Por sugestão de Judith Athayde, reproduzo a nota da professora Ana Maria Monteiro*, que comenta o absurdo que é a presença de policiais nas escolas estaduais do Rio de Janeiro. Ana Maria repudia com veemência esta medida do governador Sérgio Cabral e lembra que nem durante a Ditadura Militar algo semelhante ocorreu.
Atualização: Polícia armada dentro das escolas no Rio de Janeiro e Secretário da Segurança Pública do Piauí culpando professores em greve pelo aumento de homicídios.
___________ Publicidade // //Amig@s
Envio mensagem que escrevi após participar do Jornal Nacional ontem.
Na noite de 5 feira, dia 3 de maio, na aula do Cespeb, fui informada pelos professores sobre a decisão do governo do estado do Rio de Janeiro de alocar policiais armados em colégios "perigosos???", medida que já estava, inclusive, implantada em colégios onde alguns deles atuam.O impacto era geral.
Surpresa, indignação e, posso dizer, raiva eram sentimentos expressos misturados com constrangimento, preocupação sobre o que poderia acontecer em futuro próximo e até mesmo a impotência e um certo medo frente a esta medida radical que nem em tempos de ditadura militar vimos acontecer.
Policiais armados, de plantão nas escolas, em seus horários de folga - possibilidade de legalização o "bico"?- para a "defesa do patrimônio" das escolas?
Entre o espanto e o choque frente ao que eu ouvia, discutimos as possíveis razões para a medida e que medidas poderíamos tomar junto ao SEPE, sindicato e Ministério Público. Informei que apresentaria uma moção de repúdio na Congregação.
Ontem, sexta-feira, fui contactada pela equipe do Jornal Nacional para saber de nossa visão sobre a questão. Fui convidada para gravar uma entrevista que foi ao ar, editada e reduzida, mas que recortou o ponto principal de minha posição.
Escola não é lugar de polícia. Escola é lugar de educação através dos saberes, da produção de conhecimentos e onde aprendemos que podemos buscar resolver conflitos através de argumentos, da palavra. Onde aprendemos que somos diferentes e que as diferenças nos ajudam a aprender sobre quem somos.
Expliquei que a presença de policiais armados na escola deixa implícita a idéia de que em última instância, é através das armas que se resolvem os conflitos.
E que, ao contrário, defendo que escola é lugar para se aprender sobre nossos direitos e responsabilidades, para reconhecer e repudiar a violência e desigualdades.
Por mais que situações de conflitos, violência ocorram, e vão ocorrer sempre, não é a presença de policiais armados que vai evitá-las e resolvê-las.
Polícia na escola é mais um fator de violência ao esvaziar a autoridade dos professores e constrangê-los, fragilizá-los. Censurá-los?
Entendo que o dever do estado é manter uma escola com infra-estrutura, condições de trabalho, salários dignos e que apoie os docentes nos momentos difíceis que venham a ocorrer.
Polícia garante a segurança nas ruas, nos arredores da escola e, se for preciso, é chamada para entrar e atuar em casos específicos de roubos, invasões, depredações, presença de armas.Mas entra e sai.
De alguma maneira, alocar policiais na escola revela a impotência do Estado e de sua política educacional que não consegue encontrar alternativas educacionais para o enfrentamento dos desafios contemporâneos apresentados pela escola.
Escola é lugar de estudantes, professores e de trabalhadores de apoio, em relação entre si, com o outro e com os saberes.
Através dos saberes descobrem mundos e possibilidades de vida e de busca da felicidade.
Educação como prática política de liberdade é o desafio que nos anima e incita a prosseguir. Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro Diretora da Faculdade de Educação da UFRJ direcao@fe.ufrj.br