O haraquiri realizado por 131 deputados que votaram contra a cassação do mandato de Natan Donadon, mais os 41 que se abstiveram e ainda os 104 que se ausentaram não trará prejuízos apenas à imagem do Congresso. Afeta toda e qualquer atividade política. E contribui para a sua criminalização.
Alguns podem afirmar que Donadon foi condenado injustamente. E que o Congresso teve a coragem de preservar a sua dignidade mesmo contra os desígnios do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas o fato é que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara recomendou a sua cassação. E que não houve deputado corajoso para fazer campanha pública a favor de Donadon.
Os deputados só não o cassaram porque podiam votar a favor dele como se estivessem surrupiando algo na surdina. Já que o voto secreto é isso. É roubar do eleitor o direito de ele saber o que pensa e faz o seu deputado.
O fato é que a votação de quarta-feira (28) é mais um elemento da grave crise do nosso sistema de representação.
Uma pessoa que é eleita para representar outras não pode ter o direito de votar de forma secreta. As ações de um representante têm que ser absolutamente transparentes para que os seus representados possam pressioná-lo. Os deputados que querem recuperar a imagem do Congresso deveriam se unir, independente de siglas partidária, para aprovar o fim do voto secreto o quanto antes.
Isso seria como colocar um esparadrapo na ferida aberta na quarta, mas já sinalizaria que nem todos são iguais na Câmara.
A presidenta Dilma também tem que se posicionar a respeito do que ocorreu, porque parte do custo da operação Donadon será pago por ela. Ontem nas redes sociais muita gente aproveitava a lambança para combatê-la. Como se o governo tivesse operado a favor de Donadon.
E de algumas formas as críticas fazem sentido. O governo e os parlamentares que não se associam a este tipo de prática têm que fazer algo urgentemente. Não podem ficar assistindo à degradação da política como se isso não lhes dissesse respeito.
Quando as ruas voltarem a ficar cheias não vai adiantar tentar criminalizá-las. Será até uma atitude covarde fazer isso. O crime contra a política está sendo cometido de outras maneiras. E pelos políticos.