O Brasil real saúda o Mais Médicos, o Brasil que depende do SUS e não o vê como um castigo saúda o Mais Médicos, o Brasil dos trabalhadores, da gente decente celebra a chegada dos médicos cubanos:
No dia em que os primeiros médicos do programa #MaisMédicos desembarcam em alguns aeroportos do país, o Ministro Alexandre Padilha sentou-se com blogueiros e ativistas defensores da saúde pública brasileira para responder nossas questões.
Enquanto isso jornalistas da grande mídia estavam acampados na entrada do prédio do MS em São Paulo e na rede pipocavam comentários indignados vindos do corporativismo jornalista sempre desqualificando os blogueiros como chapa branca etc. Para a grande mídia o poder público não pode falar com a sociedade civil a não ser por sua mediação manipuladora.
Não houve nenhum tipo de orientação da assessoria do Ministério da Saúde em relação à entrevista que fizemos ao longo de três horas e conseguimos inclusive (embora necessitasse de mais tempo para isso) falar sobre a falta de política de prevenção às drogas, de tratamento a dependentes químicos etc.
Eu gostaria de ter entrevistado o Ministro sobre todas as polêmicas dos últimos tempos envolvendo ações do ministério da saúde especialmente em relação à saúde da mulher, às campanhas de prevenção à AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis, ao Saúde+10, à federalização do profissional de saúde, aos vetos ao Ato Médico (outro embate com o corporativismo da medicina) e à luta obrigatória do MS para obter os recursos necessários para prover o país com saúde pública de qualidade.
Ao longo da coletiva, via mail, facebook, twitter e até instagram vários profissionais da saúde de minha rede queriam respostas para infinitas demandas.
A saúde pública no Brasil precisa de socorro, precisa de recursos, o Congresso Nacional irresponsavelmente retirou mais de 40 bilhões anuais ao eliminar a CPMF e não colocou nada no lugar. No Brasil faltam médicos e os que existem estão concentrados nas regiões mais ricas e alguns se recusam até a trabalhar nas periferias das grandes cidades.
Ao anunciar o programa Mais Médicos, o Ministro Alexandre Padilha teve sua vida acadêmica devassada e caluniada por uma parte da corporação médica, alguns promovendo ações criminosas como burlar as inscrições para o programa, exigindo que o poder público recorresse até mesmo à Polícia Federal. Mesmo assim, com sua fleuma republicana, Padilha não fez um único ataque ao corporativismo médico. O ministro aposta na experiência vivida por outros países que implementaram programas semelhantes. Governos como o da Espanha, após as polêmicas conseguiram mostrar para a corporação mais renitente que seus profissionais mantiveram seu status quo. No Brasil, mesmo que tenham 5 médicos para cada mil habitantes, diga-se de passagem estamos muito longe disso quando 701 municípios pobres do país não contam com um único médico, Padilha acredita que ocorrerá o mesmo, que as polêmicas cessarão e os médicos nacionais resistentes ao programa perceberão que os médicos estrangeiros não os ameaçam.
Padilha explicou calmamente as principais dúvidas que pipocavam na rede sobre o programa.
No vídeo abaixo vocês podem ver a entrevista na íntegra e de fato se estiverem entre o grupo que tem dúvidas sobre o programa devido à campanha mais detratora e criminosa levada a cabo por uma parcela de uma corporação que forma a elite econômica entre os profissionais de qualificação superior (e que por isso se acham superiores aos demais mortais) conseguirão esclarecer suas dúvidas.
Mas se fizerem parte deste grupo que vem causando muita vergonha alheia aos médicos humanistas e destruindo a imagem de toda a corporação (parabéns aos presidentes dos CRM, como o mineiro), nem perca o seu tempo, são três horas de esclarecimentos do programa. Continuem com seu ódio patológico ao PT, ao ministro da saúde, mas saibam que nem toda a cegueira causada pela bolha em que vocês vivem conseguirá esconder o quão vocês foram fragorosamente derrotados em seus preconceitos.
O Ministro declarou que é usuário do SUS e não tem plano de saúde privado.
A sociedade brasileira apóia o #maismedicos porque ¾ dela só tem acesso a algum tipo de saúde se o serviço for oferecido pelo poder público e o ¼ restante mesmo possuindo planos privados de saúde quando as coisas realmente se complicam é também para o SUS que correm porque seus planos mercantilistas lhes negam socorro.
Infelizmente a quantidade de médicos, cubanos, argentinos, moçambicanos, espanhóis que chegaram ontem ainda é pequena e sua permanência no país será breve, provisória. Por isso ela nem arranhará a reserva de mercado da corporação que acha que receber 10 mil reais de bolsa para atender pobres em municípios pobres é ser ‘escravizado’; que apesar de gritarem em suas passeatas ‘somos ricos, somos cultos’ mostraram que isso não os impedem de ignorar dados importantes sobre saúde pública no mundo especialmente sobre a referência mundial da medicina cubana.
