Revolta e causa indignação um governador eleito pelo PT endossar sem investigação a ação da polícia, historicamente autoritária e não raro agindo fora da lei.
O uso de metáfora futebolística de modo tão inapropriado só aumenta a gravidade de como está sendo conduzida a ação do governo baiano diante da chacina de 12 jovens negros no Cabula:
Segundo Rui Costa é preciso, em poucos segundos, "ter a frieza e a calma necessárias para tomar a decisão certa". "É como um artilheiro em frente ao gol que tenta decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro do gol, pra fazer o gol", comparou. "Depois que a jogada termina, se foi um golaço, todos os torcedores da arquibancada irão bater palmas e a cena vai ser repetida várias vezes na televisão. Se o gol for perdido, o artilheiro vai ser condenado, porque se tivesse chutado daquele jeito ou jogado daquele outro, a bola teria entrado", continuou.
A matança da população jovem, do sexo masculino e da cor negra no país é algo tão naturalizada que não indigna e nem comove a população brasileira. Ao contrário, possíveis vítimas nas favelas, morros e periferias dos grandes centros vivem legitimando tais ações e pedindo 'pena de morte' para os 'bandidos'. Como se a pena de morte pra este grupo populacional já não existisse.
Vários programas em todos os canais televisivos expõem corpos negros cravados de bala, mutilados, ovacionam ações ilegais da polícia, repetem várias vezes cenas de tortura, linchamentos na hora do almoço e jantar.
Âncoras de telejornais louvam pitboys brancos, de classe média, justiceiros que amarram e espancam adolescentes negros em postes. Ao serem questionados de usar uma concessão pública para estimularem o crime, desqualificam a luta pelos direitos humanos e debochadamente anunciam: "Está com dó? Leva pra casa". E quando se descobre que os jovens de classe média justiceiros traficavam drogas não há nenhum comentário de retratação no horário nobre ou qualquer tratamento desumanizador diante do caso já que os bandidos em questão são brancos e de classe média.
70% dos jovens assassinados no Brasil, ano após ano, são da cor negra. Isso tem de significar algo, mas não significa. A mentalidade escravagista, que desumanizou a pessoa negra no Brasil continua firme e forte. É o que faz um governador, eleito pelo PT, fazer um dos discursos mais lamentáveis da história.
Enquanto isso, a polícia que aplaude ruidosamente o governador é acusada de assassinar 12 pessoas que já estavam rendidas.
Atualização: Das 12 vítimas assassinadas pela polícia baiana, sob comando de um governador petista, apenas uma tinha passagem pela polícia e por briga de carnaval.
O policial tucano, agora deputado Prisco que protagonizou uma greve de policiais no governo Jaques Wagner assumiu a Comissão de Direitos Humanos e propõe promover PMs da Rondesp. Prisco considera a chacina do Cabula: Um ato de bravura!
Que diferença efetivamente existe entre discurso e prática de um Prisco e um Rui Costa diante do Genocídio Negro?
A presidenta em entrevista aos blogueiros disse que atuaria com determinação para pôr fim ao entulho da ditadura militar, carta branca para o genocídio da Juventude Negra, os famigerados autos de resistência.
Desconheço qualquer nota da Secretaria dos Direitos Humanos, do Partido dos Trabalhadores ou da Presidência da república sobre a Chacina do Cabula. Enquanto isso, jovens negros ativistas são ameaçados por policiais por denunciarem o genocídio negro em Salvador.
Testemunha diz que vítimas da chacina do Cabula (BA) estavam rendidas Claudia Belfort, na Ponte
07/02/2015
Segundo o homem, que pediu para não ter o nome revelado, os rapazes estavam rendidos e desarmados quando foram executados
Um morador do bairro Cabula, Salvador, desmentiu a versão da Polícia Militar da Bahia, sobre o assassinato de 12 jovens numa suposta troca de tiros, na madrugada de sexta-feira, 06/01. Segundo o homem, que pediu para não ter o nome revelado, os rapazes estavam rendidos e desarmados quando foram executados, a informação é do jornal Correio, de Salvador.
Corpos dos jovens no Hospital Roberto Santos
“Nossos contatos com organizações sociais e relatos da comunidade mostram que há indícios de que algumas dessas mortes foram feitas com as pessoas já rendidas”, afirma Átila Roque, diretor da Anistia Internacional, que pediu ao Governo da Bahia uma investigação minuciosa sobre os assassinatos e proteção às testemunhas do caso. O Reaja ou será mort@, articulação de movimentos e comunidades de negros e negras da Bahia, também encaminhou à Secretaria de Segurança Pública da Bahia, um pedido de reunião com a participação da Anistia Internacional e Justiça Global até a terça-feira (10/02)
A reportagem da Ponte teve acesso a três diferentes vídeos dos corpos das vítimas, feitos no Hospital Roberto Santos, para onde elas foram levadas. Três deles têm marcas de bala nas costas, outros três apresentam ferimentos a bala no peito, e um deles aparece com um curativo em volta de toda cabeça. Num dos vídeos é possível ver um policial fardado gravando imagens dos corpos com seu telefone celular. As imagens são muito fortes, e optamos por não publicar.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, o tiroteio aconteceu por volta das 4h, na Estrada das Barreiras. A Rondesp (Rondas Especiais), da PM, havia recebido uma denúncia de que um grupo planejava assaltar uma agência bancária na região e nove policiais, divididos em três viaturas, foram atender ao chamado. Quando chegaram ao local, os PMs encontraram um veículo e cerca de seis homens próximos a uma agência da Caixa Econômica. Ao se dirigirem ao grupo, eles atiraram contra os agentes e fugiram em direção a um matagal, onde havia outros integrantes da quadrilha escondidos, num total de cerca de trinta pessoas.
Na troca de tiros, além dos 12 mortos, outros três rapazes ficaram feridos e um sargento foi atingido na cabeça de raspão. “É surreal um grupo de 30 homens trocarem tiros com 9 policiais e só atingirem de raspão um sargento”, disse à Ponte outro morador do local.
Em entrevista coletiva, o governador da Bahia, Rui Costa, disse que a princípio não haverá afastamento de policiais, por não haver indícios de atuação fora da lei no caso. “Quando uma operação policial que termina com 12 mortos é vista como normal, isso demonstra a falência do sistema de segurança pública”, comentou Roque.
Na comunidade o clima é tenso. “Desde ontem (sexta) o comércio está fechando às 17h, hoje ouvimos foguetes o dia inteiro, e aqui quando tem foguete, em algum momento tem tiro”, afirmou à Ponte uma moradora do local, que também pediu para ter a identidade preservada. “Tem gente desesperada aqui, está cheio de polícia na comunidade”.