_________________ Publicidade // //O ex-presidente Fernando Henrique disse o que, pensando em sua biografia, diz sempre. Talvez porque os candidatos do seu partido que tentaram sucedê-lo não tenham defendido o que ele entende ser o seu legado. Fernando Henrique disse o que quis dizer. Agora, ouve da presidente Dilma o que não precisaria ouvir.
Quando usa a expressão "herança maldita", Fernando Henrique buscar devolver a marca que Lula usou para referir-se aos 8 anos de governo do antecessor tucano. Lula, como se sabe, recebeu o Brasil com o dólar na casa dos R$ 4, com o chamado risco Brasil disparado e com um empréstimo de R$ 41 bilhões tomado junto ao FMI. Por isso, a resposta de Dilma:
Não recebi (de Lula) um país sob intervenção do FMI ou sob ameça de apagão.
Desde o início de seu governo, Dilma trocou gestos de cortesia com Fernando Henrique. Ao rebater o artigo do ex-presidente, publicado no domingo, Dilma estabelece um limite. A presidente demarca, claramente, qual é a fronteira onde a convivência civilizada se tornaria sinal de cumplicidade. De deslealdade para com Lula e para com o PT.
Fernando Henrique, obviamente, busca valer-se de um fato, o julgamento em andamento no Supremo Tribunal", para atacar.
É o que fez o ex-presidente ao referir-se, em seu artigo publicado no O Estado de S.Paulo e em O Globo, "aos males morais" e "ao mensalão que é outra dor de cabeça deixada por Lula".
Fernando Henrique certamente não ignora que existe, no mesmo STF, um processo chamado de "mensalão do PSDB de Minas".
Embora desmembrado, ao contrário do congênere petista, esse outro processo envolve o mesmo Marcos Valério e, ainda antes do "mensalão petista"- em 1998 segundo a denúncia- valeu-se da mesma fórmula para acertos variados. Esse processo tem como relator no Supremo Tribunal o mesmo ministro Joaquim Barbosa.
Dilma, em outro duro trecho de sua resposta diz sobre Lula:
-Um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse.
Isso é uma claríssima referencia à emenda de reeeleição que FHC patrocinou para sí mesmo em 1997. E que, como ele mesmo já admitiu, teve votos comprados; ainda que tenha dito "não saber" quem comprou votos. Isso sem que depois tenha havido CPI ou qualquer espécie de julgamento.
Disse ainda Dilma em sua resposta:
-Não reconhecer os avanços que o país obteve nos últimos dez anos é uma tentativa menor de reescrever a história. O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento.
Fernando Henrique jogou o jogo. Certamente pensando mais na sua biografia do que nas consequências políticas.
Dilma, ao rebater, junta-se a Lula. Querendo ou não querendo, os três jogam o debate para o meio das eleições em curso. Daqui por diante, é medir quem ganha e quem perde com esse gesto.
Bob Fernandes: Fernando Henrique disse o que quis e ouviu da presidenta o que não quis
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