Como será a vida do governo e do país no pós Fora Cunha

Uma coisa é certa, o fora Cunha cai com Cunha. E talvez o governo não consiga aprender a viver sem isso.

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fora cunha 1Pode-se dizer tudo de Eduardo Cunha. E boa parte do que já se disse a cada dia parece mais justo. Mas não se pode deixar de reconhecer sua extrema habilidade para montar uma rede com tentáculos em quase todos os aparelhos de poder político e econômico do Brasil e que manteve-a pouco visível do grande público e do jornalismo especializado por muito tempo. Eduardo Cunha já era muito mais poderoso do que se supunha ainda antes de assumir a presidência da Câmara Federal. Sua vitória arrasadora contra as candidaturas do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e da oposição, Júlio Delgado (PSB-MG), em primeiro turno não se deu por acaso. Cada vez fica mais claro que Cunha já controlava boa parte do Congresso porque conseguia operá-lo a partir de acordos heterodoxos. Na primeira visita que fiz a Câmara na era Cunha, sempre em off, vários parlamentares e assessores experientes diziam que ele tinha ao menos 200 deputados-dependentes. Que votavam em tudo com ele porque haviam recebido benesses pra se eleger ou porque ainda recebiam vantagens e espaços importantes para operar essas “vantagens”. Esse máquina muito azeitada e organizada tinha levado Cunha a se tornar dono da Casa. E por isso rapidamente ele passou a ser conhecido como nosso Francis Underwood, de House of Cards. No comando do Congresso a sua força aumento e ele conseguia fazer acordos ainda mais ousados que lhe garantiam ainda mais poder. Os deputados sabiam que quanto mais lhe garantissem força política, mais resultados teriam. E por isso, mesmo com todo o toma-la-da-cá praticado pelo governo, tentando mudar alguns de lado, o sucesso vinha em conta-gotas. E sempre vinha mais em decorrência de erros de Cunha do que por eficiência da estratégia governamental. Mas depois de ontem, com outra parte significativa do esquema Cunha tendo vindo à tona nas denúncias da Procuradoria Geral da República (PGR), dificilmente o terceiro nome na linha sucessória brasileira terá condições de manter uma pequena parte que seja de todo este poder que há anos vinha acumulando. E por isso sua queda é questão de dias. Cunha não tem mais como operar. E não tem mais onde se segurar. A pergunta de hoje não é mais se Cunha cai. Mas o que vai acontecer na política brasileira no pós-Cunha. E os resultados ainda são imprevisíveis, até porque o governo de Dilma sempre age com atraso e é muito ineficiente. De qualquer forma essa queda abre uma clara brecha para que o governo retome o controle de uma maioria, mesmo que apertada na Casa operando na linha do eu te dou isso se você me der aquilo. Ou seja, na lógica da velha política que é a que ainda dá as cartas e que é o que o jogo que este governo ainda sabe jogar um pouco. Isso tende a dar um pouco mais certo a partir de hoje também porque as manifestações de ontem foram bem maiores do que as de domingo. E isso pode indicar que a tese do impeachment tem custos muito mais altos do que alguns imaginavam. Alguns cunhistas certamente estão fazendo contas e  mesmo com o parecer de Fachin, podem estar achando que Dilma ganhou um pouco de fôlego. E por isso podem querer pular do barco o mais rápido possível para só perder os anéis num momento onde muitos podem perder os dedos. A queda de Cunha não é um fato político qualquer. Embaralha as cartas de novo e reabre um jogo que está embaralhado há ao menos um ano. Se o governo mudar a política-econômica, dando uma nova expectativa ao setor produtivo, e  reorganizar sua base parlamentar pode começar a sair da crise. Mas esse governo é especialistas em perder oportunidades. E a queda de Cunha também pode significar falta de um adversário que permite reorganizar o discurso. Uma coisa é certa, o fora Cunha cai com Cunha. E  talvez o governo não consiga aprender a viver sem isso.