Infelizmente todo o dinheiro que acumulam com sua medicina mercantilista não lhes serviu para humanizá-los, pois não se compra capital cultural, não se compra fino trato, não se compra a capacidade de se reconhecer um ser humano sujeito de direitos, mas também de deveres, não se compra vocação, não se compra espírito humanista, não se compra a capacidade de perceber que a cidadania é o maior bem de um país civilizado, não se nasce Natasha Romero Sanches é preciso se tornar Natasha Romero Sanches e esta parcela desumana e mercantilista da corporação nunca saberá como se opera esta transformação e o quanto de bem ela faz para si mesmo, para os que Natasha cuidará e para o Brasil.
PS: Como não tive oportunidade de formular as questões propostas pelos leitores, publico-as e peço que a Assessoria do Ministério da Saúde as responda:
Dênis Petuco, Sociólogo e Redutor de Danos, Doutorando pela UFJF Luís Fernando Tófoli, Psiquiatra e Professor da UNICAMP
Em agosto de 2011, na reunião do Colegiado Nacional de Saúde Mental, em frente à uma plateia composta por dezenas de coordenadores de saúde mental e atores do campo, o Sr. disse que reconhecia que os investimentos públicos em Comunidades Terapêuticas para o tratamento de uso problemático de álcool e outras drogas eram um ataque à construção da Rede de Atenção Psicossocial, posto ser este um tipo de serviço que não opera em rede. No entanto, o tempo passou e o governo segue afirmando o investimento neste tipo de dispositivo. Sua opinião mudou, ou o Dr. está sendo obrigado a aceitar este tipo de política?
Luís Fernando Tófoli, Psiquiatra e Professor da UNICAMP Dênis Petuco, Sociólogo e Redutor de Danos, Doutorando pela UFJF Isabel Coelho, Juíza TJ-RJ, membro da Associação de Juízes para a Democracia
Em Maio de 2013, por ocasião do Congresso Internacional sobre Drogas, Lei, Saúde e Sociedade, que ocorreu no Museu da República, em Brasília, foi entregue ao seu representante no evento uma petição com quase quatro mil assinaturas de pessoas físicas e mais de 40 assinaturas institucionais que pedia que o senhor se posicionasse oficialmente quanto à internação compulsória de massa de usuários de crack como política pública. Qual é a posição que o senhor tomou, partindo do princípio de que não estamos falando dos recursos legais previstos pela lei da Reforma Psiquiatria (10.216/2011), mas de ações como as ocorridas no Rio de Janeiro, que podem ser classificadas como higienismo social?
Luís Fernando Tófoli, Psiquiatra e Professor da UNICAMP
Levando em consideração que a violência associada à Guerra às Drogas é causa severos agravos à saúde e que o Ministério da Saúde professa publicamente uma política de Redução de Danos, qual é sua posição a respeito da descriminalização das drogas para uso pessoal (como ocorrida em Portugal e aprovada pela corte suprema da Argentina), da legalização da maconha (como ocorrida nos estados americanos de Washington e Colorado e prestes a acontecer no Uruguai) e do uso da canábis medicinal (sancionada por 21 estados norte-americanos)?
Eliana Azevedo, Psicóloga:
- No SUS e nos convênios particulares, o profissional de saúde (psicólogo, por exemplo) não pode atender sem o encaminhamento do médico. Isso não seria o ato médico sendo exercido?
- A acupuntura poderá ser exercida por todos os profissionais da saúde, desde que devidamente formados?
- A Optometria será regulamentada? (Psicóloga) Qual é a previsão?
- Por que não se aplicam 30 hs diárias para todos os profissionais da saúde?
Raphael Martins Ferris, Fisioterapeuta
Padilha, o movimento das profissões e da população contra o Ato Médico, foi grande. Como você recebeu isso? A Medicina conservadora está perdendo força? Estamos migrando para um sistema de saúde horizontal?
Felipe Santa Rita
A minha pergunta é: Por que enviar um projeto para o Congresso, que na sua essência faz com que se ressuscite o ato médico, mantendo a tutela dos médicos aos demais profissionais de saúde?
Rivaldo Novaes, Fisioterapeuta
Eu quero que ele envie perguntas para as profissões, pois parece que ele sabe tudo. Quem disse que diagnóstico nosológico e respectiva prescrição terapêutica é exclusividade do médico, como ele está dizendo (à exceção dos protocolos do SUS)? Ele não quer reserva de mercado no SUS, mas quer no particular e nos planos de saúde?