Já falamos várias vezes da Cooperativa de Catadores de Papel da Granja Julieta é de lá que saiu a Laíssa, a jovem catadora que acaba de entrar na universidade e que corre sérios riscos de não poder cursá-la.
Tenho trocado mail com @lukissima, a Joelma Couto e outros jornalistas sobre a grave situação na Cooperativa de Catadores da Granja Julieta. Lembrando aos leitores que o governo Lula sancionou a lei dos resíduos sólidos, que há verbas destinadas para a reciclagem, mas que em São Paulo vence a política higienista e não a humanista.
Em seu último simbólico natal como presidente, Lula comemorou de novo com os catadores como fez ao longo dos 8 anos de mandato e mais uma vez cobrou de Kassab providências, especialmente em relação à Cooperativa da Granja Julieta. Kassab finge-se de morto.
Transcrevo a síntese da situação feita pela @lukissima.
A cooperativa de catadores da Granja Julieta e a frígida selva de pedra paulistanaPor Luka, no Bidê Brasil
06/01/2011
Passando muito rapidamente para deixar uma notícia de começo de ano muito ruim, lembram da Cooperativa de Catadores da Granja Julieta e da Laíssa? Pois é, depois da notícia dela ter entrado na faculdade e da comemoração de final de ano da Cooperativa lá no Espaço de Convivência Santos Dias com direito a presente pra criançada filha das catadoras e dos catadores, Eduardo Suplicy, diversão e música a vida ali volta a ficar dura.
Já não estava bem, no dia da festa de final de ano a Mara e a Joelma já falavam dos perigos e da falta de condição que o local dado pela prefeitura de SP tinha dado aos catadores até que o lugar definitivo na Rua Benedito Fernandes fosse construído e eles pudessem se mudar, porém a condição ali na Cooperativa não é nada boa, as prensas tem dado choque a todo momento e a fiação elétrica em dias de chuva fica exposta desenhando o cenário perfeito para um outro incêndio ou até mesmo a morte de alguém por eletrocução.
Em dezembro por causa das chuvas a Cooperativa perdeu boa parte do material prensado que tinha, pois o local inundou e molhou papelão, papel e tudo mais, as/os catadoras/es estão ficando desmotivados com tanta adversidade e para começar bem o ano a LimpUrb pressiona para eles saírem de lá o mais rápido possível, mandando-os para o Pq Cocaia, tal mudança além de modificar a vida de todas/os catadoras/es acaba mudando os planos de Laíssa, pois acaba deixando na contra-mão de conseguir se locomover do trabalho para a faculdade.
Importante lembrar que São Paulo há mais de 40 cooperativas de catadores de lixo que não foram incluídas no programa da prefeitura, e que mesmo as cooperativas que já haviam sido conveniadas sofrem com a burocracia e a lentidão da prefeitura da cidade, como é o caso da Granja Julieta que já espera há tempos o local definitivo para o seu funcionamento. Final do ano passado o então presidente Lula havia cobrado de diversos administradores, incluindo o prefeito Kassab, no Natal dos Catadores a excitação em não firmar convênio com as cooperativas, assim como no mesmo evento a presidenta Dilma também se comprometeu com as políticas sociais para o setor.
Não faz muito sentido a prefeitura de São Paulo ralentar a construção da nova Central de Triagem da Granja Julieta, visto que o convênio já foi firmado junto a prefeitura desde o começo do ano passado e até agora nem reparos na estrutura do local provisório e muito menos a nova central foram feitas, sendo que em 2009, durante a Expocatadores, o governo federal havia anunciado que seriam destinados mais de 200 milhões de reais nos anos seguintes para financiar as atividades dos catadores e segundo a plenária ordinária da Câmara de Vereadores de São Paulo em junho do ano passado o conselherio Valdecir afirmava que: Quanto a possibilidade de locar um galpão para implantação da coleta seletiva em condomínios, esclarece que esses aluguéis são feitos com vistas aos convênios com qualquer cooperativa, se houver uma cooperativa já formalizada, que deseja se conveniar com a prefeitura na região, a prefeitura estará estudando essa possibilidade de aluguel de galpão, ou até mesmo viabilizando a construção de um galpão, caso exista a disponibilidade de área para essa finalidade.
E após esta declaração nesta mesma plenária foi apresentada a proposta da Associação de Moradores e Amigos da Chácara Santo Ântonio de modificação da estrutura da Cooperativa da Granja Viana, na qual eles não mais triariam o material, seriam apenas um ponto de prensagem e a posteriori de moagem, estrtura que eliminaria assim boa parte das trabalhadoras e trabalhadores da Cooperativa, pois eliminaria a figura do catador que é aquele que tria os diferentes tipos de lixo reciclável e depois os coloca para prensar ou moer.
Diferente do Gilberto Carvalho não acredito que somente algumas políticas da prefeitura de São Paulo sejam higienistas, na verdade a forma com que a prefeitura vem tratando não apenas o caso da Granja Julieta, mas diversos outros é justamente uma forma de esconder os pobres nas periferias e deixar os bairros da burguesia livres deste “mal”, pois sabe como é, os bairros mais abastados podem muito bem produzir a maior quantidade de lixo, porém é inconcebível que no próprio bairro haja o manuseio deste lixo para reciclagem, onde já se viu? Lixo é para estar na periferia, escondidinho debaixo do tapete para que ninguém possa ver.
É isso que vem acontecendo na cidade de São Paulo tanto com os catadores quanto com os moradores de rua, pois é melhor colocá-los longe das nossas vistas do que realmente solucionar os problemas ali existentes e que beneficiariam a todos, é melhor perseguir os mais pobres e não dar oportunidade a eles de trabalharem dignamente do que realmente pensar políticas públicas que os incluam e realmente os tirem das margens da sociedade.
O problema não é apenas a Cooperativa da Granja Julieta ou a Laíssa ter sua oportunidade de começar a faculdade adiada, estas duas situações são apenas exemplos do que acontece com diversas pessoas dia após dia nessa selva de pedra frígida que é São Paulo e sua administração.