Todas as vezes que a polícia usa um entulho da ditadura militar para justificar a morte da juventude negra e sem nenhum inquérito instaurado, a vítima ou vítimas (porque não raro a prática da PM é de chacinas, como a ocorrida no Cabula) e parentes e comunidades precisam provar a inocência de seus entes assassinados e você coaduna com esta prática, justifica esta prática com um discurso criminoso de que "ativistas dos direitos humanos protegem bandidos", você colabora para o genocídio negro.
Assista o vídeo e reflita. Tente fazer um exercício de empatia. Imagine-se membro da família que perdeu dois jovens que estavam brincando na rua num dia em que faltou energia elétrica no bairro. Imagine que você perdeu um filho, um irmão, um namorado, um pai, um marido ou um cunhado que simplesmente exercia seu direito constitucional de ir e vir.
Agora imagine que seu filho, irmão, namorado, pai, marido ou cunhado foi morto a tiros pela polícia simplesmente porque a família vive na periferia e tem a "cor da suspeição": a cor negra.
Imagine que esse membro da família estudava, trabalhava, contribuía para o sustento da família, tinha sonhos, projetos de vida.
Imagine que depois de perder este membro da família morto a tiros por um policial sem que este membro tenha feito absolutamente nada contra qualquer pessoa, você ainda tenha de provar que seu filho ou irmão ou marido ou namorado ou cunhado não era um bandido. Lembrando que mesmo que fosse (na imensa maioria das vezes não é), não é papel da polícia executar ninguém. Nunca é demais lembrar que embora exista no cotidiano das periferias brasileiras a pena de morte praticada por policiais criminosos e bandidos não fardados, na lei, a execução sumária continua sendo crime, especialmente praticada por um agente do Estado que deveria zelar pela vida de qualquer cidadão.
Este é o roteiro: policiais despreparados, criminosos executam adolescentes negros em suas comunidades, muitas vezes na presença de testemunhas (por vezes mortas também, ou intimidadas para não falarem) e armam uma cena para incriminar a vítima.
Neste caso, o celular não quebrou, continuou gravando o crime praticado por policiais criminosos e as gravações tiveram a atenção da mídia (que na maioria das vezes não faz o seu papel jornalístico e ajuda a continuar o genocídio negro, pois estereotipa a juventude negra, fazendo com que cidadãos reacionários acreditem que todo jovem negro de periferia é bandido e merece morrer).
Não é possível não reagirmos a isso. Não é possível considerarmos uma sociedade na qual os jovens negros correm risco de vida todos os dias por nascerem com a pele negra é uma sociedade saudável. Não é.
Precisamos urgentemente recuperarmos nossa sanidade mental e parar definitivamente de naturalizar o genocídio da juventude negra pelas mãos do Estado Brasileiro com seus homens fardados, impunes, despreparados e criminosos. A Polícia Militar precisa passar por uma ampla reforma, não é possível que toda a corporação se orgulhe disso, se orgulhe de matar jovens negros.
O psicólogo Jaques Delgado, especialista em saúde mental, que me enviou o vídeo acima, desabafa:
O Brasil é um país maravilhoso PARA BRANCOS, mas se você for um pouco escuro, mulato, preto, negro (ou como se quiser chamar), CUIDADO.
Até quando a PM vai continuar atirando para matar antes de qualquer abordagem diversa, e forjar "provas" de culpa para meninos pobres e negros?
Você pode ser balconista de lanchonete, entregador de pizza, vendedor de mate ou até ator da Globo, mas se for negro, tome muito cuidado. Acorda Brasil! A Policia Militar instituiu a pena de morte para negros há muito tempo, basta olhar os dados da Anistia Internacional, ou dar uma espiadinha nos noticiários.
Alguns dizem que não é racismo (!!!!), mas o fato é que a PM tem uma excelente pontaria para atingir garotos negros.
Quando é que esta discussão vai merecer um espaço digno na sociedade brasileira?
Quando a cultura da PM será transformada? É hora de educar urgentemente a PM, antes que não haja mais nada a se fazer.
O Brasil precisa de cotas, sim, sobretudo cotas de negros VIVOS, que possam estudar, trabalhar e viver a vida que escolheram.