Página 12 sobre a visita de Obama: É o controle da Amazônia, estúpido!

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É a Amazônia, estúpido!
Por Atilio A. Boron, no Página 12, Tradução: Victor Farinelli
21/03/2011
Todos recordam aquela frase com a qual Bill Clinton desarmou a George Bush pai na corrida presidencial de 1992. A mesma expressão poderia ser utilizada neste atual momento, quando muitos pensam, no Brasil e fora dele, que Obama está de visita a esse país para vender os F-16 fabricados nos Estados Unidos, e promover a participação de empresas estadunidenses na grande expansão futura do negócio petroleiro brasileiro. Também para assegurar um fornecimento confiável e previsível para sua insaciável demanda de combustíveis, mediante acordos com um país do âmbito hemisférico e menos conflitivo que seus provedores tradicionais do Oriente Médio ou da própria América Latina, entre outros negócios.
Isto posto, devemos nos perguntar a respeito dos objetivos perseguidos pela visita de Obama ao Brasil. Vejamos os dados do contexto: desde a assunção ao governo de Dilma Rousseff, a Casa Branca empenhou-se em realizar uma enérgica ofensiva com tendência a fortalecer a relação bilateral com o Planalto. O interesse se desatou devido a alternância presidencial e a esperançosa mensagem procedente de Brasilia, quando a nova presidenta anunciou que estava reconsiderando a compra de 36 aviões de combate da firma francesa Dassault que, em seu momento, havia anunciado o então presidente Lula. Esta mudança de atitude fez com que os lobistas das grandes empresas do complexo militar-industrial – ou seja, o “governo permanente” dos Estados Unidos, que prescinde do transitório ocupante da Casa Branca – pusessem seus gordos olhos sobre Brasilia, com a esperança de se beneficiar com a concretização de um primeiro contrato por 6 bilhões de dólares. Mas seria equivocado pensar que somente os motivos crematísticos inspiraram a viagem de Obama.
Na realidade, o que mais interessa a ele, em sua qualidade de administrador do império, é avançar no controle fático da Amazônia. O requisito principal deste projeto é entorpecer, já que não pode deter, a crescente coordenação, cooperação e integração política e econômica em curso na região, as quais foram tão importantes para fazer naufragar a ALCA, em 2005, e frustrar as conspirações separatistas e golpistas na Bolivia (2008) e no Equador (2010). Surpreende, visto estes antecedentes, a indecisão de Rousseff em relação ao reequipamento de suas forças armadas, porque se finalmente o Brasil fechar negócio para a aquisição dos F-16, em lugar dos Rafale franceses, seu país veria seriamente menosprezada sua vontade de reafirmar a efetiva soberania sobre a Amazônia. Se tal coisa vier a ocorrer, é porque o Itamaraty haverá passado por cima do fato de que, no tabuleiro geopolítico hemisférico, Washington tem dois objetivos estratégicos: o primeiro, e mais imediato, é acabar com o governo de Chávez, apelando a qualquer expediente. Mas o fundamental é o controle da Amazônia, lugar onde se repousam enormes riquezas, as quais o império, em sua desorbitada corrida pela apropriação excludente dos recursos naturais do planeta, deseja assegurar para si sem que ninguém se intrometa no que sua classe dominante julga ser sua propriedade natural: água, minerais estratégicos, petróleo, gás, biodiversidade e alimentos. E, coerente com essa realidade, seria insensato para o Brasil apostar em um equipamento e uma tecnologia militar que o colocaria numa situação de subordinação perante quem, ostensivamente, lhe está disputando a posse efetiva dos imensos recursos da Amazônia.
Para dissimular suas intenções, Washington tem utilizado um sutil operativo de distração, no qual o Itamaraty caiu como um novato: oferecer seu apoio para que o Brasil obtenha um assento permanente no Conselho de Segurança das Nacões Unidas. Deslumbrada por essa promessa, a chancelaria brasileira e o alto mando militar não perceberam que enquanto se entretinham em estéreis conversas sobre o assunto, a Casa Branca ia instalando suas bases militares até rodear completamente a Amazônia. Por isso, pretender reafirmar a soberania brasileira nessa região apelando a equipamentos, armamentos e tecnologia bélica dos Estados Unidos constitui um maiúsculo erro, pois a dependência tecnológica e militar que isso implicaria o deixaria de mãos e pés atados perante os desígnios da potência imperial.