Li impressionada o resultado da pesquisa colhida pelo Eduardo Guimarães. Não, ela não tem valor científico, mas não deixa de ser interessante e reveladora e eu nem precisava estar presente para saber o resultado da pesquisa, explico-me.
Durante a campanha eleitoral de 2010 eu criei uma lista de cerca de mil pessoas. O critério de seleção foram as hashtags mais violentas ou os termos mais esdrúxulos que via pingar na minha Timeline durante as discussões mais acaloradas do twitter: 'Dilma sapatão, lésbica, abortista, terrorista, petralha", etc. Sem exceção, as pessoas que fui selecionando nesta lista, a qual monitorei durante toda a campanha e me rendeu alguns textos importantes aqui no Maria Frô e no blog da mulher no Viomundo, não apenas declaravam seu voto em Serra, mas defendiam renhidamente o seu candidato, desqualificando a pessoa de Dilma, seu partido e o então presidente Lula. Havia entre elas algumas muito raivosas que disseminavam mensagens profundamente preconceituosas.
Na imensa maioria das vezes a discussão política bastante empobrecida escorregava para as ideias fascistas, negando a própria ação política, propondo como os irresponsáveis do CQC: o fechamento do Congresso, a defesa da ditadura militar e ridicularizando as instituições democráticas que tanto lutamos para construir.
Inegavelmente os tweets desta lista que cresceu bastante a cada polêmica, a cada capa de Veja ou factóide da Folha buscavam destruir reputações, numa generalização quase infantil de que 'os políticos são corruptos', 'o PT inventou a corrupção no Brasil', o 'Brasil é o país mais corrupto do planeta'.
Como os organizadores das marchas 'contra a corrupção' insistem em dizer que são 'apartidários' tive curiosidade de retomar a minha lista e ler o que seus mais de mil listados durante a campanha estavam discutindo. Adivinhem? Sem exceção, todos recuperaram seus discursos sobre 'corrupção' é igual ao PT.
Sem ter saído de casa obtive o mesmíssimo resultado que a pesquisa qualitativa do Edu.
Posso até dizer que a minha amostra é mais representativa dado que as mais de mil pessoas que tenho listadas, 100% continua com o discurso de que o PT é o partido mais corrupto do país; 100% durante a campanha reproduzia os factóides de Veja; a ficha falsa de Dilma (o criador da ficha falsa que foi estampada em primeira página da Folha, o único jornal do mundo que publica hoax em primeira página, também está na minha lista); 100% continua tratando a política como algo sujo, criminosa apriori; 100% desconhece todos os projetos interessantes em discussão no Congresso para buscar coibir e punir corruptos e corruptores e 100% esquecem-se que não há corrompidos sem corruptor.
Cem por cento atacavam o Bolsa Família como um projeto do 'vagabundo e bêbado do Lulla' para os 'vagabundos que votavam em Lulla e no PT'; 100% não acha que o Brasil melhorou diante do fato de estarmos vivendo uma situação impressionantemente positiva se comparada a um mundo fustigado pela crise financeira; 100% ignora ou faz questão de ignorar que o Brasil com uma taxa mínima de desemprego, vive quase uma situação de pleno emprego diante de quase 15 milhões de postos formais gerados durante os 8 anos de governo Lula.
Cem por cento aceita e replica o apoio de Ronaldo Caiado à 'marcha contra a corrupção', assim como o de Agripino Maia e Álvaro Dias!
Cem por cento se diz contra a corrupção, mas jamais escreveu um único tweet sobre o caso Alston, sobre a compra de jornais e revistas sem licitações pelo governo do estado de São Paulo, sobre a banca de negócios entre governo Serra e governo Alckmin com emendas parlamentares na ALESP; 100% nunca falou de Paulo Preto e suas ameaças ao PSDB rapidamente silenciadas (porque foram atendidas(?); 100% acha que professores são um bando de vagabundos e merecem mesmo apanhar da polícia militar do governo do estado, porque atrapalham o trânsito, 100% vibraram quando a tropa de choque invadiu a Universidade de São Paulo e espancou alunos, funcionários e professores; 100% acham que têm de baixar o cacete em 'vagabundo' que faz o movimento do Passe Livre; 100% acharam ridícula a ação da 'gente diferenciada' em Higienópolis; 100% ignoram ou não falam uma palavra sobre o superfaturamento nas obras do RodoAnel; 100% não tocam na questão dos pedágios em São Paulo; 100% sequer mencionam a privatização das companhias de fornecimento de energia e o sucateamento que elas se encontram; 100% não tocam no assunto, desconhecem ou não se espantam com o fato de o prefeito da capital mais rica do país, distribuir o orçamento da cidade retirando das subprefeituras que atendem os bairros mais pobres recursos pra investir nos bairros mais ricos!
É bastante curioso a meu ver que esse movimento que se diz 'apartidário, crítico, espontâneo' desconheça tantos problemas que a má política e a corrupção (incluindo a da mídia paulistana) causem à população de São Paulo, ao menos aquela que não vive em Higienópolis e nos bairros de classe média onde o poder público não está ausente.
