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Por que PT não deve compor com golpistas para participar da mesa da Câmara e do Senado
Julian Rodrigues*
Pegou fogo nos últimos dias o debate sobre a posição das bancadas do PT no Congresso na eleição das novas mesas diretoras.
A discussão extrapolou, em muito, as instâncias burocráticas ou “internas” do Partido e se espalhou pelas redes sociais e pela militância de esquerda.
Prova da vitalidade do Partido dos Trabalhadores. Prova da importância do PT no campo democrático-popular, na luta contra o golpe, pela democracia e por transformações estruturais.
Reparem que o PCdoB informou que votará em Rodrigo Maia, o atual presidente da Câmara, que se compromete a acelerar as reformas golpistas, destruindo os direitos sociais e trabalhistas. Tal posição quase não repercutiu É como se a militância já esperasse isso do PCdoB, notável por seu pragmatismo.
Já a possibilidade do PT apoiar Rodrigo Maia ou Jovair Arantes (relator do “impeachment” de Dilma) gerou revolta na base petista e no ativismo de esquerda, em todos os níveis.
O argumento de parte dos parlamentares (e dirigentes) petistas é que o PT não pode abdicar de influenciar o Congresso na medida de seu tamanho e de sua representatividade. E, como grande partido deve se fazer presente nas mesas diretoras e comissões.
Um argumento válido e respeitável, caso estivéssemos em CNTP (condições normais de temperatura e pressão).
Mas, não! Houve um golpe parlamentar-judiciário-midiático. Fomos apeados do governo federal e isolados na sociedade e no parlamento.
Quem resistiu ao golpe? Os movimentos sociais e a base militante da esquerda brasileira.
Existe uma enorme crítica, desilusão, questionamento à estratégia geral de conciliação do período Lula e às medidas neoliberais do governo Dilma, bem como à burocratização do PT.
E como o Partido responde a esse cenário? Abrindo um debate real sobre o balanço do período? Pensando uma nova estratégia? Se reaproximado dos movimentos sociais? Adotando uma postura radical de enfrentamento ao governo Temer?
O que pode parecer “radical” hoje é apenas uma demarcação necessária para o atual período histórico. Fomos derrotados. Devemos assumir essa condição e atuar de outra maneira.
Chega de conchavos, de carguinhos, de discurso ambíguo, de relação cordial com golpistas neoliberais inimigos do povo. É hora de guerra. É hora de reconquistar credibilidade nos setores populares e também junto ao povo.
Um partido que compõe com seus algozes para garantir espacinhos no parlamento não será visto como possuidor de estatura política para liderar a reorganização da esquerda brasileira.
Nossos deputados, senadores e a maioria dos dirigentes deveriam dialogar com a base do PT e com a militância progressista, principalmente com os movimentos sociais.
Saiam um pouco dos ambientes de sempre, experimentem outros pontos de vista, que não a lógica da máquina burocrática.
O Brasil precisa do PT.
E o PT só vai ser relevante se conseguir reconstruir-se como uma ferramenta de mudanças profundas na sociedade brasileira. Para isso, vai precisar da confiança e do apoio da militância de esquerda, começando pelos próprios petistas.
Votar em Rodrigo Maia (ou Jovair) na Câmara e em Eunício (PMDB do Temer) do Senado é desmoralizante em um nível que só o cretinismo parlamentar não enxerga.
*Julian Rodrigues é professor, jornalista, ativista LGBT e dos direitos humanos e militante do PT-SP