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A ministra Ana de Holanda está desde ontem pela manhã em São Paulo. Ontem cedo esteve num dos mais belos projetos da cidade, o Pombas Urbanas. Passou pela capela de São Miguel Paulista e depois se reuniu com a bancada do PT na Assembleia Legislativa para discutir sua situação no ministério.
O tom da reunião de ontem foi o de garantir apoio político para sua permanência no cargo. Entre os argumentos, um deles foi o de que “agora o ministério é do PT, tanto que a maioria dos cargos é ocupada pelo partido”.
De certa forma deu certo, a bancada ficou de ajudá-la e a ministra indicou um assessor que a partir de agora fará ponte com a bancada estadual para discutir demandas ligadas à área de cultura.
As pessoas costumam não gostar desse tipo de coisa, mas política se faz assim. Articulando daqui e dali e buscando saídas para o isolamento.
O PT identificou que a ministra estava ficando isolada e resolveu fazer um movimento de aproximação. Até porque Ana de Hollanda vinha reclamando que “as fofocas para desestabilizá-la vinham de petistas interessados em derrubá-la”.
Uma das lideranças identificadas por ela como artífices da sua queda é o ex-ministro José Dirceu. A ministra não perdoa o fato de Dirceu ter publicado no seu blogue uma entrevista com o professor da Universidade Federal do ABC, Sergio Amadeu.
Até ontem à noite tudo ia muito bem. Hoje à tarde, porém, a temperatura mudou na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Aproximadamente 300 pessoas lotaram o auditório Paulo Kobayashi para ouvir Ana de Hollanda. O ambiente era favorável. Havia muitos petistas ligados à cultura que tinham sido convocados pelos deputados.
A “turma dos descontentes” era minoria.
Mas o discurso da ministra fez o clima mudar. Ana falou, entre outras coisas, em preparar a cultura para uma fase mais independente do governo, mais sustentável, o que foi entendido por parte da platéia como um sinal de mais mercado na cultura. Como algo neoliberal, na linha dos tempos de Weffort na gestão FHC.
E entre outras coisas, não fez referências à cultura popular e nem à cultura digital. Sendo que desde quinta-feira seus assessores negociam pontos para incorporar à política do ministério na área de cultura digital.
Após o discurso de Ana, a primeira intervenção foi a da deputada estadual Leci Brandão (PCdoB). Leci cobrou compromisso com a cultura popular e perguntou se haveria continuidade do projeto com os mestres Griôs. Foi aplaudidíssima.
Os discursos e cobranças foram se somando, passando pelo do advogado do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) Guilherme Varela, que apresentou dados de uma pesquisa à ministra dizendo que o Brasil estava entre os países com as piores leis de direitos autorais, até chegar à leitura da Carta à presidenta Dilma. O ápice, no entanto, foi a fala do diretor de teatro José Celso Martinez Correa.
Antes de Zé Celso falar, porém, a ministra disse que não comentaria a carta à presidenta Dilma porque não se tratava de uma carta dirigida a ela.
Zé Celso que minutos antes havia sido saudado por Ana como “um ícone da cultura brasileira” começou seu discurso dizendo que a ministra não poderia ignorar a carta que acabara de ser lida porque ela tocava em pontos muito importantes do cenário cultural brasileiro.
Também reafirmou que não era contra Ana, que gostava dela, mas que achava que o ministério estava dialogando pouco com a sociedade. E que a ministra não poderia ter deixado o orçamento da cultura ter sido cortado da forma que foi sem ter enfrentado esse debate no governo.
Depois disso, o evento que havia sido preparado para se tornar um ato de desagravo a Ana de Hollanda, desandou. Os deputados foram esvaziando a sala e a platéia foi saindo resmungando do que havia ouvido. Anticlímax.
Ana de Hollanda tem tratado as divergências políticas e programáticas do movimento social com as diretrizes que ela tem apresentado para o novo MinC como uma questão pessoal. Isso ficou evidenciado novamente no encontro de hoje.
Por diversas vezes fez referência a sua história no ambiente da cultura, principalmente de caráter popular. Como se isso, lhe garantisse o direito a tocar o MinC sem o exercício do contraditório.
Isso não existe em política.
O que não significa que aqueles que querem debater os rumos do ministério desejem sua queda.
Se Ana de Hollanda tivesse um pouco mais de habilidade, essa crise do MinC teria sido resolvida no primeiro mês de governo.
Ela tem preferido o confronto.
O curioso é que o discurso atual é de vitimização. Na linha de que há uma campanha sórdida para derrubá-la.
O que a ministra precisa é olhar com mais atenção para as demandas dos movimentos sociais da cultura, que são muito mais importantes para um governo como o de Dilma, do que a viciada indústria cultural.