Rodrigo Rodrigues: Por que vai ter creche na 204/205 Asa Sul do Plano Piloto?

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Nos comentários deste post um morador das quadras onde se dará a construção da creche se pronunciou:

"Nós moradores não somos contra a educação e construção de creches, como alguns tentam deturpar, mas a forma como está sendo feita. Atropelando uma área que é utilizada como lazer pelos moradores dessas quadras. Nem sequer o GDF CONSULTOU aqueles moradores e nem os trabalhadores mais carentes foram consultados, se eles preferem as creches próximas ao trabalho ou de suas casas Onde o GDF quer implantar uma creche, já funciona uma Delegacia da Mulher. A menos de 20m funciona uma escola pública que inclusive as crianças desta escola faziam algumas atividades nesta área verde. Idosos fazem ginástica todos os dias nesta área. Empregados que trabalham na rua dos restaurantes nas horas de folga jogam futebol. Porque não escolher entre a 206/207 ou entre a 202/203 que tem uma extensa área verde? Ou vários lugares bem localizados que existem no Plano. Agora é torcer p que o MPDF formalize a denúncia e entregue á Justiça. A onde realmente tem necessidade não constrói creches. É ano de copa do mundo, eleição. Não poderia perder esta oportunidade, não é mesmo?" Plínio Ribeiro Maciel aqui e aqui

Leia abaixo a explicação do professor Rodrigo Rodrigues ao comentário de Plínio.

Foto do ato realizado nas quadras 204/204 da Asa Sul, Plano Piloto em favor da construção da creche.

Existe uma série de fatores que são considerados ao se decidir pela construção de uma escola em determinada região.

A primeira é a demanda local e essa demanda não é exclusivamente a dos moradores vizinhos à localidade. Especialmente dos moradores do Plano Piloto, que por sua postura elitista e visão mercantilista da educação prefere que seus filhos estudem em escolas higienistas e excludentes pelos exorbitantes preços que são cobrados para seu ingresso. Mesmo que a educação oferecida nestes estabelecimentos seja de menor qualidade que a ofertada nas instituições públicas.

É notório que os professores do DF são os mais bem formados. 98% do quadro funcional tem pelo menos uma graduação. 65% tem alguma especialização em educação. A política de progressão por mérito através da Escola de Aperfeiçoamento do Profissional de Educação faz com que todos os professores tenham que buscar sua atualização formativa constantemente, aliado a benefícios financeiros e progressão na carreira. Uma das maiores conquistas desta categoria.

Voltando à demanda, ela existe. São 130 mil crianças em idade de creche que o poder público não atende. O sistema de matrícula da Secretaria de Educação tem só no Plano Piloto uma demanda de mais de 3 mil vagas para a educação básica. E os trabalhadores locais, os mesmo citados pela postagem do senhor Plínio, hão de preferir que seus filhos na primeira infância possam estar próximos de seu local de trabalho. É uma questão de emancipação, especialmente da mulher trabalhadora. Esta muitas vezes abre mão de empregos por dificuldades com a responsabilidade de cuidar dos filhos pequenos. Quando não responsabilizam uma das filhas mais velhas para assumir esse papel, e esta menina acaba por deixar em segundo plano seus estudos ainda inconclusos.

Na região, que muito mais ampla que as quadras 204/205 Sul, existem diversas trabalhadoras domésticas, servidoras da própria Delegacia de Atendimento à Mulher, trabalhadores/as de cerca de oito Entrequadras comerciais num raio de 500 metros.

Ao analisar esses dados, uma creche com a capacidade de atender até 140 crianças fica pequena.

Um segundo fator é aliar as conveniências fundiárias do DF, com áreas com destinação determinada, propriedades cruzadas, domínios truncados. Pelo que informa a Secretaria de Educação, essa área é uma das poucas que reúnem destinação e domínio jurídico para a construção de escola. Lembrando que mudança de destinação de qualquer terreno obedece a um rito complexo e moroso, se cumprida as leis que regem o Distrito Federal. Segundo me informaram a propriedade do terreno está registrado no Cartório de Registro de Imóveis de Brasília; se não me engano sob o número 9.005 (a verificar). Interessante verificar que a menos de 200 metros de onde está sendo construída essa creche há um estabelecimento privado de ensino que obstrui a passagem na via L1. Não ouve NENHUMA manifestação pública contra esta edificação.

E sim, este é um dos projetos de maior vitrine do Governo da presidenta da classe trabalhadora. Atender os interesses imediatos e históricos de uma classe que sempre foi relegada a um segundo plano quando os interesses de uma classe que se considera elite eram contrariados. Só no DF serão construídas 120 creches em parceria Governo Federal/Distrital.

Se eu fosse empregada doméstica, que tive meus direitos reconhecidos pela PEC das Domésticas, que estou vendo meus filhos terem a chance de irem para universidade por leis compensatórias como as cotas para negros, reserva de vagas para alunos oriundos de escola pública, ENEM/SISU, além da possibilidade do FIES, além da política de valorização do salário mínimo, não teria a menor dúvida em que eu votaria nas próximas eleições.

Mas eu sou apenas um professor, classe média (média pra baixa), que tive apenas acesso a melhores créditos para poder consumir mais, viajando, trocando de carro, renovando meus eletrodomésticos, podendo reformar minha casa. Meu umbigo não teve tantos benefícios. Mas eu tenho visão social, e reconheço que a minha vida está melhor, porque a vida do Brasil está melhor.

Só queria perguntar uma coisa ao fechar: qual foi a última vez que você viu a inauguração de uma creche pública? E agora que o Governo resolve construir algumas, o elitismo é contra porque quer praticar tai chi chuan?

Rodrigo Rodrigues, professor da SEDF, Secretário de Formação da CUT/DF

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