Tô vivendo dias de intensas emoções, aquelas genuínas que nos humanizam. Hoje passei algumas horas com Washington, o rapaz negro, autista, irmão gêmeo de outro autista que a escola não consegue lidar, porque seu tipo de autismo é de completo isolamento em seu próprio mundo e apenas o pai consegue conviver com ele.
A cultura da Globalização consegue falar até para os autistas. Washington ao ver o desenho de um urso de pelúcia ou a fotografia de um gatinho diz que é um rato. Mas não erra quando vê um smartphone: celular.
O pai é admirado por toda escola, um senhor branco pequenino, que dedicou a sua vida para cuidar de seus gêmeos autistas, altos, fortes, negros. Ver o trio é algo impressionante, comovente.
Washington é tranquilo e interage bastante. Eu lia a palavra e pedia para ele a encontrar no diagrama. Ele fazia isso mais rápido que eu.
Ele fez este exercício com muita rapidez.
A professora, judia, com um percurso profissional impressionante: letras, pedagogia, enfermagem, passagem por Israel aprendendo experiências pedagógicas de educadores de lá lida com esta sala de inclusão como se estivesse lidando com alunos sem nenhum tipo de deficiência e há síndromes e distúrbios que nem consegui identificar no grupo.
Há numa turma pequena de menos de 20 alunos autistas, down, cadeirantes e quase 50% de idosos. Há alguns com alguma espécie de esquizofrenia (um deles invadiu a sala e estava atrás de revistas e chegou a segurar a professora).
Tenho um irmão com deficiência motora severa e com uma doença degenerativa que há alguns anos mergulhou numa profunda depressão e isolamento que praticamente só se relaciona com a minha mãe. Constato que a escola para estes jovens e adultos excluídos é uma experiência de socialização importantíssima. Mas os educadores do EJA, ao menos deste EJA tem uma gana inimaginável de educar a todos. Eles não passam o tempo, eles investem em estratégias de aprendizagem. Por mais que a socialização seja uma parte significativa da aprendizagem dos seres humanos, os educadores do EJA querem mais, querem que cada aluno possa desenvolver o máximo que seja possível a cada um desenvolver.
Hoje, tive um enorme orgulho de ser um educador, minha admiração pelos professores de EJA (onde comecei minha carreira) cresceu ainda mais. Os professores de turmas regulares tem muito a aprender com professores do EJA, a lição básica é: não desistir de seus alunos.