A matéria que segue é do Diário da Região de São José do Rio Preto e foi produzida pelos jornalistas Rodrigo Lima e Alexandre Gama.
É impressionante a riqueza de detalhes com que o lobista Alcides Fernandes Barbosa narra como uma quadrilha que operava a licitação para inspeção veicular no Rio Grande do Norte também atuava em São José do Rio Preto e nas grandes obras do Estado de São Paulo como o Rodoanel e a calha do Tietê. E como operava na Dersa (de Paulo Preto) e no Daee.
Leia com atenção e atente para um detalhe. Rio Preto é a cidade do senador Aloysio Nunes Ferreira, que admitiu ser amigo de Paulo Preto que, inclusive, em nome da boa amizade lhe emprestou, em 2007, 300 mil para pagar uma parcela do apartamento que o senador comprou em Higienópolis.
Segue a matéria:
Lobista: ‘Em Rio Preto era tudo uma fraude’
Rodrigo Lima e Alexandre Gama
Ao longo de mais de 8 horas de depoimento prestados ao Ministério Público potiguar em que detalhou o suposto esquema de fraude no RN, aos quais o Diário teve acesso na íntegra, Barbosa se disse surpreso com o fato de o Ministério Público de Rio Preto ainda não ter iniciado investigação sobre as licitações realizadas pela Prefeitura. “Não sei porque o MP em Rio Preto não entrou ainda. Em São José do Rio Preto era tudo uma fraude.”
A operação Sinal Fechado, desencadeada em novembro de 2011, acusou Tavolaro de prestar assessoria jurídica para a quadrilha na elaboração de edital e projeto de lei para serviço de inspeção veicular naquele Estado que renderia até R$ 1 bilhão em 20 anos para o grupo. A denúncia atingiu também a ex-secretária de Administração de Rio Preto, Eliane Abreu, que teria também prestado serviços jurídicos a pedido do ex-procurador. A denúncia contra ambos, porém, foi rejeitada pela Justiça.
O lobista, apontado pelo MP como “sócio oculto” de Tavolaro, revelou em delação premiada que “todas as empresas que iam prestar serviço em Rio Preto eram colocadas numa sala no escritório de São Paulo e saia dali pronto. Todos os editais de Rio Preto eram feitos em São Paulo. Todos”, afirmou ele, que citou especificamente a licitação para compra de uniformes. Pelas mãos de Tavolaro passaram, em quase três anos, cerca de R$ 120 milhões em licitações, como para obras antienchente e núcleos da esperança e os serviços de coleta do lixo e transporte coletivo.
“O Tavolaro tem um nome muito forte em São Paulo. É muito respeitado”, afirma aos promotores, que o questionam de onde viria tanto prestígio. “Em São Paulo, até hoje, os editais grandes passam pelo Tavolaro. Ele fez o Rodoanel, a calha do Tietê. Todas as grandes obras é o Tavolaro”, afirmou Barbosa, lembrando que antes de Rio Preto o advogado atuou como procurador jurídico no Dersa e no Daee. Em relação à sua atuação em Rio Preto, o lobista se referiu a Tavolaro como “o cérebro”, “o cara” da administração. “O prefeito não faz nada sem ele.”
A acusação de que o ex-procurador teria recebido um carro de empresa vencedora de licitação foi feita quando relatou a conversa que teve com advogados que teriam sido contratados por Tavolaro, por R$ 400 mil, para tirá-lo da cadeia. Uma das condições era manter o silêncio em relação ao contrato de inspeção veicular em Natal. “Não pode falar também do contrato das casas em Rio Preto e não pode falar do carro que ele colocou no meu nome, que ele ganhou de uma empresa de Rio Preto em uma licitação.” Sobre as passagens aéreas para uma viagem a Natal, elas teriam sido pagas, segundo ele, pela Constroeste, que nega a acusação.
Em determinado momento de seu depoimento, o empresário reclama que foi prejudicado em Rio Preto num contrato envolvendo a construção do Parque Nova Esperança. Segundo ele, sua empresa, a ATL Premium, que deveria receber R$ 4,2 milhões, teve o valor reduzido para R$ 1,5 milhão. “Era o contrato da minha vida.” Segundo ele, Tavolaro teria lhe relatado que “o prefeito tá achando que você está ganhando muito.”
Ele afirmou ainda que tem “muita coisa para falar” sobre Rio Preto e que está “à disposição” do Ministério Público local se houver interesse. “Queria falar desde o primeiro dia. Nunca fugi. É que eu não tinha acesso aos promotores (de Rio Preto.) Lá tenho muita coisa para falar. Eu estava preso”, disse o lobista.
Segundo o empresário, após a operação Sinal Fechado, o ex-procurador ficou com “medo de estar sendo monitorado pelo MP de Rio Preto”. “Ninguém em Rio Preto sabia do escritório em SP. Thaís (sobrinha de Tavolaro) foi atender telefonema de um jornalista que estava pegando no pé do Tavolaro e ela deu o endereço. Tavolaro ficou louco e levei tudo (documentos) para a minha casa”, afirmou Barbosa.
Segundo o lobista, ele e Tavolaro se conheceram por conta de um projeto habitacional que seria construído na região da subprefeitura de São Mateus, que tinha Clóvis Chaves como o responsável pelo projeto. O lobista disse que Tavolaro e ele tinham uma relação de “irmão” e, além disso, Tavolaro queria se aproximar do senador Aloysio Nunes (PSDB).
