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Na noite desta terça-feira estive num evento para debater questões da cultura com Aloísio Mercadante. Foram três horas de conversa com aproximadamente 180 pessoas que passaram pelo Espaço Cultural Rio Verde, na Vila Madalena.
Para quem não conhece São Paulo, a Vila Madalena é o bairro descolado da cidade, freqüentado por boêmios, estudantes universitários e gente do universo cultural. Um daqueles lugares que torna São Paulo uma cidade possível. Um daqueles lugares que boa parte dos paulistanos gostaria que fosse a cara da cidade. Mas que ainda está longe de ser.
O encontro de ontem serviu para que o candidato ouvisse uma galera que não faz parte do mainstream cultural midiático. Gente mais conectada a movimentos como Hip Hop, à cultura digital, à produção de periferia, às rádios comunitárias e a todo esse espaço midialivrista e altermundista.
Quem participou do centro da organização, que foi realizada em formato de rede, foi o Sergio Amadeu e os irmãos Anitelli (Fernando e Gustavo), da trupe do Teatro Mágico.
Mercadante mais ouviu do que falou. E pareceu bem impressionado como o fato de que há algo muito novo na cena cultural que pode ser também o fato novo para essa sua nova candidatura.
O Fernando, do Circuito Fora do Eixo, foi o primeiro a falar e registrou que hoje há uma grande defasagem de políticas públicas de cultura no Estado de São Paulo. Que o próximo governador terá de resgatar investimentos nessa área que atinjam setores mais amplos.
Cláudio Prado, da Casa de Cultura Digital, afirmou que é o setor público precisa investir no que há de mais subversivo nos últimos 200 anos, o digital. E que se Karl Marx fosse vivo ele estaria militando nessa área.
Sérgio Vaz, da Cooperifa, convidou o candidato a ir ao Bar do Zé Batidão, numa quarta à noite, e reafirmou o que tem dito por aí: a periferia vive sua Primavera de Praga.
Célio Turino, candidato a deputado federal e que foi responsável pelo Programa dos Pontos de Cultura no Minc, cobrou de Mercadante que se comprometa a investir 1,5% do orçamento do Estado em Cultura. E sugeriu um Ponto de Cultura em cada escola.
Crônica Mendes, do Hip Hop, cobrou que os investimentos de cultura sejam dirigidos também à periferia. Que se instalem aparelhos culturais de qualidade fora do centro.
Jerry, da Abraço, falou da democratização dos meios de comunicação e pediu ao candidato que se comprometa com essa luta.
Ed Rock, dos Racionais, concordou com Jerry e disse que o pessoal do hip hop só tem uma rádio para tocar. E paga jabá para aparecer por lá.
Leci Brandão disse que o samba de São Paulo está indo pelo mesmo caminho que trilhou o do Rio e está perdendo suas raízes. Que é preciso tornar as quadras de escola de samba em espaços permanentes de cultura. O candidato disse sim.
Este blogueiro também deu seu pitaco e sugeriu que contra a visão privatista e pedagiada do atual esquema que governa São Paulo, Mercadante se contraponha com um programa de governo onde a estrada do futuro seja livre.
E que isso começa por banda larga gratuita para todos e um laptop por aluno da escola pública.
O candidato se comprometeu com banda larga em todas as escolas públicas e com o objetivo de que os alunos tenham seus laptops, iniciando o programa por aqueles que estão nas séries finais. Acha inviável a banda larga gratuita para todos. Não acho. Mas isso é conversa para outro post.
Mercadante falou com tranqüilidade sobre todos os temas. E pediu que no próximo evento a convocação se amplie para que a cultura mostre sua força e possa assim deixar de ser a cereja no bolo das políticas governamentais, passando a disputar o bolo.
A impressão que ficou do encontro é que há um Mercadante mais tranqüilo e menos pressionado nessa disputa eleitoral. O fato de seu nome ter sido escolhido pelos partidos da base de Lula sem que ele trabalhasse para que isso acontecesse, parece estar lhe fazendo bem.
A disputa em São Paulo será muito difícil e as suas chances são pequenas. Numa escala de zero a dez, com generosidade, dois. Mas essa pequena chance é mais real do que há quatro anos. E mais real ainda do que em quase todas as outras disputas entre PT e PSDB no estado.
Entre outros motivos porque há um desgaste do governo tucano em São Paulo, inclusive, porque ele é muito mais midiático do que real.
Depois porque pela primeira vez se constrói um palanque estadual forte que permitiu um bom tempo de TV e apoio, por exemplo, de todas as centrais de trabalhadores, afora o apoio quase total do movimento popular.
Se Dilma vier a ganhar no primeiro turno e Mercadante for para o segundo com até 10 pontos de distância de Alckmin, o jogo zera. E aí Geraldo Alckmin corre o risco de ter de ir acompanhar Serra no esquema de aposentadoria tucana, que já tem FHC como presidente de honra.
Para superar o passado é preciso falar do futuro. A chance de Mercadante nesta eleição é mostrar que o estado de São Paulo pode ser algo muito mais interessante. E que isso passa por dirigir uma parte significativa dos investimentos para o campo das humanidades, criando espaços onde se viva mais a cultura como elo integrador entre os homens. E entre eles e a natureza.
São Paulo tem como construir isso. E hoje tem gente fazendo isso acontecer em muitos espaços. Algumas dessas pessoas estavam na reunião com Mercadante na noite de ontem.