e Lula pela derrota, pois o PT local lhe negou apoio.
Alves é um dos políticos mais experientes do Congresso e sabe como ninguém operar acordos e maioria. Além disso, tem ótimo relação com Eduardo Cunha.
Ao ser nomeado ele abre a ponte mais concreta entre o PMDB da Câmara e o Palácio do Planalto. Se vier a fazer parte da coordenação política do governo, terá mais capacidade para entregar vitórias na Câmara do que o vice Michel Temer.
A pasta do Turismo, para a qual Alves foi indicado, permiti-lhe ação no Nordeste, em especial no seu Rio Grande do Norte, e visibilidade por conta das Olimpíadas. Pode parecer algo menor, mas tem potencial para tirar alguém que era um pote até aqui de mágoas das articulações anti-governo.
Vou deixar Janine Ribeiro por último para falar antes de Edinho Silva, que vem sendo apresentado pela mídia como o ex-tesoureiro de campanha da presidenta Dilma. O ex-prefeito de Araraquara por dois mandatos, ex-deputado estadual e ex-presidente do PT paulista é um dos políticos mais habilidosos da sua geração. Ele tem um estilo à la Palocci. Fala sempre com serenidade, não costuma discordar dos seus interlocutores e foge de bola dividida. Até por isso tem boa relação com Lula e Dilma.
Sua formação política foi na militância católica e pode ter herdado daquele ambiente esse jeitão meio padreco de construir acordos e maiorias.
Edinho é extremamente hábil para lidar com os adversários. Ao mesmo tempo é extremamente leal ao seu grupo político. Sua nomeação para a Secom indica que Dilma buscará conversar mais com a mídia tradicional e tentará aparar arestas que porventura tenham a levado a se tornar o judas da vez, mas também sinalizam para uma maior audição às propostas do PT para essa área. Sim, Edinho é do PT. Ele não vai deixar de sê-lo, mas não será só isso na Secom. Ao assumir o risco de colocar um dirigente do partido no cargo, mas um dirigente que preza pelo bom trânsito com todos os setores, Dilma emite dois sinais. Que quer conversar, mas que não vai ser refém dos grupos tradicionais. São ótimos sinais.
Por fim, meu xará Renato Janine Ribeiro. Dilma resgata com a sua indicação algo que o governo estava perdendo, o simbolismo. Janine é a melhor notícia dos três novos convidados exatamente por isso e menos pela sua capacidade de exercer o cargo, já que será a primeira vez que o filósofo e excelente professor de Ética na USP assumirá um cargo executivo desta magnitude.
O governo Dilma está precisando de nomes da sociedade civil que tenham compromisso mais à esquerda e que sejam considerados inatacáveis em suas áreas de atuação. Janine tem esse perfil.
Sua nomeação caiu como uma bomba de oxigênio em grupos de intelectuais e nas universidades públicas. Muitos que já batiam no governo Dilma há algum tempo ontem saudaram sua nomeação pelo Twitter e pelo Facebook. Com Janine Ribeiro na Educação e Juca Ferreira na Cultura, o governo terá em duas áreas fundamentais para aqueles que atuam na disputa social simbólica referências que podem dar novas perspectivas no médio prazo ao governo.
Se o governo conseguir depois desses anúncios ir tocando o barco devagar e recuar em alguns pontos polêmicos do ajuste fiscal, como o do seguro desemprego, as nuvens devem ao menos se estabilizar por um período. Para depois com o tempo ir mudando aos poucos de lugar. Ainda não é hora de movimentos bruscos, mas já não se pode dizer que esse governo não cansa de errar.