Quem vem depois do Temer? A pergunta está aí. O certo é que o Brasil está bagunçado... Há quem diga que virou uma baderna. Epa! Isso não!
O ministro da Defesa, Raul Jungman, procurou justificar a entrega às Forças Armadas a missão de ocupar Brasília, dizendo que estava acontecendo uma baderna na cidade, e os militares iriam lá para acabar com essa “baderna”. Ele, como ex-comunista, devia – como se diz – lavar a boca para falar da Baderna, personagem de quem sou fã. E deveria ser fã também se mantivesse um pouquinho do espírito rebelde que todo comunista, anarquista, socialista e qualquer tipo de libertário deveria ter. Baderna com B maiúsculo mesmo. Viva ela! E abaixo ele, ex-comunista que migrou com seus companheiros para o direitista PPS, partido que se comporta como ex-marido ciumento que odeia a ex-mulher.
Antes de falar dela, Baderna, quero afirmar que nunca fui filiado nem me identifiquei com os partidos comunistas (PCB e PC do B), só que não sou inimigo deles, e também que – embora tenha uma utopia anarquista – não tenho simpatia pelos black-blocs. Desde 2013, quando eles detonaram bancas de jornais e pequenas lojas achando que isso era lutar contra o capitalismo eu vejo neles uma confusão mental e ações equivocadas. Além disso, se eu for adotar uma cor para bandeira das minhas causas, não vai ser black, nem white, nem red, nem blue, nem green... Torço o nariz pra quem prefere, em princípio, usar palavras gringas para se identificar.
Mas voltemos ao ministro e, principalmente, à saudosa Baderna.
O PPS é um partido de direita, repito, de gente que foi comunista e se tornou anticomunista radical. O PFL, partido ideologicamente direitista que vinha decaindo com essa sigla, virou DEM, tem sido aliado preferencial do PPS em tudo quanto é eleição. Isso basta pra saber qual é a linha política real do PPS.
Agora, a Baderna. Gloriosa baderna! Em 1851, aportou no Rio de Janeiro uma companhia de dança vinda da Itália, que estava ocupada pela Áustria e os artistas se negavam a fazer qualquer atividade cultural no país até que ele fosse desocupado. Uma bailarina dessa companhia era Marietta Maria Baderna.
Moça bonita e libertária, rebelde, contestadora, ela tinha atitudes incomuns e incorporou aos passos da dança clássica uns elementos do lundu, dança de origem africana, considerada muito sensual e malvista pela sociedade conservadora e escravista da época. Décadas depois disso a grande compositora Chiquinha Gonzaga ousou fazer músicas com elementos do lundu e foi considerada uma contestadora por isso. Era mesmo.
O certo é que, linda e sensual, Marietta Baderna fazia furor no Rio de Janeiro. Seus fãs exaltados passaram a ser chamados de “os badernas”. Aí, quando aparecia um grupo fazendo barulho, diziam: “lá vem a Baderna”. Foi assim que a palavra baderna virou sinônimo de bagunça, confusão.
Fora todos!
Mudar para continuar a mesma coisa. Isso é o que andam planejando os políticos de sempre e quem manda neles, procurando um nome “palatável” para ser o pós-Temer numa eleição indireta. Nada de diretas! Tem que ser alguém que se proponha a fazer o que eles querem, reformas que garantam a perda de direitos dos trabalhadores, a grilagem deslavada de reservas ambientais, a tomada de terras indígenas e outras sacanagens.
Sim, a situação política está braba. E isso pode dar em bons resultados ou em porcaria. O “fora todos” faz alguns bobões terem saudade da ditadura.
Quem poderia ser presidente e colocar o Brasil “nos eixos”, como dizem? Mas não “nos eixos” do jeito que esses vampiros querem. Um “nos eixos” que preserve direitos e seja a favor dos trabalhadores.
Desde 2014 ouço discussões sobre isso. Naquela época já existia em muita gente o sentimento de “fora todos”. E conversei em botecos especulando sobre o assunto.
Naquela época, eu me lembrei da Argentina, que passou por uma situação terrível em 2000 e 2001. Lá, chegou ao ponto de ter manifestações fechando estradas, houve uma substituição recorde de presidentes, um deles me parece que durou um dia. E a palavra de ordem era “Que se vayan todos!”. Fora todos. Estavam enojados de todos os políticos.
Aí apareceu Néstor Kirshner, que foi governador de Santa Cruz, provinciazinha desimportante da Patagônia, que tinha pouco mais de um milhão de habitantes. Na juventude, Kirshner foi militante de esquerda, e continuava sendo. Será que um sujeito que governou uma província como Santa Cruz tinha condições de governar o país inteiro?
Ele foi eleito em eleições diretas, não num simulacro de eleição como querem os políticos tradicionais daqui. Assumiu o governo e, como presidente, privilegiou as atividades produtivas e geradoras de emprego. Em quatro anos de seu governo, o poder aquisitivo dos salários e das aposentadorias se multiplicou por quatro. Ah... Isso não agradaria os capitalistas daqui e suas marionetes políticas, que querem que os aposentados morram. Quer dizer, aposentados que trabalharam muito para conquistar uma aposentadoria que nem um pouquinho lembra o que deveria ser, uma fase de “ócio com dignidade”. Os aposentados deles, que ganham mais de trinta salários mínimos tendo trabalhado pouco ou nada, continuariam com suas mamatas.
Num desses papos de boteco, perguntei quem poderia ter o aqui o papel que Kirshner teve lá. Cristina Kirshner, mulher dele, era presidente na época. Foi eleita depois Néstor Kirshner e, depois que ele morreu, não conseguiu dar continuidade ao processo de melhora do país. Mas isso é outra história. O certo é que Kirsnher, enquanto presidente, levantou a Argentina.
Discutimos isso e a pergunta sobre quem poderia ser o “Kirshner brasileiro”. Alguém lembrou-se do Cristóvão Buarque. Originário da esquerda, fez um governo decente no Distrito Federal, que é muito mais importante aqui do que Santa Cruz na Argentina.
Um cara torceu o nariz: “Ele foi governador pelo PT”. Mas lembraram que não era mais. Depois de governador do Distrito Federal, foi eleito senador e nem assumiu o cargo imediatamente, foi ser ministro da Educação do governo Lula. Mas levou uma rasteira do presidente. Estava numa missão em Lisboa, recebeu um telefonema e foi demitido por telefone. Coisa inédita. Estava no meio de uma reunião.
Assumiu o cargo de senador, para o qual foi eleito, saiu do PT e se filiou ao PDT. Foi reeleito senador e continua no cargo até hoje. No papo de boteco, a maior parte achou que ele tinha condições de fazer aqui o que Kirshner fez na Argentina.
Eu mesmo via o Cristóvão com um pouco de simpatia. Mas depois ele saiu do PDT, foi para o PPS de Roberto Freire e do Jungman, partido que vive à sombra do PSDB e – como já disse – tem o PFL, vulgo DEM, como aliado preferencial. Ou seja, adeus Cristóvão...
Não tenho me encontrado com esses parceiros de discussão em botecos. Uns morreram, outros não vão mais a botecos e o meu boteco preferido fechou as portas. Mas quando encontro um sobrevivente por aí, nós nos lembramos dessas conversas e pergunto: quem? Aí nos lembramos dos personagens “possíveis”, e vejo meus colegas de discussão chacoalhando a cabeça para a direita e para a esquerda, e falando: esse não.
Não que não haja gente e jeito para fazer isso. As “soluções” que querem é que não prestam. Enfim, que bicho vai dar? Não sei. Minha bola de cristal está sem imagem.