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Fiquei muito tentado em colocar o seguinte título nesta matéria: "Mídia técnica da Secom é igual a sexo anal sem dor para a mulher é possível"'. Mudei na última hora por achar que ele poderia ser mal entendido. O fato é que uma matéria cujo título é "sexo anal sem dor para mulher é possível" é a segunda mais lida do site "Bolsa de Mulher". Um projeto "bacaníssimo", nas palavras de Roberto Messias, secretário-executivo da Secom. E por isso recebeu 580 mil do governo federal em 2012. A matéria campeã de audiência é : "Conheça as 7 posições sexuais que mais estimulam o prazer". Mas há outras tão "interessantes" quanto: "aspirador de pó é essencial para limpar persianas". Ou ainda: "Guia do pênis: entenda como ele funciona e dê mais prazer ao parceiro".
A revelação da lista de investimentos em internet da Secom em 2012 é da Conceição Lemes, minha colega do Viomundo. E a íntegra da matéria pode ser lida aqui.
A ministra Helena Chagas e o seu estafe provavelmente vão dizer que o Bolsa de Mulher tem uma audiência extraodinária, além de ser "bacaníssimo". Como sabia que este argumento viria à tona, fui ao Alexa, site que permite verificar a audiência na internet, para comparar alguns dados.
No Brasil, a Revista Fórum está na posição 1.247 entre todos os sites do mundo que aqui podem ser acessados. Posição muito parecida com a da Carta Maior, que está em 1.066 e foi um dos projetos da mídia alternativa que conseguiu figurar entre os que recebeu recursos do governo federal em 2012. O Bolsa de Mulher é o site 676. De fato, algumas posições à frente tanto da Fórum quanto da Carta Maior. Mas convenhamos, nada tão significativo assim que justifique que ele receba em mídia digital 580 mil e a Fórum algo próximo a uns 10 mil em 2012.
Com um pequeno detalhe, Fórum e Carta Maior têm colunistas importantes e fazem jornalismo. Já o Bolsa de Mulher se utiliza de uma estratégia muito conhecida na dinâmica das redes. Um profissional antenado e com alguma formação em SEO (Search Engine Optimization) identifica frases e palavras que se repetem nas buscas do Google. Por exemplo: "posições sexuais e prazer". Nem precisa ser bom de SEO para saber que isso é algo que muita gente procura em buscadores. E aí você faz uma matéria sobre isso e com essas palavras-chaves no título. Quando alguém procurar isso no Google, serão grandes as chances de acabar no seu site. Acontece que sites assim costumam ter uma média de minutos por visitante bem menor do que os com conteúdo de fato. As pessoas chegam nele e logo caem fora. Por isso, quem distribui verbas com algum tipo de critério, leva isso em consideração. Qualidade da informação é sempre um critério para a escolha de um veículo. Em internet, tempo que o leitor permanece por visita no site também.
Podemos ilustrar essa história com outra frase: "sexo anal sem dor". Muitas pessoas devem procurar informações sobre isso no Google. Por isso, o "jornalismo" ao estilo "bolsa de mulher" não perdeu a oportunidade de fazer uma nota sobre o tema. E de tão "bacaníssima" que foi a ideia, a nota é a segunda mais lida do site.
Usar este recurso do SEO para melhorar títulos e chegar a um número maior de pessoas é legítimo. Mas aceitar que esse expediente seja utilizado como referência para distribuir verbas públicas demonstra o nível de degradação que a suposta "mídia técnica" da Secom chegou.
Qualquer pessoa que tiver algum conhecimento de internet e um pouco de "simancol" e vier a visitar o site Bolsa de Mulher vai verificar que os quase 600 mil investidos neste projeto apenas em 2012 podem ser um pouco demais da conta. Pra dizer o mínimo.
A jornalista Conceição Lemes escreveu no seu post que a ministra Helena Chagas não conhecia o Bolsa de Mulher quando foi entrevistada. Se porventura ela foi enganada em relação a qualidade do produto, precisa urgentemente tomar uma atitude. Não se pode aceitar que um site machista e sexista, que entende mulher como um objeto de cama e mesa, receba quase 600 mil reais do governo federal, quando sites de caráter bem mais educativos minguam por falta de apoio.
É algo absolutamente chocante. Ou melhor, um deboche. Isso só pode ser classificado como um verdadeiro deboche com quem busca construir veículos independentes e de qualidade no Brasil.