No encerramento de Frankfurt, Paulo Lins apoia professores em greve
Por Guilherme Freitas, O Globo
13/10/2013
A participação do Brasil como convidado de honra da Feira do Livro de Frankfurt terminou com o mesmo tom político da abertura, quando Luiz Ruffato fez um discurso sobre mazelas do país. Na cerimônia de passagem do bastão para a Finlândia, homenageada de 2014, o escritor Paulo Lins, representante da delegação nacional no evento, quebrou o protocolo ao ler uma declaração que começava manifestando apoio à greve dos profissionais da educação no Rio de Janeiro:
- Um saravá aos professores do Rio! - disse Lins, que no início da semana redigiu, com João Paulo Cuenca e Luiz Ruffato, um manifesto assinado por cerca de 40 autores da delegação brasileira em apoio aos professores e contra a violência policial.
Na sequência, o autor de "Cidade de Deus" voltou a rebater acusações de racismo na escolha dos autores que vieram a Frankfurt. Único negro da delegação, ele disse que essa não é uma falha de curadoria e sim um reflexo de que “o Brasil é um país racista, assim como muitos da Europa". Lins também endossou o discurso de Ruffato, que foi criticado por autores da delegação, como Ziraldo, e chegou a ser ameaçado por brasileiros na feira.
- Faço minhas as palavras do Ruffato. Foi uma declaração de amor, uma fala de esperança sobre o Brasil. Nossos problemas têm que ser encarados de frente - disse Lins, que ainda ironizou o discurso de Michel Temer na cerimônia de abertura, quando o vice-presidente falou sobre os próprios poemas e foi vaiado. - A poesia é coisa seria, não se dá a qualquer um.
Lins participou da primeira parte da cerimônia de passagem do bastão ao lado da escritora finlandesa Rosa Liksom. Ele falou sobre a presença da violência e da cultura negra em seu novo romance, "Desde que o samba é samba", recém-traduzido na Alemanha.
- O samba não é só arte, é uma arma de guerra. Ele e a umbanda foram cultivados por netos de escravos e, como toda a cultura negra, foram perseguidos. Quando falo do samba, falo também de intolerância, violência e racismo - disse Lins, que encerrou sua participação lendo um poema que publicou aos 20 anos.
Na segunda parte da cerimônia, o presidente da Feira de Frankfurt, Juergen Boos, elogiou o tom político da presença brasileira no evento:
- Nos últimos dias, tivemos uma amostra da força da literatura, seu poder destruidor e criador. Foram destruídos muitos clichês sobre o Brasil, que se mostrou como um país angustiado consigo próprio, mas que segue em frente movido pela criatividade - disse Boos, afirmando que a Finlândia terá o grande desafio de “levar adiante essa demonstração de relevância da literatura".
O presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Renato Lessa, entregou à representante finlandesa um bastão simbólico, contendo um texto brasileiro e um finlandês. O brasileiro era uma colagem de fragmentos de autores como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Hilda Hilst, Guimarães Rosa e Oswald de Andrade, entre outros.
Em seu discurso de encerramento em Frankfurt Paulo Lins apoia professores em greve no RJ
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