Assista os vídeos gravados pelo Ministério Público durante delação premiada do lobista Alcides Fernandes Barbosa, que fez graves denúncias contra o ex-procurador-geral do município Luiz Antonio Tavolaro e contra o prefeito de Rio Preto, Valdomiro Lopes (PSB).
Parte 1:
Parte 3:
Fonte: site www.nominuto.com
Valdomiro acionou polícia contra lobista
O prefeito de Rio Preto, Valdomiro Lopes (PSB), disse ontem que está sendo “vítima” de “extorsão” e que as denúncias do lobista Acides Barbosa contra ele e seu governo podem ter conotação política. “Estamos vivendo a proximidade das eleições. Esse fato me estranha muito.” Ele se disse “tranquilo” em relação ao depoimento do lobista ao Ministério Público, que ele disse não ter tido acesso e por isso não comentaria seu conteúdo. “Se é delator é porque foi preso e é bandido. Nosso governo é sério, correto e não participa desse tipo de coisa”, afirmou ele.
Ontem, Valdomiro afirmou que na última semana Barbosa teria ido à Prefeitura para conversa com o chefe de gabinete, Alex de Carvalho. Sem sucesso, teria sido recebido pelo procurador Luís Roberto Thiesi. “Procurou o dr. Thiesi e disse que estava em Rio Preto porque no dia seguinte teria audiência com o Ministério Público. Mas antes queria falar com o Alex. Disse que tinha uma diferença do contrato com a construtora que fez as casas e queria receber”, afirmou o prefeito, que disse já ter acionado a polícia.
“Relatei o ocorrido ao delegado seccional, José Mauro Venturelli, que nos aconselhou a receber o Alcides. Para que quando ele aparecesse, chamassemos a polícia para tomar seu depoimento”, disse o prefeito. Segundo Valdomiro, Barbosa teria marcado um encontro para a última quarta-feira, às 15 horas. “Estávamos de prontidão, mas às 14 horas ele ligou e disse que não viria mais.”
Sobre as denúncias feitas pelo lobista em depoimento ao MP, a assessoria de Valdomiro afirmou que ele não as comentaria pois não teria tido acesso à íntegra da delação, que tem mais de 8 horas. “Não permitirei que bandido manche a honra do nosso governo”, se limitou a dizer. Valdomiro lembrou que a denúncia contra seu ex-procurador-geral Luiz Tavolaro não foi recebida e avisou que não fala com ele desde sua saída do gverno, em dezembro.
Delação premiada
O benefício da delação premiada oferecido a Alcides Barbosa permitiu ao lobista que depois de quase quatro meses ele deixasse a cadeia. Após o depoimento, ele foi solto em abril deste ano. Ele é apontado pelo Ministério Público potiguar como elo entre a quadrilha do Rio Grande do Norte e políticos de São Paulo que tentou implantar sistema de inspeção veicular em toda frota do Estado potiguar.
Tavolaro: ‘é um cara doido’
O ex-procurador-geral do município Luiz Tavolaro classificou como “delação desesperada” as acusações feitas pelo empresário Alcides Fernandes Barbosa contra ele e o prefeito de Rio Preto, Valdomiro Lopes (PSB). “É um cara doido. Foi uma forma desesperada de sair da prisão”, afirmou Tavolaro.
Em troca das informações prestadas ao Ministério Público do Rio Grande do Norte, Barbosa deixou a cadeia e, atualmente, está em prisão domiciliar. Tavolaro afirmou que ainda não assistiu a todo o vídeo da delação premiada do ex-sócio, mas disse que ele “inventou muita coisa.” “Há diversas contradições no depoimento dele”, disse Tavolaro. “Muita coisa criou da cabeça dele”.
O ex-procurador-geral do município negou que tenha recebido de empresa carro, conforme acusou lobista. Ele negou ainda que tenha tido acesso a passagens aéreas pagas pela empresa Constroeste. “Nada a ver. A única vez que fui a Natal com o Alcides (Barbosa) foi ele quem pagou a passagem para visitarmos o João Faustino”, disse Tavolaro. Faustino atuou como subchefe da Casa Civil em São Paulo no período em que o senador Aloysio Nunes (PSDB) era o secretário da Casa Civil no governo de José Serra (PSDB).
Uma das passagens pagas pela empresa seria destinada ao ex-prefeito da subprefeitura de São Mateus em São Paulo Clóvis Chaves. Ele, porém, não chegou a viajar a pedido de Tavolaro para se encontra com Faustino. O procurador-geral do município afirmou ontem que está “tranquilo” em relação ao caso. Ele negou qualquer envolvimento de Valdomiro em irregularidades. “Refuto isso veementemente. Ele (Barbosa) prestou esse depoimento para sair da cadeia”, afirmou.
Tavolaro negou ainda ter pago R$ 400 mil por um habeas corpus em favor do lobista, que o visitou ao menos uma vez na Prefeitura de Rio Preto. “Isso é coisa de maluco. Me dá esse dinheiro que vou parar de trabalhar”, disse. O promotor de Justiça Sérgio Clementino afirmou que não recebeu Barbosa em sua promotoria. Ele afirmou que iria analisar hoje a reportagem do Diário para requisitar cópia da delação premiada do lobista junto ao MP do Rio Grande do Norte.