Salete Maria: A cultura do Estupro é onipresente

Escrito en BLOGS el
capacordel NÃO À CULTURA DO ESTUPRO O estupro da menina Nos convida a pensar: Será essa a nossa sina? Temos que nos conformar? Ou temos que ir pra cima? Já que a luta nos ensina Que tudo pode mudar? A cada onze minutos Um estupro acontece E não é um bicho bruto Que da floresta aparece Com seu “instinto insano” E viola um ser humano Conforme lhe apetece É “gente civilizada” Que estuda ou labora Que cumpre sua jornada Que vai à missa e chora Mas estupra uma mulher Onde e quando bem quer Pois vê que ninguém dá bola E pratica a violência Achando que está certo Pois compartilha da crença De que o homem esperto Não perde a oportunidade De mostrar virilidade Pois sempre estará coberto Afinal nossa cultura Acha normal explorar O corpo de uma mulher Em tudo quanto é lugar Basta ver as propagandas E as letras d’algumas bandas Para ver como se dá A cultura do estupro Está em todo ambiente Desde a casinha mais simples Ao palacete imponente Passando pela imprensa Religião e ciência E no discurso eloquente A ob-je-ti-fi-ca-ção Da imagem da mulher A hiperssexualização Que o povo aplaude de pé É uma autorização Para a violação E quase ninguém dá fé Estuprar uma mulher Significa poder E nossa sociedade Ensina como fazer Quando educa diferente Ou mesmo quando consente Um homem nos ofender De onde vem a ideia Que a gente não tem valor? Quem criou essa epopeia Do macho devorador? Que pode nos estuprar Bater e até matar E divulgar com furor? Limpemos nossa retina Para enxergar a história E ver como essa cretina Ainda nos ignora Pois narra os grandes feitos Dos machos e seus direitos Deixando a mulher de fora Miremos as nossas casas Escolas e outros espaços Meninas são educadas A ter direitos escassos Meninos tem liberdade E andam pela cidade Sem ninguém seguir seus passos Escutemos as conversas Sobre os corpos femininos Atentemos para aquilo Que dizem nossos meninos Pra ver se não é igual Ao discurso social Machista e assassino Olhemos bem para as ruas E o assédio cotidiano Sob o sol ou sob a lua É só “fiu fiu” imperando E piadas de mal gosto Ditas bem perto do rosto Daquela que vai passando Olhemos para a política E os modos de governar Será que alguém acredita Que sexismo não há No comando do país Que hoje está por um triz Sem mulher para opinar Quem tem controle de tudo? Quem manda, quem determina? Quem acha que pode tudo? Quem explora e domina? Quem é “criado pra isto”? Quem acha que tem um visto Pra violar as meninas? Tudo é naturalizado Visto como algo banal Mas as práticas revelam O machismo estrutural Que ainda culpa a mulher Dizendo: “ela é quem quer Ser estuprada, afinal” O velho patriarcado Ainda está em vigor E o machismo é ofertado Como o melhor professor Nos planos de educação Por toda essa nação Sem ter o menor pudor Mas isso tem que mudar Pois é preciso ter fim O povo tem que acordar E o Estado enfim Precisa assumir a culpa E acabar com a desculpa De que as coisas são assim Pois se cada estuprador Responde pelo seu ato Conforme manda a lei E assim deve ser, de fato O machismo opressor Que tanta dor já causou Também pagará o pato Precisa ser extirpado Do convívio social Não pode ser tolerado Ou perdoado, afinal Tem que ser eliminado Morto e erradicado Via educação geral Pois se a cultura machista Ensina a maltratar E estuprar as mulheres Ou até mesmo matar Educar para a igualdade E para a diversidade É o que pode transformar Sobre isto o feminismo Tem muito a nos ensinar Já que fala de respeito De direitos, de lutar Fala de democracia Liberdade, autonomia E d’outras formas de amar Não à cultura do estupro Não à dor e à violência Não à exclusão de tudo Não à tanta conivência Não ao machismo perverso! E assim termino meu verso Pedindo mais consciência! Salete Maria Salvador-BA, 26/05/2016