Eu se fosse petista, sem terra, sem teto, professor do estado, sindicalista, estudante universitário ou secundarista faria como fez o Jean Fábio, pegava meu cartaz e ia pra Paulista protestar, afinal a bandeira contra a corrupção é uma bandeira democrática, dos movimentos sociais, da ala mais progressista deste país. Quem sabe os entrevistados pelo Eduardo Guimarães e os mais de mil listados do twitter entendessem o que significa a corrupção e os danos da má política e percebecem que não precisam sequer olhar para Brasília que aqui mesmo na nossa cidade os desmandos e a corrupção grassam e tornam nossas vidas e, principalmente, a vida dos mais pobres ainda mais miserável?
Ah! E não venham me dizer que porque eu sou eleitora do PT que sou 'blindadora de corruptos'. Minha cidadania é capaz de se posicionar contra mal feitos de todos os partidos, incluindo aquele que escolhi dar o meu voto. Minha cidadania é capaz de questionar ações dos parlamentares e políticos do PT quando essas se afastam das bandeiras históricas e da plataforma pela qual eles se elegeram.
Eu também sei em qual vereador, deputado estadual, deputado federal e senadores eu investi o meu voto e cobro diariamente deles que exerçam a prática política como ela deve ser exercida: com transparência, apresentando, defendendo e votando em projetos progressistas que são capazes de transformar a vida de grupos vulneráveis e ampliar a cidadania de um país de história secular de desigualdades. Eu sou cidadã que acho que a luta contra corrupção é uma luta diária e não pontual para se fazer em feriados.
E para os que ainda não entenderam que a mesma grande mídia que sempre criminaliza os movimentos sociais e curiosamente esteja tão atenta às 'marchas contra a corrupção', segue um artigo da grande mídia reconhecendo que seu empenho em desestabilizar um governo democraticamente eleito não está funcionando:
Minha homenagem aos que marcharam hoje 150ct WorldRevolution Jean Fabio: A Globo não quis filmar meu cartaz na Marcha contra a corrução, por que será? nunca uma imagem disse tanto: Marcha contra a corrupção ou #vassourinhasjanistasdetect ____________ Publicidade // //Marchas: Especialistas dizem que situação econômica faz com que poucos brasileiros protestem contra a corrupção Por: Tatiana Farah, em O Globo
12/10/2011
SÃO PAULO - A primavera dos brasileiros já passou. Essa é a opinião de especialistas ouvidos na quarta-feira pelo GLOBO, que apontaram como grandes momentos de mobilização as Diretas Já, nos anos 80, e o Fora Collor, nos anos 90. O movimento contra a corrupção, que tem saído da internet para ganhar as ruas como aconteceu ontem em diversas cidades brasileiras, no entanto, está longe de ser uma nova primavera. - Nossa primavera foi o momento das Diretas, quando 1,5 milhão foi às ruas. O que são cinco mil pessoas reunidas em São Paulo ou 13 mil em Brasília? É muito pouco. Sem organicidade, esse movimento não vai crescer. As manifestações ganham força se tiveram algo orgânico, como partidos e sindicatos - afirma o cientista político Carlos Mello, do Insper. Nossa primavera foi o momento das Diretas, quando 1,5 milhão foi às ruas. O que são cinco mil pessoas reunidas em São Paulo ou 13 mil em Brasília? É muito pouco Professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo (USP), Renato Janine Ribeiro afirma que um problema para a mobilização do país contra a corrupção é que as pessoas são contra a corrupção, mas dos partidos alheios: - O problema na luta contra a corrupção é que ela está tomada pelos partidos. E é uma lástima que as pessoas usem isso contra o partido oposto. Para Janine Ribeiro, não se pode comparar o movimento contra a corrupção com movimentos como a Parada Gay: O problema na luta contra a corrupção é que ela está tomada pelos partidos - Na Parada Gay, todos estão celebrando a vida. Quando se está lidando com uma coisa suja, como a corrupção, não há toda essa euforia. Acho essa comparação inoportuna e um tanto moralista. Janine Ribeiro, Carlos Mello e o cientista político David Fleischer, da UnB, apontam que o momento econômico brasileiro colabora com a desmobilização: - A economia é um fator para a desmobilização. Quando a economia está positiva, com aumento do salário médio e menos desemprego, isso alivia a barra dos brasileiros que, por natureza, são mais pacíficos e conciliadores- diz Fleischer. Para Fleischer, uma mobilização de massa precisa contar com "o elemento da opressão financeira", como tem ocorrido na Espanha, na Inglaterra e nos Estados Unidos. - Nós já tivemos nossas primaveras, como as Diretas Já e o Fora Collor. Eram momentos em que os brasileiros não estavam aguentando mais. Janine Ribeiro lembra que, nesses momentos, o Brasil estava com graves problemas econômicos e que a indignação nas ruas não era apenas política. A economia é um fator para a desmobilização - Infelizmente, parece que o ponto crucial, o determinante, é a situação econômica. Realmente, eu gostaria que tivéssemos derrubado Collor pela corrupção e não pela crise econômica, mas não foi isso o que ocorreu. Segundo Carlos Mello, em momentos de crise econômica, "a corrupção passa a ser intolerável". - Mas o momento é desmobilizador, com desemprego de 6% e com algum crescimento econômico. Na Espanha, na Inglaterra e nos Estados Unidos, a crise empurrou as pessoas para as ruas. Agora, aqui, estão exigindo espírito cívico demais para um mundo que não tem mais esse civismo - diz Mello. Para Mello, não se pode dizer que os brasileiros não saem às ruas simplesmente porque na Espanha os "indignados" tomaram as praças. - Os espanhóis se mobilizam agora, mas aguentaram 40 anos de regime franquista - afirma Mello.