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Na real, as andanças do ex-metalúrgico não miram o enfrentamento do ano que vem. No pacote está a desmoralização de um governo que demonstra incrível capacidade de se manter no poder.
Por Gilberto Maringoni
É bem possível que quanto maior o êxito das caravanas de Lula, maior seja o desejo dos golpistas de tirá-lo da disputa de 2018. Ou seja, quanto mais forte, mais incômodo ele se torna.
No entanto, dados os sinais já emitidos pelo ex-presidente - acenos a Meirelles em especial - é pouco provável que uma futura gestão embuta surpresas para os de cima.
Na real, as andanças do ex-metalúrgico não miram o enfrentamento do ano que vem. Lula está - corretamente - disputando 2017, ano que demorará muito a terminar. No pacote está a desmoralização de um governo que demonstra incrível capacidade de se manter no poder e, secundariamente, a denúncia das reformas e arbitrariedades em curso.
Embora tenha abraçado caciques peemedebistas - como Renan Calheiros e Jackson Barreto - e uma latifundiária como Katia Abreu, Lula não está errado nesse quesito. Busca atrair dissidentes do lado de lá. Não logra, no entanto, angariar apoio entre setores expressivos do capital.
Sua campanha - e a impressionante comoção popular que suscita - é que preocupa o outro lado. O verbo do ex-mandatário tem servido para, indiretamente, recolocar no prumo a autoestima de largos contingentes da população e ampliar a insatisfação com a deterioração das condições de vida.
Nada indica que essa possível consciência se transforme em movimento efetivo. Mas funciona para as classes dominantes como o fantasma da revolução negra no Haiti (1804) funcionou nas décadas finais da escravidão. O medo de uma rebelião incontrolável era externado em salões e na imprensa para que o abolicionismo não se transformasse em campanha de rua.
O mais provável é que Lula siga como um leão desdentado. Ruge, mas não morde. Mas sua ação atual alarga espaços democráticos e coloca á luz do dia o descontentamento latente.
Por isso, quem teoriza algo como o "pós-lulismo" ou a "superação do lulismo" deve levar em conta não o programa que o líder tem na cabeça, mas sua impressionante capacidade de mobilizar multidões. São essas que acendem o sinal amarelo para a malta de jagunços homiziados em Brasília e nos postos de comando do financismo.
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula/Fotos Públicas